• 06/01/2015
  • Por Cristina Dantas; Estilo Adriana Frattini; Fotos Ron Pen
Atualizado em
Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Aparador da Oficina de Agosto, de Tiradentes, MG, recebe dois vasos marroquinos vindos de Nova York

O casario de Paraty guarda mais do que a história de uma arquitetura. Ali visitamos fachadas, cores, beirais e séculos. O ouro se foi, ficou o registro de nascimento de uma cidade. A residência que Jorge Elias ergueu na Praia de Laranjeiras foi buscar esse registro e dar-lhe corpo, com respeito e deferência. Ele a define como uma “casa de pescador revisitada”. E isso se nota nas janelas de batentes brancos, na estrutura aparente, na varanda que se esparrama diante do oceano, nas cores que se replicam em todos os espaços.

Deixando entrever os 500 m² e seis quartos – dois no térreo e quatro no piso superior –, a fachada não foge ao testamento arquitetônico do lugar. “Os vários movimentos do telhado são como os das moradias da região”, comenta o arquiteto. Chegando mais perto, as reverências se revelam nas minúcias: as telhas de demolição vieram de uma fazenda de Minas Gerais; o piso de cimento e mármore travertino, que cobre todas as áreas do lar, ganhou a companhia do ladrilho hidráulico, desenhado em amarelo, terracota e azul, as cores que permeiam a construção, como uma costura – um bordado.

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

No living, sofás da George Smith revestidos com tecido da Entreposto, mesa de centro tailandesa e poltrona de couro – peça preferida do morador

Algumas peças de mobiliário foram adquiridas em Nova York, e boa parte das brasileiras são itens de antiquariato. Jorge Elias enfatiza que “o projeto foi feito a seis mãos”, lembrando que o casal de proprietários, que tem nas coleções um hábito de velhos tempos, participou ativamente das escolhas. Na casa que dividem com os filhos e amigos, móveis e objetos são de boa estirpe, como a grande mesa em estilo D. Maria – o lugar das refeições na varanda – e o balcão de farmácia do século 18, que ocupa uma das paredes da sala de jantar. Sobre ele, seguindo a tradição religiosa local, um oratório com a imagem de Santana Mestra, igualmente do século 18, é ladeado por palmas vindas da Oficina de Agosto, da cidade mineira de Tiradentes.

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Colunas têm como adorno conchas das praias de Paraty. “Um toque naïf ”, comenta o autor do projeto. Também pode soar quase naïf a cama com suportes nus para dossel em um dos quartos do térreo. Pois esse leito é a releitura de uma peça colonial, estilo D. Maria, referência que o arquiteto buscou em aquarelas de Debret nos arquivos públicos do Rio de Janeiro. A simplicidade, aqui, é fruto da mais pura nobreza.

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

A sala de jantar traz peças mineiras do séc. 18: o oratório, a mesa e o balcão de farmácia, que faz as vezes de aparador – palmas da Oficina de Agosto e cadeiras desenhadas pelo arquiteto

Os sofás que ocupam o living, comprados em Nova York e revestidos com tecido rústico cru, são a própria expressão do conforto. O que não é confortável, já ensinava Gabrielle Chanel, não pode ser elegante. Entre os estofados aparece ainda uma poltrona de couro – a cadeira do dono da casa – que veio especialmente para Laranjeiras. É onde o morador lê os jornais, devidamente acomodado, pés apoiados na banqueta.

Com tantos elementos a serem orquestrados, pesquisas em registros históricos, garimpos por cidades coloniais e bons antiquários, além dos itens comprados no exterior, a residência consumiu um ano e meio de trabalho, do arquiteto e dos moradores. Ficou tão preciosa que merecia um presente. Recebeu dois: uma escultura de Alfredo Ceschiatti, que ganhou lugar junto à piscina, e outra de Frans Krajcberg, exposta em uma das paredes do living. Mas diga se ela não mereceu.

Matéria publicada em Casa Vogue #352 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

As linhas da piscina levam o olhar para a fachada, onde revelam-se as cores presentes em toda a casa: terracota, amarelo e azul

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

O canto da varanda próximo à churrasqueira tem mesa da Oficina de Agosto

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

No hall de entrada, cadeiras brasileiras estilo Império, armário provençal de carvalho e mesa com tampo de mármore e pés de bronze

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Junto à piscina, escultura de Alfredo Ceschiatti arrematada em leilão

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Visto a partir da praia, o exterior da residência revela a sua arquitetura inspirada no casario de Paraty, além da escultura de Alfredo Ceschiatti à beira da piscina

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Canto da varanda que circunda a casa, com duas poltronas da Artefacto Beach&Country

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Em outra área da mesma varanda, poltronas de vime e mesa de centro adquiridas em Nova York e, ao fundo, aparador em estilo D. Maria, encontrado em um antiquário de Paraty

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Em um dos quartos do térreo, a cama com armação de dossel, é uma releitura feita por Jorge Elias inspirada por uma gravura de Debret, que retrata uma peça estilo D.Maria, na janela que remete às casas de pescador, varões de bambu apoiam cortinas de linho

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

O living traz sofá da nova-iorquina George Smith Design revestido com tecido da Entreposto, mesa de centro tailandesa, tapete de fibra natural e, arrematando o conjunto, uma escultura de Frans Krajcberg na parede

Editorial Paraty: Raízes do Brasil (Foto: Ron Pen)

Vista aberta da sala de jantar revela importantes peças mineiras do século 18: o oratório com a Santana Mestra, a mesa estilo cavalete e o balcão de farmácia, que faz as vezes de aparador – as palmas junto ao oratório são da Oficina de Agosto e as cadeiras, com desenho do arquiteto, em estilo Luis 15, ganharam encosto de palhinha e foram patinadas de azul