• 23/11/2016
  • Texto Silvia Albertini | Fotos: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação
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cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Fachada da antiga sede do Commonwealth Institute, ícone modernista de 1962 que sedia o novo Design Museum

O universo do design está em ebulição. No fim deste mês inaugura a muito aguardada nova sede do Design Museum de Londres. O objetivo é ambicioso: transformar a consagrada instituição na maior coleção mundial sobre o assunto, incluindo projetos de arquitetura, moda, produto e design gráfico. Desde sua abertura, em 1989, o Design Museum já mostrou de tudo: de carros de Fórmula 1 ao vestido desenhado por Gareth Pugh para Lady Gaga. Com mais de cem exposições no currículo, ultrapassando os 5 milhões de visitantes, foram expostos na célebre casa de Shad Thames alguns dos autores mais aclamados do momento, como Paul Smith, Frank Gehry, Miuccia Prada, Zaha Hadid e Eileen Gray.

cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Interior do edifício modernista de 1962, durante as obras para receber a nova sede da instituição


O novo museu terá o triplo da área do seu antecessor e novidades substanciais. Pela primeira vez, a visitação ao acervo será gratuita. A exposição permanente, Designer Maker User, vai narrar a história do design contemporâneo do ponto de vista dos três papéis interconectados. Uma parede, na entrada da galeria, exibirá uma seleção dos produtos mais acessíveis, escolhida pelo público no site da instituição. A obra, que custou cerca de 83 milhões de libras, remodelou o antigo prédio do Commonwealth Institute, um ícone arquitetônico do modernismo britânico, apresentando desafios de engenharia “memoráveis”, segundo seus autores. É o caso da escavação do nível subterrâneo, por exemplo, durante a qual o edifício inteiro ficou apoiado em estacas. Essas são as reflexões que o diretor, Deyan Sudjic, e o arquiteto John Pawson compartilharam em exclusividade com Casa Vogue.

Barraca aberta JOHN PAWSON  

CX3GNM John Pawson at home, London, United Kingdom. Architect: John Pawson, 2010. Portrait of Architect John Pawson, leaning back on a (Foto: Alamy Stock Photo)

O arquiteto inglês John Pawson, autor da reforma do Design Museum de Londres

Como foi reformar um prédio icônico dos anos 1960, dando uma nova função a ele?
O fato de a estrutura ser tombada certamente deu maior complexidade ao projeto, mas as restrições são positivas, porque estimulam o pensamento criativo. Gosto de achar que trabalhamos, de fato, como edifício existente, em vez de lutar para dobrá-lo à nossa vontade. Para mim, a obra foi um exercício de sintonização.

Que ideia você procurou expressar?
Durante a concepção me peguei pensando repetidamente na emoção que experimentei quando visitei o prédio deserto pela primeira vez: a expansão vertical ao entrar no vazio embaixo da estrutura do telhado. Essa vivência foi algo que eu quis preservar e valorizar.

Quais são os princípios inspiradores do projeto?
O novo Design Museum tem vista para o Holland Park, um parque público de 22,5 hectares. Uma mudança significativa foi criar uma pele transparente nas fachadas norte e leste. Assim, os visitantes poderão olhar para a vida dentro do museu e vice-versa. Isso é fiel ao espírito dos arquitetos originais, que conceberam o edifício como uma “barraca no parque”. A meu ver, nós abrimos as portas da barraca.

O seu trabalho é reconhecido como uma das mais interessantes reinterpretações do minimalismo. Hoje, o que é minimalismo para você?
É o que sempre foi: o resultado da redução até a essência, até que
aquilo que resta tenha uma qualidade “certa”, que pode ser experimentada visual, física e emocionalmente.

Questão de atitude DEYAN SUDJIC

cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Deyan Sudjic, diretor do Design Museum de Londres

Renovar um edifício relativamente recente, que também é um marco geográfico, é desafiador. Qual foi a abordagem?
Essencialmente, John Pawson colocou um prédio novo dentro de um antigo. O edifício virou uma espécie de peça de exposição que se revela gradualmente ao visitante. É fantástico que um museu possa fazer isso: conduzir uma mudança de atitude em relação a um monumento arquitetônico que vinha sido ignorado, para não dizer desprezado.

A reforma aumentará o tamanho do museu. O que isso implica em termos de programação?
O acervo será exposto sem ordem cronológica e não se pautará pelos maiores sucessos do design. O recorte considera o ponto de vista do produtor, do usuário e do designer. Nenhum outro museu tentou isso antes. Ao mesmo tempo, ofereceremos um programa rico em mostras temporárias. A primeira é Fear and Love – 11 instalações de designers que exploram nossas ansiedades e esperanças para o mundo. Vamos definir a agenda cultural, não segui-la.

cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Fuzil Kalashnikov AK-47, item pertencente ao acervo do Design Museum londrino

O que é bom design?
Um fuzil Kalashnikov tem custos de produção baixos, é confiável e fácil de usar – estes são, em teoria, os critérios do bom design. A questão preocupante é seu uso, sua função... Não existe uma definição única de bom design. A questão é entender o que um designer está tentando alcançar e avaliá-lo segundo esse critério.

Se você pudesse escolher um único objeto de design representativo do nosso tempo, qual seria?
Este nosso novo Design Museum.

cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Máquina de escrever Valentine, criada por Ettore Sottsass e Perry King para a Olivetti, da coleção do museu

cv 375 antena museu (Foto: Alamy/Glow Images (retrato John Pawson), Koto Bolofo (edifício), Luke Hayes (retrato Deyan Sudjic) e divulgação)

Placa de trânsito ilustra a sinalização urbana criada por Margaret Calvert e Jock Kinneir, do acervo do museu