Casas
A casa de concreto da galerista Nara Roesler
Projeto de Ruy Ohtake se abre para a natureza
3 min de leitura"A sua casa é um abraço”, disse o arquiteto Ruy Ohtake ao entregar o projeto para a galerista Nara Roesler. E ela percebeu do que se tratava. A sinuosa parede no térreo envolve o living para terminar junto à mesa de jantar – ali, ela se eleva até os rasgos de vidro que interrompem o concreto para que a luz faça o seu trabalho. Acima da mesa, igualmente idealizada pelo arquiteto, uma claraboia permite que o sol incida sobre o móbile do artista argentino Julio Le Parc, desenhando as paredes com as sombras dos quadradinhos de acrílico que se balançam ao sabor do vento.
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A amizade antiga entre os dois deu ao autor essa facilidade para traduzir uma pessoa em obra arquitetônica: Nara Roesler tem essa natureza acolhedora que o lugar exibe. A arte cinética, sua preferida, está presente em vários ambientes jogando cor nas paredes, dando-lhes movimento, valendo-se das entradas estratégicas de luz natural. Ohtake sabia disso e fez uma residência sob medida.
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A antiga morada da marchand, em um bairro mais afastado da capital paulista, era ainda maior do que esta que ela estreou há menos de um ano. Ohtake gostou do novo endereço: “Antes era preciso passaporte para ir até a sua casa”, ele costuma dizer à amiga, que conta a blague aos risos. Hoje ela está mais próxima também da galeria, uma sorte e tanto para quem reside em São Paulo.
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Quando a obra já ia pela metade, um dos cinco filhos de Nara sugeriu uma pequena raia no terceiro pavimento, que ela chama de cobertura. A parede do fundo, onde o concreto ocupa pé-direito duplo, teve de ser reforçada para comportar a novidade. Mas valeu a pena, especialmente pelos sete netos, que vivem na cidade. Aos domingos, a família se reúne ao redor da mesa elíptica ao estilo Ohtake, mais larga em uma das pontas.
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“As pessoas ainda estão vindo conhecer a casa”, ela conta com o sotaque pernambucano que omite o artigo antes de um nome próprio. “Ontem fiz um almocinho para dez amigas e elas adoraram o projeto de Ruy”, diz, dando uma boa pista de que, em se tratando de gente querida, mesmo uma multidão pode receber tratamento de petit comité.
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E é mesmo difícil não se sentir bem em um espaço orgânico e fluido como esse. As curvas da construção cedem pouco aos ângulos retos. Até o corrimão vai serpenteando escada acima, ao passo que as cores mudam diante dos olhos. No segundo pavimento, o quarto de hóspedes é verde, enquanto o de Nara é azul – e a cabeceira da cama dá para a janela, de onde ela vê a copa das árvores.
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Mais um lance de escada (ou um andar pelo elevador) e você está em um ambiente lúdico. No centro, uma sala de TV das mais convidativas. De um lado, ela se abre para a pequena raia e, do outro, para um jardim. A natureza é importante para a dona, tanto quanto as obras de arte. Design também é uma de suas paixões, tanto que, antes de ser galerista, ainda em Recife, ela teve uma loja de mobiliário que expôs, em 1981, dois jovens então desconhecidos, os irmãos Campana.
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A galeria que abriu em São Paulo, onde se radicou nos anos 1980, representa nomes de peso. E boa parte está em seu lar, de Hélio Oiticica a Abraham Palatnik e Olafur Eliasson. Na ala de lazer, onde fica a TV, fotos de Cao Guimarães cobrem a parede perto do teto. O espaço, que possui pia e fogão, por ora está sem a geladeira. Nara escolhe sem pressa, espera chegar ao mercado mais opções coloridas. “Não posso colocar uma geladeira branca aqui”, diz. E dessa vez não é brincadeira.
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