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Por Thierry Gozzer e Roberto Maleson* — Rio de Janeiro

Fundador e ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson é peça central na Operação "Unfair Play", da Polícia Federal, desdobramento da Lava Jato que apura a compra de votos pela candidatura brasileira para a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Por vontade própria, ele delatou ao Ministério Público Francês e outras entidades do Brasil e internacionais o que soube sobre pagamentos a Lamine Diack, membro do COI.

Segundo texto do Ministério Público Federal, Maleson se apresentou às autoridades francesas em 4 de março de 2016 para iniciar a delação. Ele teria ficado sabendo de uma viagem de Nuzman para tratar da compra de votos em julho de 2009.

- […] durante o mês de julho de 2009, uma delegação brasileira, nomeadamente composta por Carlos NUZMAN e Ruy Cesar Miranda Reis (Miranda REIS), ajudante dos esportes na Prefeitura do Rio de Janeiro, se tinha deslocado a ABUJA (Nigéria) para apresentar a candidatura do Rio de Janeiro aos países africanos. Alguns meses mais tarde, quando se encontrava no Rio de Janeiro na companhia de Miguel PEREZ, secretário-geral da federação brasileira dos esportes de gelo, se tinha encontrado com Ruy Cesar Miranda REIS que lhe tinha indicado que o encontro se tinha passado bem e lhe tinha feito compreender que o dinheiro tinha sido pago - diz o texto do MPF

Eric também responde por questões na Justiça. Em 2012, ele foi afastado da presidência da CBDG por suspeitas de fraudes e má administração. Atualmente CEO da entidade, Matheus Figueiredo diz que, além disso, Maleson ficou com materiais da confederação, como pedras de curling e trenós de bobsled. Desde então, eles tentam reaver, com pedidos de reintegração de posse, mas não conseguem localizar Eric. Residindo nos EUA, Maleson diz ter sido vítima de perseguição.

- O Nuzman transformou o COB em uma empresa de negócios dele, pessoal dele. O COB não é mais um Comitê Olímpico do Brasil, é uma empresa de negócios. O escândalo dos votos é apenas um. Se você entrar na folha de pagamento do COB, Jogos Pan-Americanos de 2007, campo de golfe, precisaria de três, quatro horas, para falar de tudo. É preciso fazer um novo COB, com atletas, técnicos, confederações, federações, mas um novo COB para todos e não para um grupinho de pessoas que querem se dar bem fazendo eventos internacionais e marketing - diz Maleson.

GloboEsporte.com: Você procurou apenas as autoridades francesas, ou também as brasileiras?
Eric Maleson:
Eu não posso entrar nos detalhes, mas como você sabe, o COB e o COI são entidades em países diferentes. É um movimento olímpico internacional. Não dava para envolver só o Brasil. Foi um somatório de ações e isso não começou agora, vem há anos acontecendo. Esses escândalos não começaram agora, e sim em 2007. Não dá para fazer uma investigação dessas só com autoridades brasileiras. Procurei ambos. Estamos em um momento muito delicado dentro do COB. No momento, a imagem do Brasil fora, do movimento olímpico, está desgastada. Se você parar para analisar e olhar a fundo o COB agora, o Comitê Organizador deixou um legado zero e uma dívida de mais de R$ 150 milhões. Quem vai ter que pagar é o povo do Rio com seus impostos.

Mas você procurou as autoridades francesas por achar que no Brasil a situação não andaria?
Procurei as autoridades brasileiras, sim. Apesar de em um primeiro momento não ter andado como eu queria, com as mudanças que aconteceram no Brasil, as coisas foram andando. O Brasil organizava os Jogos Olímpicos. Iam pensar duas vezes antes de estragar o espetáculo. Você precisa esperar um pouco. Mas não sei porque que eles demoraram tanto. Uma coisa é certa. Eles precisam de tempo para fazerem investigações. Uma mensagem que queria deixar é que chegou a hora de o COI fazer uma intervenção séria no COB, para convocar novas eleições e limpar a casa.

Eric Maleson ajudou na denúncia — Foto: Reprodução/MPF

E você também procurou o Comitê Olímpico Internacional, certo?
Enviei cartas desde o Rogge (Jacques, ex-presidente do COI), prevenindo que iríamos chegar a um ponto em que seria vergonhoso. O dia chegou. Eles responderam essas cartas, dizendo que estava na mesa do Rogge, e a mesma coisa com o Thomas Bach, atual presidente. Enviei uma carta nesta terça-feira, e vou colocar uma cópia na mídia pedindo ao COI mais uma vez, pela terceira vez, uma intervençao no COB. Se não intervierem, o governo brasileiro vai. Se não o fizer, o COI será negligente. Estou abrindo a caixa-preta e, como estão abrindo, novas coisas podem surgir.

Quão importante você acredita que a sua delação foi?
Tenho uma história, fui atleta olímpico, depois presidente de confederação por 13 anos, participei das Assembleias do COB, sou lá de dentro, sabia o que acontecia lá dentro, posso falar. Eu conheci todos os 30 presidentes de confederação. Conversávamos sobre as situações. Metade estava com o Nuzman, outra metade não. Muitos queriam mudar, mas tinham medo. A retaliação vem forte, de várias formas. Mas, não é surpresa de que chegamos a esse ponto. É vergonhoso.

Você foi afastado da presidência da CBDG em 2012, com suspeitas de fraudes e má administração.
Fui vítima. Por que você acha que me tiraram? (do cargo de presidente da CBDG). Eu fui o mais combatente. Uma pessoa que mora no Brasil teria mais medo de ser atacado. Sofri muito com os ataques que ele (Nuzman) fez na imprensa. Tentou denegrir minha pessoa fora do país, não conseguiu. Quem me conhece sabe como administro as coisas. Sabe a minha personalidade. Sabe que não me envolvo com coisa ilícita. Estou tranquilo.

Eric Walther Maleson e a equipe brasileira na Olimpíada de Inverno de 2002 — Foto: Reprodução/Facebook

Para você existem irregularidades no COB?
Desde após os Jogos Pan-Americanos de 2007. Pipocaram irregularidades na imprensa, na Vila Pan-Americana. Nas Assembleias, os presidentes começavam a conversar, preocupados. Nós nos falávamos. Quem falava, qualquer presidente que fosse na imprensa, caía. Era afastado, perdia o cargo. Alguma coisa acontecia. Isso já vem desde 2007. Era para ter acontecido algo lá. Não foi feito nada. O Brasil concorreu aos Jogos, ganhou. E vários escândalos, durante o processo do Rio de Janeiro, estouraram na imprensa. Sabia que ia chegar nesse ponto.

Você chegou a conhecer o Rei Arthur, uma outra ponta da Operação Unfair Play?
Não conheço ele, não sei dele. Quem eu conheço, por ter sido parte do Comitê, é o Nuzman.

Não te resta dúvida de que houve compra de voto?
Não há dúvida. A operação já foi feita. Deixa as autoridades fazerem o trabalho delas.

Você teme pela sua segurança após a delação?
Eu não tenho medo. Estou tranquilo. Porque o que acontece é que a pior coisa que você pode fazer é ter medo e não fazer nada. Chega uma hora em sua vida que você precisa tomar uma atitude. Tomei anos atrás. Eu não me arrependo. As pessoas que fizeram as coisas erradas têm a consciência pesada. Se quiserem revidar, estou preparado e muito tranquilo. Já era hora.

Quem é Eric Walther Maleson
Fundador e ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson nasceu no Rio de Janeiro e tem uma vida ligada ao esporte. Em 1996, fundou a CBDG e foi o primeiro piloto brasileiro de bobsled na Olimpíada de Inverno de 2002, em Salt Lake City, nos EUA. Fez carreira em entidades de esportes, sendo membro do Comitê de Desenvolvimento da Federação Internacional de Luge e da Corte Arbitral da Federação Internacional de Bobsled e Skeleton. Também foi também foi Vice-presidente de Comunicações da Federação Internacional de Bobsled e Skeleton. Foi o primeiro atleta a conduzir a Tocha Olímpica de inverno no revezamento de Salt Lake City. Como atleta, ganhou três medalhas de bronze na Copa América de Bobsled em 2000, 2001 e 2002.

*O repórter Roberto Maleson é primo de Eric Maleson

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