• 19/02/2015
  • Por isabel junqueira; de Paris; fotos André Batista e divulgação
Atualizado em
Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Uma das 25 suítes do hotel La Réserve, que abriu este mês

Paris é um museu a céu aberto. Se depender dos moradores e das rígidas regulações urbanísticas, a cidade continuará quase intocável – a torre Projet Triangle, dos Herzog & de Meuron, foi embargada e, por pouco, Frank Gehry não pôde construir a Fondation Louis Vuitton. Aqui, projeto novo, para ser bem visto, precisa se apropriar do passado. É o caso de hotéis recém-inaugurados, como o Peninsula, que abriu num prédio belle époque, de 1908, e o Molitor, instalado ao redor da piscina art déco mais querida pelos parisienses – de 1931, estava abandonada desde os anos 1980. Decorado por Jacques Garcia com móveis do século 19, o La Réserve abrirá no fim de fevereiro em um edifício de 1854, com direito a vista para o Grand Palais. O mítico clube Castel ganhou nova ambientação, por André Saraiva: responsável pelos carpetes cheios de desenhos de órgãos sexuais, o artista festeiro convidou o ilustrador Jean-Philippe Delhomme para criar afrescos que representassem personagens da noite de Paris.

Ledo engano achar que a dinâmica de Paris permanece na mesmice. O projeto Berges de Seine, por exemplo, transformou vias às margens do Sena em áreas para pedestres, onde multidões podem aproveitar shows, cinema ao ar livre, aulas de ioga, piqueniques em jardins flutuantes e até um dance floor, aberto embaixo da Pont de La Concorde.

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Sala do secular cinema Louxor

Saint-Ouen não fugiu do radar de colecionadores, mas o subúrbio com a maior concentração de antiquários ganhou segunda vida desde que Philippe Starck abriu o restaurante Ma Cocotte, na entrada dos mercados de pulgas de Paul Bert e Serpette. O programa por ali inclui uma passada obrigatória pelo Cour Vintage, onde foi inaugurada uma filial da L’Eclaireur, de velas e aromas, e a primeira Habitat 1964 de Paris. Desde o verão passado, a diretora artística Violaine Carrère também vem causando frisson com sua imaculada concept store Le White: a seleção de móveis, objetos e obras de arte – tudo branco – é itinerante e, no momento, está alojada em Montmartre, pertinho do Louxor, lendário cinema de 1902, com estilo neoegípcio que acaba de ser restaurado e receber um bar voltado para a Sacre-Coeur.

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Hall de entrada do hotel Molitor

Se a procura é por mobiliário exclusivo, vale visitar o studio Ymer & Malta, com exposições cujo fio condutor é sempre uma matéria-prima ou técnica tradicional, incentivando o artesanato francês. A mostra atual, com peças de nomes como Sebastian Bergne, Cedric Ragot e A+A Cooren atualiza a prática da marchetaria e só pode ser visitada com hora marcada. Para explorar melhor essa área, fique hospedado no Hôtel du Temps, com charmosérrimo décor assinado pela estilista Alix Thomsen.

O projeto La Jeune Rue (veja mais no intertítulo abaixo) atraiu atenções para o Haut Marais. Tome um drinque no bar escondido atrás da taqueria Candelaria ou peça um café na multimarcas Broken Arm e entenda por que este é o place to be. Pertinho dali, não deixe de conferir o novíssimo Comptoir Général, mix de restaurante e loja de artigos made in Africa. Na galeria Patrick Seguin é possível comprar Jean Prouvé e Le Corbusier originais de época. A região também abriga o cultuado Clamato, bar de tapas de frutos do mar.

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Instalação feita para o projeto Berges de Seine

Não pense, no entanto, que o centro da cidade perdeu a graça. No número 14 da rue Faubourg Saint-Honoré, compre roupas de cama bordadas à mão da Vis-à-Vis Paris. Se a rive gauche continua cheia de novidade, a badalada decoradora Sarah Lavoine escolheu a rue du Bac para abrir a Bac, sua loja com objetos e móveis garimpados a dedo.

As mais de cem cores dos guardanapos de linho e as louças chics de Muriel Grateau ainda conquistam fãs: um dos mais fiéis era Steve Jobs, que sempre encomendava um serviço todo branco. Ano passado, o simpático decorador Guillaume Excoffier levou sua Guillaume Store para o coração de Saint-Germain. A boutique, com projeto de Rafael de Cárdenas, oferece uma mistura irresistível de acessórios desde o século 18 até atuais. Por trás da Maison M só poderia ter a mente de uma jornalista: a proprietária Caroline Tossan-Covillard prepara as vitrines com chamadas de capas de revista. No caminho, não se esqueça de comer um éclair na pâtisserie Thoumieux, do chef Jean-François Piège, um lugar para atiçar o paladar e os olhos – o espaço foi pensado por ninguém menos que India Mahdavi. Décor, ma chère, é em Paris.

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

A entrada do hotel Peninsula

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Aparador de Benjamin Graindorge para a Ymer & Malta

Lazer Viagem: Paris (Foto: Divulgação)

A concept store Le White, só com peças brancas

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: André Batista)

O restaurante Clamato

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Bowls de Muriel Grateau

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

A loja Bac, com itens garimpados por Sarah Lavoine

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: André Batista)

A recém-inaugurada Comptoir Général

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: Divulgação)

Roupa de cama bordada à mão da Vis-à-Vis Paris

Juventude interrompida
Há um ano, a notícia causou furor em Paris: o até então desconhecido empresário Cédric Naudon comprou 36 restaurantes e lojas em torno da rue Vertbois, no Haut Marais, e batizou o coletivo de estabelecimentos como La Jeune Rue. O projeto previsto para maio de 2014 tinha como objetivo misturar “le beau et le bon”. Os espaços – que incluiriam um cinema, galerias de arte e endereços gastronômicos – seriam assinados por um time de peso: Tom Dixon, irmãos Campana e Vincent Darré, entre outros. La Jeune Rue, porém, mal virou realidade. Apenas quatro restaurantes foram abertos até hoje, caso do coreano Ibaji (abaixo), projetado por Paola Navone. Para piorar a situação, o banco BPI, principal investidor dessa iniciativa, anunciou que está fora do jogo – aparentemente, a reputação de Naudon não é das melhores. Agora é esperar os próximos capítulos.

Lazer Viagem: Giro de décor em Paris (Foto: André Batista)

Fachada da Ibaji


* Matéria publicada em Casa Vogue #353 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)