Descrição de chapéu América Latina Argentina

Buenos Aires ganha hotel de luxo em prédio histórico, o Casa Lucia

Cinco estrelas reforça vizinhança da rua Arroyo, uma Avanhandava mais sofisticada

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Buenos Aires

Quando Nicolás Mihanovich ergueu aquele que buscava ser o edifício mais alto da América do Sul, nos anos 1920, a Argentina vivia sua era de opulência. O empresário mandou construir um farol no cume do arranha-céu de 80 metros de altura para orientar os barcos de sua companhia de navegação que singravam o rio da Prata.

É bem possível que aquela torre, ainda de pé na região de Retiro, em Buenos Aires, tenha sido a primeira construção avistada do navio por parte dos 6 milhões de italianos, espanhóis, poloneses e iugoslavos que deixavam a Europa para nunca mais voltar.

Lobby do hotel Casa Lucia, em Buenos Aires
Lobby do hotel Casa Lucia, em Buenos Aires - Divulgação

O drama da imigração está incrustado no espírito argentino, sobretudo o portenho. Está desenhado no mural nos arredores do hiperturístico calçadão do Caminito, representando a mãe chorosa dando adeus ao filho que parte no navio. Está também no elevado número de psicanalistas do país —a maior proporção por habitante no planeta—, reflexo de uma sociedade de exilados que buscam saber o seu lugar no mundo.

O farol de Mihanovich, que servia de orientação naqueles tempos, hoje encima o Casa Lucia, recém-inaugurado hotel que ocupa os 20 andares do edifício histórico construído cem anos atrás e que permeneceu fechado desde 2017, quando o Sofitel deixou o prédio. É o primeiro cinco estrelas a abrir na capital nos últimos sete anos —empreitada da espanhola Único Hotels, que tem endereços de luxo em Madri, Mallorca e Costa Brava.

Quem entra no prédio, que teve a fachada em estilo eclético preservada, topa com uma estrutura de vidro no teto que dá um ar de jardim de inverno ao lobby. Em vez da tradicional recepção, deslocada
para a parte de trás do saguão, o corredor dá para um amplo balcão de madeira que expede vinho e drinques para quem se senta nas poltronas dispostas pelo ambiente. A meta é atrair também os locais.

À direita fica o Cantina, restaurante que serve sabores locais, como milanesa de bife, paleta de cordeiro e o tradicionalíssimo bife de chorizo num salão decorado com imagens e artigos de polo equestre. À esquerda fica o Club Bacan, bar à meia-luz de coquetéis autorais e rótulos argentinos.

Os 142 quartos do Casa Lucía, com diárias a partir de US$ 670 (R$ 3.400), seguem um estilo mais sóbrio, com móveis refinados, decoração em tons monocromáticos, luz quente —a ideia, segundo os designers, é fazer referência à elegância austera da era de ouro argentina, daí nada ser extravagante. Luxo discreto.

O hotel fica naquela que é tida como a mais bela rua de uma cidade repleta delas, a calle Arroyo —uma viela em curva coalhada de galerias de arte, cafés e bares com mesas na calçada, sombreadas pelas árvores e pelas fachadas classudas. É uma espécie de parente portenha da paulistana Avanhandava, só que sofisticada.

Logo em frente ao hotel, aliás, fica um dos bares-sensação de Buenos Aires. É o Floreria Atlantico, instalado no subsolo de um misto de loja de vinhos e floricultura.

Entre monstros marinhos pintados nas paredes, dá para bebericar variedades caseiras de gins e vermutes embalados com ingredientes cultivados pelos povos indígenas do país. Caso esteja lotado, a alternativa é sentar numa das mesinhas externas da Rotiseria Atlantico, bebendo vinho e comendo empanada de ossobuco enquanto se observa o movimento da rua.

O Floreria é um dos três endereços que Buenos Aires conseguiu emplacar no ranking 50 Best dos melhores bares do mundo —o Brasil não tem nenhum na lista—, prova do bom momento da cena etílica da capital argentina. Os outros dois ficam na agitada região do Palermo Soho, não muito longe da Arroyo.

São eles o Tres Monos, com uma proposta mais espalhafatosa, servindo drinques mais em conta sob música alta e luz de neon cor-de-rosa, e o mais requintado ConChinChina, que funde sabores asiáticos e latinos em seu concorrido balcão.

Se a exigência pela qualidade do que é servido não for assim tão elevada e o desejo de atualizar o Instagram for maior, dá para percorrer o circuito dos bares temáticos, populares entre turistas. O Victoria Brown emula o universo da Inglaterra vitoriana, enquanto que o J.W. Bradley remete ao universo da linha de trem Expresso do Oriente. Já o Uptown imita uma estação de metrô nova-iorquina: para se chegar até ele o visitante desce uma escadaria, passa pelas catracas e até por um vagão.

Não que os hermanos precisem se inspirar no que há lá fora. Dona de belíssimas torres, Buenos Aires vem se especializando na criação dos chamados rooftop bars, fincados no topo de edifícios e com vista para a cidade. O Florida 165, na rua homônima, bastante frequentada pelos brasileiros, fica no alto de um edifício histórico.

Sentado numa das mesinhas de madeira do terraço dá para ver as cúpulas em estilo art nouveau do centro da capital argentina, fruto dos anos dourados do país, se iluminando conforme a noite cai.

O jornalista viajou a convite do Hotel Casa Lucia

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