• 25/02/2015
  • por Lígia Nogueira; fotos Piet Oudoulf/ divulgação
Atualizado em
Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Paisagista Piet Oudolf no Queen Elizabeth Olympic Park, em Londres, cercado por flores como helênios (amarelas) e diferentes tipos de gramíneas

Um bom jardim, agradável aos olhos e atraente aos outros sentidos, não deve depender apenas de flores. Foi por acreditar nessa ideia – e, portanto, remar contra a maré –, que o holandês Piet Oudolf, de 71 anos, se tornou um dos mais importantes paisagistas contemporâneos.

Autor do projeto paisagístico do High Line, parque suspenso aberto em 2009, em Nova York (em que foram aproveitadas diversas espécies de plantas perenes, gramíneas, arbustos e árvores que já cresciam naturalmente no local, quando a antiga linha de trem foi abandonada), do jardim interno do Serpentine Gallery Pavilion de 2011, em Londres, e, mais recentemente,
de uma área externa com mais de 25 mil plantas para a sede da galeria Hauser & Wirth, em Somerset, na Inglaterra, em2014, Oudolf costuma dizer que o jardim ideal precisa, antes de tudo, ter estrutura e textura.

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Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Trecho do High Line, em Nova York, comáster (flores roxas) e sumagre (alaranjadas)

Muito além da floração, esses elementos são capazes de provocar emoções e conservar sua beleza durante o ano todo. Para comprovar a tese, o paisagista, que é designer de formação, foi um dos primeiros a apostar no uso das gramíneas, que conferem aos seus ambientes um ar selvagem – e que causam a impressão de ser parte de uma obra de arte em constante movimento. “Paisagismo, para mim, é continuidade”, diz Oudolf, que mora e trabalha em Hummelo, a poucas horas de Amsterdã, onde cultiva um cobiçado jardim particular aberto ao
público em apenas três ocasiões ao longo do ano.

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Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Sálvias e equináceas se misturam no Lurie Garden, em Chicago, um jardim feito para simbolizar a transformação da cidade, hoje vibrante e cheia de verde

Ele concedeu esta entrevista exclusiva à Casa Vogue.

Você é conhecido como autor de projetos paisagísticos dinâmicos. Em sua opinião, que características compõem um jardim ideal?
Um bom jardim toca os sentidos, provoca emoções e é capaz de se manter interessante e belo
durante todas as estações do ano.

Você gosta de usar plantas trazidas de outros países ou prefere trabalhar com espécie locais?
Usamos não apenas espécies locais, como também plantas originárias do mundo todo. Nossa equipe dá preferência a espécies que venham de um hábitat parecido e que tenham as mesmas necessidades no que diz respeito a solo, irrigação, sombra ou exposição à luz solar.

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Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

O lago e o prado perene que compõem o projeto da galeria Hauser & Wirth, em Somerset, pensado para interagir com a paisagem original da região e surpreender os visitantes

Como surgiu o seu interesse por plantas? Quais são as suas principais influências?
Tudo começou quando eu tinha 25 anos. Venho de uma área totalmente diferente – meus pais tinham um bar e restaurante e comecei trabalhando lá com a minha família. Mas chegou um momento em que eu decidi largar o emprego para me dedicar à jardinagem. Anos depois, em 1975, abri o meu escritório de paisagismo. A natureza e os lugares mais selvagens são verdadeiramente as minhas principais inspirações.

Qual é a importância das gramíneas para o desenvolvimento do seu estilo comopaisagista?
Quando iniciei minha carreira, as gramas não eram usadas nos jardins tradicionais. A maioria
dos projetos paisagísticos era influenciada pelos jardins ingleses. Nos que eu projeto, todas as
plantas são importantes, desde as árvores até os elementos mais discretos.

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Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Um bloco geométrico de teixo se contrapõe ao mix de gramíneas e plantas perenes no projeto do jardim particular da Boon House, na Holanda

Qual é a principal diferença entre o jardim inglês tradicional e os projetos que você assina?
Enxergo os jardins como um processo, e não apenas como algo que tenha uma função decorativa. Desde o início da carreira tento fugir dessa ideia com o meu trabalho. Os jardins geralmente são vistos como algo que deve ser mantido da maneira como foram pensados. Eu permito que ele mude com o tempo, mas controlo a sua harmonia estética. Como sabemos, as árvores crescem e é impossível fazer com que permaneçam sempre pequenas. As plantas desaparecem como passar dos anos e você pode decidir se quer fazer com que retornem ou, então, cultivar no mesmo lugar alguma outra espécie que se desenvolva melhor conforme as circunstâncias. Paisagismo, para mim, é continuidade.

Quais são os seus principais trabalhos previstos para 2016?
No momento, nos encontramos no meio de uma série de novos trabalhos, ainda em fase de desenvolvimento. Entre os principais, estamos desenhando os jardins para as novas instalações do Royal Marsden Hospital em Sutton, no sul de Londres, que tem projeto arquitetônico de Ab Rogers. Há também outros em andamento para o Singer Museum, em Laren, na Holanda, e uma área verde de 2 mil m² no topo de um hotel que está sendo construído na região norte de Amsterdã.

Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Um trecho do Maximilian Park, na Alemanha, com astilbes (flores cor-de-rosa) e exemplares de sálvia Rhapsody in Blue (roxas)

Como é o jardim da sua casa em Hummelo, onde também fica o seu estúdio, no interior da Holanda?
Nós cultivamos um jardim que abre para visitação pública apenas de vez em quando [as próximas datas de abertura são 26, 27 e 28 de maio]. Temos árvores, arbustos e uma enorme coleção de plantas perenes, comoa  clematis [um atrepadeira típica do hemisfério norte]. É o lugar onde comecei a testar meus primeiros projetos paisagísticos.

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Jardins selvagens de Piet Oudolf (Foto: Piet Oudoulf/ divulgação)

Croqui de Ouldolf para o Queen Elizabeth Olympic Park, em Londres