• 16/10/2015
  • por Cristina Dantas; fotos Cristiano Mascaro
Atualizado em
Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Cadeiras de Patricia Urquiola, da B&B Italia, rodeiam a mesa de jantar elíptica desenhada por Ruy Ohtake – flutuando sobre ela, móbile de Julio Le Parc e, ao fundo, na parede, obra cinética de Heinz Mack

"A sua casa é um abraço”, disse o arquiteto Ruy Ohtake ao entregar o projeto para a galerista Nara Roesler. E ela percebeu do que se tratava. A sinuosa parede no térreo envolve o living para terminar junto à mesa de jantar – ali, ela se eleva até os rasgos de vidro que interrompem o concreto para que a luz faça o seu trabalho. Acima da mesa, igualmente idealizada pelo arquiteto, uma claraboia permite que o sol incida sobre o móbile do artista argentino Julio Le Parc, desenhando as paredes com as sombras dos quadradinhos de acrílico que se balançam ao sabor do vento.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

A galerista Nara Roesler fotografada em seu living, diante de uma de suas obras preferidas, de Julio Le Parc – à dir., vê-se parte de um trabalho de Leonílson

A amizade antiga entre os dois deu ao autor essa facilidade para traduzir uma pessoa em obra arquitetônica: Nara Roesler tem essa natureza acolhedora que o lugar exibe. A arte cinética, sua preferida, está presente em vários ambientes jogando cor nas paredes, dando-lhes movimento, valendo-se das entradas estratégicas de luz natural. Ohtake sabia disso e fez uma residência sob medida.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Living e sala de jantar ocupam o mesmo volume de paredes curvas no térreo, divididos informalmente pelo sofá preto de Francesco Binfaré, da Edra, e pela escultura vermelha suspensa de Hélio Oiticica – na parede ao fundo, a claraboia joga luz sobre obras de Tomie Ohtake (azul), Vik Muniz, Brígida Baltar e Heinz Mack

A antiga morada da marchand, em um bairro mais afastado da capital paulista, era ainda maior do que esta que ela estreou há menos de um ano. Ohtake gostou do novo endereço: “Antes era preciso passaporte para ir até a sua casa”, ele costuma dizer à amiga, que conta a blague aos risos. Hoje ela está mais próxima também da galeria, uma sorte e tanto para quem reside em São Paulo.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Vista panorâmica do living revela mais exemplares da coleção de Nara: a partir da esq., obras de Leonílson, Abraham Palatnik (sobre pedestal), Hélio Oiticica, Antonio Dias (ao centro), Olafur Eliasson e Tomie Ohtake – sofás de Vico Magistretti (à esq.) e Jader Almeida, na Micasa (ao centro), mesa de centro componível de Jorge Zalszupin, da Etel, e tapete de Lina Miranda, da Square Foot

Quando a obra já ia pela metade, um dos cinco filhos de Nara sugeriu uma pequena raia no terceiro pavimento, que ela chama de cobertura. A parede do fundo, onde o concreto ocupa pé-direito duplo, teve de ser reforçada para comportar a novidade. Mas valeu a pena, especialmente pelos sete netos, que vivem na cidade. Aos domingos, a família se reúne ao redor da mesa elíptica ao estilo Ohtake, mais larga em uma das pontas.

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“As pessoas ainda estão vindo conhecer a casa”, ela conta com o sotaque pernambucano que omite o artigo antes de um nome próprio. “Ontem fiz um almocinho para dez amigas e elas adoraram o projeto de Ruy”, diz, dando uma boa pista de que, em se tratando de gente querida, mesmo uma multidão pode receber tratamento de petit comité.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Detalhe da sala de jantar contrapõe o móbile de Julio Le Parc à abertura esculpida no concreto pelo desenho de Ruy Ohtake

E é mesmo difícil não se sentir bem em um espaço orgânico e fluido como esse. As curvas da construção cedem pouco aos ângulos retos. Até o corrimão vai serpenteando escada acima, ao passo que as cores mudam diante dos olhos. No segundo pavimento, o quarto de hóspedes é verde, enquanto o de Nara é azul – e a cabeceira da cama dá para a janela, de onde ela vê a copa das árvores.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Arte de renome já na entrada da casa: ladeada por uma escultura suspensa de Artur Lescher e uma tela de Julio Le Parc, a obra luminosa de James Turrell tinge de vermelho o piso do hall.

Mais um lance de escada (ou um andar pelo elevador) e você está em um ambiente lúdico. No centro, uma sala de TV das mais convidativas. De um lado, ela se abre para a pequena raia e, do outro, para um jardim. A natureza é importante para a dona, tanto quanto as obras de arte. Design também é uma de suas paixões, tanto que, antes de ser galerista, ainda em Recife, ela teve uma loja de mobiliário que expôs, em 1981, dois jovens então desconhecidos, os irmãos Campana.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

A cozinha com mobiliário da Securit tem o “maior armário da América Latina”, como brinca Ruy Ohtake

A galeria que abriu em São Paulo, onde se radicou nos anos 1980, representa nomes de peso. E boa parte está em seu lar, de Hélio Oiticica a Abraham Palatnik e Olafur Eliasson. Na ala de lazer, onde fica a TV, fotos de Cao Guimarães cobrem a parede perto do teto. O espaço, que possui pia e fogão, por ora está sem a geladeira. Nara escolhe sem pressa, espera chegar ao mercado mais opções coloridas. “Não posso colocar uma geladeira branca aqui”, diz. E dessa vez não é brincadeira.

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Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Área de lazer, na cobertura, com fotos de Cao Guimarães e itens de arte popular próximos da TV, sofá da Lema, na Firma Casa, móvel colorido dotado de pia e fogão e, lá fora, poltronas de Tord Boontje para Moroso, na Micasa

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

A pequena e escultural raia, também na cobertura

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Nara Roesler junto à obra de Laura Vinci no jardim – desligada, é uma placa metálica; uma vez ligada, é como se congelasse

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Recortes e cores fortes na fachada: uma prévia do que se verá dentro da casa, que Nara Roesler define como “uma escultura aconchegante

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Um nicho azul aberto no concreto, próximo à entrada, exibe uma escultura pré-colombiana, ladeada por outra, contemporânea, de Artur Lescher (à dir.) – a obra vermelha ao fundo é de Hélio Oiticica

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Passada a entrada, quem olha para o living vê duas obras em preto e branco de Julio Le Parc (à esq. e ao fundo), uma tela de Leonílson (à dir.), uma escultura branca de Laura Vinci, sofás de Vico Magistretti e mesa de centro de Ruy Ohtake

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

O lavabo é um pequeno espaço com ares noturnos, graças a uma pia curva e pontos de luz no teto, como um céu estrelado

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

A casa também é uma escultura e oferece lampejos de arte a cada ângulo – da cozinha, se vê a mesa de jantar de Ruy Ohtake e o quadro de Vik Muniz

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

Vista da sala, a abertura que dá para a cozinha compõe a parede em conjunto com o escultural rasgo no concreto acima e com a obra de Heinz Mack

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

O acesso às áreas íntima e de lazer é feito pela escada – uma viagem cromática levada por um corrimão escultural

Casa Nara Roesler Ruy Ohtake (Foto: Cristiano Mascaro)

No quarto de Nara ficam obras que artistas fizeram especialmente para ela, como o quadro de Brígida Baltar acima da cabeceira da cama – gaveteiro na Firma Casa e luminária pendente de Ingo Maurer, presente de um dos filhos