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    Massacre em pres�dios

    Governo de SP 'exportou' PCC para outros Estados ao transferir presos

    ROG�RIO GENTILE
    DE S�O PAULO

    16/01/2017 02h00 - Atualizado �s 15h19

    Aurea Cunha/Gazeta do Povo
    ORG XMIT: 250101_0.tif Presos ocupam a parte de cima da cadeia p�blica da cidade de Foz do Igua�u (PR), onde mais de 400 detentos est�o rebelados no local. A Pol�cia Civil de Foz diz desconhecer liga��o de presos do ''cadei�o'' com a fac��o criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), mas disse que o local tem detentos de todo o pa�s. As 80 rebeli�es lideradas pelo PCC em unidades da capital e do interior de S�o Paulo desde 12 de maio de 2006 atingiram pelo menos 62% (77.388) dos presos do Estado, com 381 ref�ns. Esses n�meros se referem aos motins deflagrados em 71 pres�dios administrados pela Secretaria da Administra��o Penitenci�ria (SAP). Tamb�m houve rebeli�es em nove cadeias p�blicas, gerenciadas pela Secretaria da Seguran�a P�blica. (Foz do Igua�u, PR, 14.05.2006. Foto de Aurea Cunha/"Gazeta do Povo")
    Detentos em rebeli�o em 2006 em Foz do Igua�u (PR); Paran� recebeu transfer�ncias do PCC em 1998

    A organiza��o criminosa PCC surgiu em 1993 num pres�dio de seguran�a m�xima de Taubat�, no interior paulista. Cerca de 23 anos depois, possui ramifica��es em todos os Estados brasileiros, com mais ou menos for�a.

    O crescimento espantoso possui v�rias explica��es, mas n�o h� como ignorar o fato de que ele foi facilitado por uma pol�mica pol�tica de transfer�ncia de presos perigosos. S�o Paulo exportou o PCC para outras regi�es do pa�s.

    Segundo o Minist�rio P�blico de SP, em outubro de 2014, a fac��o tinha cerca de 10 mil criminosos afiliados, 26% deles fora do Estado. Hoje, quando trava uma guerra com outras quadrilhas para dominar rotas e monopolizar o tr�fico de drogas no pa�s, possui cerca de 21,5 mil "batizados", 64% deles para al�m da fronteira original.

    Os dados s�o naturalmente imprecisos, dada a �bvia dificuldade para apur�-los, mas incont�veis escutas telef�nicas mostram a inten��o estrat�gica da fac��o de se espalhar pelas cinco regi�es do Brasil –o PCC j� "batizou" cerca de 3,5% da popula��o carcer�ria, calculada em torno de 607 mil pessoas. Parece pouco, mas o n�mero � maior do que o total de funcion�rios da Volkswagen no Brasil (cerca de 16.000)

    MIGRA��O

    O in�cio do processo de migra��o do PCC, no entanto, foi estimulado irrefletidamente pelo governo paulista que, na tentativa de desarticular o movimento que ganhava for�a nos pres�dios do Estado, transferiu em 1998 os seus cabe�as para o Paran�, numa opera��o cercada de discri��o. "O efeito foi o contr�rio", diz o promotor Lincoln Gakiya, que atua na regi�o Oeste do Estado.

    Jos� M�rcio Fel�cio, o Gelei�o, e C�sar Augusto Roris da Silva, o Cesinha, estavam entre os transferidos.

    Fundadores do "partido do crime", Gelei�o e Cesinha incentivaram a cria��o do Primeiro Comando do Paran�, que logo mostrou sua face com tr�s rebeli�es. Atualmente, o Estado � um dos mais importantes bra�os da organiza��o.

    Marcola, o principal chefe da fac��o, assim como outros "capos", tamb�m passeou bastante pelos pres�dios do pa�s. Esteve no RS, em DF, GO, MG, circulando por v�rias penitenci�rias e disseminando a cartilha do PCC. Em Bras�lia, por exemplo, criou o PLD (Partido Liberdade e Direito), nome bonito para uma associa��o que chegou a carbonizar detentos inimigos durante rebeli�es.

    Rogerio Cassimiro - 8.jun.2006/Folhapress
    ORG XMIT: 041001_1.tif Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, l�der da fac��o criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital, chega para prestar depoimento para os deputados federais da CPI do Tr�fico de Armas, na penitenci�ria de Presidente Bernardes (SP). Por motivos de seguran�a os deputados tiveram que se deslocar at� o pres�dio. COTIDIANO - Marcos Camacho, Marcola, tido como lider da faccao criminosa PCC chega na sala onde foi ouvido por deputadas integrates da CPI das Armas. Por motivos de seguranca os deputadas se deslocaram de Sao Paulo para a penitenciaria de seguranca maxima de Presidente Bernardes para ouvir o detento sobre os atentados contra policiais no mes passado - 08.06.06 - foto: Rogerio Cassimiro/Folhapress
    Marcola, chefe da fac��o PCC, circulou por diversos Estados, como RS, DF, GO e MG

    O promotor Gakiya afirma que � dif�cil julgar hoje a decis�o das autoridades da �poca de transferir os detentos. "N�o sei se havia outras alternativas poss�veis.", diz.

    O procurador M�rcio Christino, que desde 1999 se dedica a combater a fac��o, pensa de outro modo. Para ele, o Estado deveria ter reprimido a organiza��o internamente, em vez de transferir o problema para outros lugares.

    "O pior � que S�o Paulo nem contou, de fato, quem estava mandando para l�", afirma. "A medida facilitou a expans�o do PCC."

    Hoje, existem 13 membros do PCC paulista em pres�dios federais e h� 16 pedidos de novas transfer�ncias.

    Gakiya e Christino, dizem, no entanto, que a realidade atual � diferente e defendem as transfer�ncias, uma vez que, segundo eles, os estabelecimentos federais s�o muito mais preparados do que os estaduais que costumavam receber os chef�es do tr�fico.

    Procurado pela Folha, Jo�o Benedicto de Azevedo Marques, secret�rio da Administra��o Penitenci�ria do ent�o governo Covas, n�o telefonou de volta, assim como o da gest�o atual, Lourival Gomes.

    'FILIAL' EM RORAIMA

    Roraima, onde no in�cio do m�s 33 presos foram mortos na Penitenci�ria Agr�cola de Monte Cristo, em Boa Vista, principal cadeia do Estado, � um bom exemplo de como pode ser nefasta a pol�tica ainda atual de enviar criminosos para outras regi�es.

    O promotor Marco Ant�nio Azeredo afirma que at� 2013 n�o havia nenhuma indica��o de que o PCC atuava no Estado, que faz fronteira com a Guiana e a Venezuela, rotas do tr�fico internacional.

    Naquele ano, por�m, depois de uma passagem por uma pris�o de Rond�nia, onde conheceu membros da organiza��o, Elivandro Ferreira, o Vandrinho, foi transferido de volta para Roraima e fundou a filial no Estado.

    Segundo a promotoria, hoje ela j� conta com cerca de 400 membros, muitos dos quais participaram do pavoroso massacre de 6 de janeiro.

    J� de acordo com um documento da Secretaria de Justi�a e Cidadania de 4 de janeiro deste ano, a fac��o come�ou com 50 homens em 2013 e, em 2016, j� tinha mais de 1.000 membros, "trazendo � tona novas lideran�as e uma nova reorganiza��o da cadeia hier�rquica do grupo criminoso".

    As ordens para a expans�o da organiza��o no Estado, segundo escutas obtidas em investiga��es, partiram de Oz�lio de Oliveira, um criminoso que ficou conhecido por ter participado, em 1998, do sequestro de Wellington Camargo, irm�o dos cantores Zez� di Camargo e Luciano, que ficou 94 dias em cativeiro e teve parte de sua orelha esquerda decepada.

    Apontado como o principal chefe do PCC em Roraima, Oz�lio de Oliveira nunca pisou no Estado. Comanda a fac��o de uma pris�o no Paran�.

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