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Lúcia Veríssimo faz sucesso como diretora de cinema na Europa

Anna Luiza Santiago

Lúcia Veríssimo (Foto: Reprodução)Lúcia Veríssimo (Foto: Reprodução)

 

Atriz disputada para novelas da Globo nos anos 1980 e 1990, Lúcia Veríssimo agora saboreia o sucesso atrás das câmeras. O documentário "Eu, meu pai e os cariocas", que marca sua estreia como diretora de cinema, foi eleito o melhor filme no In-Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical, em 2017, e levou o prêmio na edição deste ano do Festival Internacional de Cinema Brasileiro, em Milão:

- O filme também abriu o festival É Tudo Verdade, ano passado, no Brasil. Já passou pelo Chile, pela Espanha, por Portugal, pela Itália, pela Dinamarca, pelos Estados Unidos e pelo Canadá. E está indo para a Inglaterra. Sempre lota as salas. Ao final, as pessoas aplaudem durante vários minutos. Não importa o país: todos adoram o filme, acho que sobretudo porque trata de música.

O documentário conta a história da MPB desde os tempos da Rádio Nacional até os dias atuais, tendo como fio condutor a carreira do maestro Severino Filho, pai de Lúcia e fundador do grupo Os Cariocas, responsável pelo lançamento da Bossa Nova no país. Apesar da alegria pelo bem-sucedido projeto, Lúcia, que vive na Europa há dois anos, reclama da falta de reconhecimento no Brasil:

- O trabalho que eu faço tem muito mais chance de dar certo aqui. Grande parte do investimento para esse filme saiu do meu bolso porque não consegui apoio. Sabe por que não lanço no Brasil? Porque preciso do restante do dinheiro. É pouquíssimo, mas ninguém no Brasil quer dar. O dinheiro está sempre nos mesmos lugares, nas mãos das mesmas pessoas. Até que uma hora você cansa, enche o saco por nunca ser prestigiada. Fiquei em cartaz com um espetáculo durante cinco anos no Brasil e ninguém me dava bola. Não tenho espaço no meu país. Se estou em Milão, apareço em todos os jornais. Em Portugal, em todas as TVs. O Brasil não está nem aí para mim.

Lúcia, que fundou a produtora Canela em 1982, conta que tem outros três roteiros novos para o cinema, mas só vai tirá-los do papel no ano que vem, pois, até o fim de 2018, ainda estará viajando para promover o documentário em festivais.

- Jamais vou me aposentar. Gosto de trabalhar. Tenho buscado parceiros no mundo inteiro. Estou em fase de negociações e conversas. Estou bem no início de tudo por aqui. Nada é fácil em nenhum lugar do mundo, mas acredito mais do que ficando no Brasil. Enquanto as coisas não acontecem, vou escrevendo muito, lendo e estudando - explica ela, que nos últimos anos se dividiu entre Itália e Portugal, mas agora passará a viver definitivamente em Portugal.

Os fãs da atriz, de 60 anos, poderão revê-la na TV a partir de 2019, quando o Viva exibirá a reprise de "Roda de fogo", em que ela interpretou Laís Brandão.

- Foi um projeto superbacana, mas saí na metade da novela. Houve uma briga na época por causa de uma entrevista que eu dei e critiquei muita coisa. Eu e Paulinho (Ubiratan, diretor da novela) tínhamos uma relação de amor e ódio. Ele mandou que eu saísse da novela. Não fiz até o final, mas foi muito legal. Eu e Bruna (Lombardi) éramos irmãs na história. Nós somos muito amigas. Na época, mais ainda. A gente se divertia demais fazendo aquilo. Tarcísio (Meira) também foi um colega maravilhoso. Era a primeira novela do Felipe (Camargo). Um elenco incrível, escolhido a dedo. Todo mundo muito amigo. Isso nos dava prazer de ir trabalhar. Ríamos desde o momento em que chegávamos até a hora de sair. Por mais que as cenas fossem complicadas, a gente terminava às gargalhadas. Essa parte da briga foi chatíssima. Os atores foram incansáveis, fizeram abaixo-assinado pedindo para eu ficar. A Isabela Garcia fez uma confusão danada lá, Tarcísio e Renata (Sorrah) também. Todo mundo ficou comovido com aquela história. Acabou que voltei muito melhor em seguida - relembra ela, que depois fez "Mandala" e o "Salvador da Pátria", trama em que interpretou Bárbara e que considera uma das mais lembradas pelo público, além de "Despedida de solteiro".

Lúcia, porém, não gosta de rever antigos trabalhos.

- Nunca gosto de nada do que eu faço. Sempre acho que poderia ser diferente e melhor. Acho que é a minha visão de diretora. Acredito que não tive nenhum trabalho maravilhoso - afirma ela, que diz não ter abandonado completamente a carreira de atriz. - Mas só se receber um convite impossível de negar porque não é meu foco agora. Há muito tempo o foco tem sido dirigir, mas ninguém me dava espaço. Tive que fazer um filme para provar do que eu sou capaz, para ser premiada e, então, todo mundo me respeitar. Pelo menos fora do país.

Seu último papel na Globo em novelas foi em "Amor à vida", em 2013:

- Logo que terminei, comecei a rodar o filme. E não surgiu nenhum convite para atuar. Eu também não procuro. Já me perguntaram por que não procuro fulano ou beltrano. Nunca fiz isso durante toda a minha vida. Sou tão operária quanto meu pai. Ele, da música, e eu, da televisão. Não sou uma celebridade. Se me chamarem, eu vou. Durante muito tempo, fiz uma novela atrás da outra. Me ligavam, eu ia lá e gravava. Não existia essa história de ser amigo do autor ou do diretor. Não havia patotinhas. Sou de uma outra época. Mas também não estou preocupada. Sempre me virei e produzi minhas peças de teatro. Não fico parada nem caçando as pessoas para pedir papéis.

 

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