Crítica
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Por Patrícia Kogut


Bob Odenkirk no episódio final de 'Better call Saul' (Foto: AMC) — Foto:
Bob Odenkirk no episódio final de 'Better call Saul' (Foto: AMC) — Foto:

Encontros com figuras do passado e participações especiais, fatalismo, conformismo e também inconformismo. Sem querer dar spoiler na primeira frase do texto, o desfecho de “Better call Saul” teve um pouco de cada um desses elementos. Daqui para a frente, se não assistiu e quer evitar estragar as surpresas, leia depois.

Antes de continuar, vale observar que essa já é uma das melhores séries da década. Está concorrendo a prêmios importantes e merece todos. Nasceu como um spin-off de “Breaking bad” e terminou tão vigorosa e inovadora quanto ela. “Saul gone”, o episódio final da sexta temporada, amarrou e deu um lacinho perfeito na trajetória de sua figura central.

Saul Goodman voltou a se chamar Jimmy McGill. Essa retomada da identidade teve um sentido bem amplo. Saul era um nome fantasia. E o personagem abandonou também outras fantasias. Desistiu de tentar adotar um falso self. Abraçou com convicção a sua verdadeira natureza: a de desajustado social. Caiu em si que é esse o estado em que se sente melhor. Assim, o Jimmy que qualquer manual de psicanálise apontaria como alguém que se autossabota emergiu realizado.

Ele ficou confortável numa situação em que qualquer ser humano comum se sentiria mal: na cadeia, sem qualquer perspectiva de um futuro, sem esperança. À primeira vista, o capítulo pode até parecer moralista, afinal os fora da lei terminaram justiçados (pelo menos parte deles). Mas não foi nada disso. Jimmy não acabou castigado. Ao contrário, se libertou do esforço vão de subverter o que era seu destino: a desconformidade. Fez as pazes com sua índole.

O anti-herói lindamente interpretado por Bob Odenkirk, de quebra, projetou um recado romântico. Salvou a ex-mulher, Kim Wexler (Rhea Seehorn), da prisão. Mas não por redenção punitivista: o gesto evidenciou mais uma faceta de sua personalidade cheia de contradições. É esse caráter multidimensional que o torna um dos mais monumentais personagens das séries nos últimos tempos.

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