• 05/02/2016
  • por Costanza Rizzacasa D'orsogna; fotos Max Rommel
Atualizado em
Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

A presença marcante do mármore define o majestoso hall de entrada da casa, seja no piso, no corrimão e nos degraus da escadaria, seja nas estátuas neoclássicas que Armani recuperou após encontrá-las em ruínas no jardim, ao adquirir a propriedade

"Nesta casa, minha mãe sempre viveu dias de alegria. Ela amava a amenidade, as cores
suaves, a luz. Quando estive mal, ficar aqui me fez senti-la mais próxima, me ajudou a recuperar as forças. Antes, eu me sentia um hóspede na minha própria casa; em Broni descobri o prazer de estar com minha família e meus bichos. Até porque neste lugar existe um silêncio verdadeiro. Tudo tem um ritmo mais lento, mais informal.”

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Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Cadeiras provenientes do restaurante Doné, de Florença, rodeiam a mesa de jantar oval, mesmo formato da pintura do séc. 19 na parede – cavalo de balanço do séc. 18

De todos os imóveis que Giorgio Armani possui pelo mundo, de Engadina a Saint-Tropez, Pantelleria, Nova York, Forte dei Marmi e Antígua, este, na região de Pavia, é o seu refúgio. A casa onde permanece por longos períodos depois do apartamento em Milão, onde festejou tantos aniversários e o casamento da sobrinha Roberta. São 2.360 m², mais 400 m² do anexo, 15 hectares de parque que se estendem até as colinas. No interior, uma divisão tradicional dos espaços, com a grande escadaria de mármore, a copa, a sala com lareira, a cozinha e a área de serviço no porão, a escada para o jardim.

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Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Um dos maiores orgulhos de Giorgio Armani é a exuberante paisagem verde do parque que circunda esta casa, em Broni

Ali, cabras, cavalos, vacas, cervos, galinhas-d’angola, asnos, papagaios e até alpacas; um pequeno templo de inspiração neoclássica invadido pelas glicínias, um lago com um salgueiro-chorão que remonta à Reggia di Caserta. O estábulo transformado em escritório: “É mais fácil trabalhar quando o único barulho que ouvimos de fundo é o canto dos pássaros. Esta casa tem efeito quase hipnótico. É como mergulhar no passado.” Esta e outras impressões o próprio Signor Armani conta nesta entrevista.

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Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Uma escultura tailandesa de lutadores do séc. 19 e objetos orientais decoram a mesa de centro do living – a tela com imagem de Veneza sobre a lareira foi garimpada num mercadinho da região

Como encontrou a casa? Foi por acaso, no início dos anos80. Nem sempre eu estava com vontade de ir a Pantelleria ou a Forte dei Marmi, apesar de amar profundamente o mar. Procurava um casarão de campo, simples e aconchegante para os fins de semana. Rodava havia horas com uns amigos quando de repente apareceu essa “pequena Versalhes”. Fiquei muito tentado a entrar. Descobri que estava abandonada e que os herdeiros do proprietário, o conde Cella, pretendiam vendê-la. Uma semana depois, a casa era minha.

Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

A passagem da sala de jantar para o living, no térreo, se dá por uma porta de madeira com moldura de folha de ouro, do séc. 18

Em que estado estava? Por fora, ela estava em ruínas – estátuas neoclássicas desmoronando
em meio a um jardim selvagem. Aquelas que estavam em melhores condições foram salvas e
agora acolhem os hóspedes lá dentro. Os banheiros eram maravilhosos, com mármores de diversos tipos e cores. Optei por manter esse aspecto insólito da casa, construída nos anos 50 e inspirada em uma mansão do século 18 não muito longe dali.

  (Foto: Max Rommel )
Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

O branco industrial domina a cozinha, com direito a batedeira da KitchenAid

O senhor a reformou pessoalmente? Eu sempre me ocupo das minhas casas: é o prazer que me motivou a encarar profissionalmente o design de interiores. Na primeira reforma, entretanto, senti a necessidade de uma perspectiva feminina e solicitei à arquiteta Gabriella Giuntoli que me ajudasse na escolha das cores. Broni aflora o meu lado burguês, mas vivendo-a intensamente me permiti enxergar outros horizontes, com direito a pequenas estátuas e objetos orientais além de inspirações dos anos 30 e 40, a minha verdadeira paixão. A princípio, a mantive como era, tanto na parte estrutural quanto na decoração. Depois, intervim pintando as paredes com tons que acariciam a luz e inserindo lareiras, mesas de centro, sofás confortáveis e lambris. Recentemente, iniciei um amplo remanejamento dos interiores, refazendo tapeçaria, cortinas,
vidros e piso – o acréscimo consciente de um toque urbano, prático. O estilo da construção,
porém, e suas cores e superfícies, permaneceram intactos.

Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Fachada da construção, erguida nos anos 1950, mas inspirada numa mansão do séc. 18

Um estilo que, diga-se, é muito diferente do que aprendemos a conhecer como “estilo Armani”. Mais opulento, menos minimalista. Preferi dar uma ideia de leve solenidade, brincando com esta espécie de grandeur do século 18 e, ao mesmo tempo, mergulhar
os espaços mais íntimos em uma simplicidade típica de casa lombarda. Dois aspectos
que aparecem também no meu trabalho – muitos móveis são Armani Casa.

Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Outro ângulo da sala de estar

De que modo a casa fala do senhor? Na primavera e no verão, estou sempre ao ar livre.
Vou ao pomar, ver os animais, relaxo na piscina aquecida de água salgada, jogo bocha. Broni
é uma espécie de sonho, de teatro no qual entro em uma atmosfera bastante diferente da minha
habitual. Reencontro-me em cada espaço, me lembro de quando eu era criança. Cresci
em Piacenza durante a guerra: não tinha muitos brinquedos, mas imaginação não me faltava.
E o que mais me recordo são dos dias no campo, os banhos de rio. Escolhi este local para resgatar os lugares da minha memória, o espírito e a ternura da infância.

Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

O estilo dos dormitórios é mais clean e traz referências de outras épocas

Venderia este refúgio algum dia? Não penso em vender nenhuma das minhas casas. Elas são o espelho dos meus gostos e da minha vida.

*Matéria publicada em Casa Vogue #365 (assinantes têm acesso à edição digital da revista) 

Casa Giorgio Armani (Foto: Max Rommel)

Giorgio Armani com seu cão