Descrição de chapéu Energia Limpa

Empresa quer usar calor gerado por data centers para aquecer piscinas

Tecnologia é usada na Europa e no Canadá para manter casas aquecidas durante inverno, mas iria requerer investimento público no Brasil

São Paulo

Essenciais para o funcionamento de uma gama de serviços digitais disponíveis nos smartphones, computadores e na internet, os data centers geram um desafio ambiental: o alto custo energético para processar dados.

Uma planta de data center de grandes dimensões, de 30 megawatts, gasta, sozinha, em média a mesma energia do que 16,3 mil casas brasileiras, de acordo com estimativas do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica da Eletrobras. E esse consumo deve aumentar com a ampla adoção de inteligência artificial.

Uma das empresas do setor, a Equinix, propõe uma solução: reaproveitar o calor gerado pelas máquinas para esquentar piscinas, casas e outros ambientes. O mecanismo é parecido com o de um "boiler", usado para esquentar chuveiros com energia solar.

Provedora de data centers propõe transmitir calor de plantas industriais para casas e piscinas
Provedora de data centers propõe transmitir calor de plantas industriais para casas e piscinas - Divulgação/Equinix

Os data centers geram de 25° C a 30°C de calor, que podem ser usados para aquecer serpentinas de água corrente. Essas reservas aquecidas, então, são levadas a uma placa de troca de calor, cujo objetivo é redirecionar a energia térmica para uma segunda tubulação de água, que atinge de 60° C a 90° C.

Depois de passar pela placa de troca de calor, a água está pronta para uso doméstico, seja em calefação, seja em piscinas aquecidas ou em chuveiros.

Piscina em formato de bico de passarinho, vista de cima
Piscina do SESC Belenzinho, na zona leste de São Paulo - Eduardo Knapp - 22.mai.2024/Folhapress

A Equinix planeja exportar, a partir de julho, calor de uma de suas plantas em Paris para o Centro Aquático Olímpico, que sediará vários eventos durante os Jogos Olímpicos de Verão de 2024.

A empresa já implementou iniciativas de exportação de calor em toda a Europa e nas Américas, com projetos na França, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Suíça e Canadá. Agora, quer trazer a tecnologia para o Brasil.

O país teria uma reserva de calor gerado por data centers relevante, já que concentra 130 dessas unidades de processamento instaladas em seu território, de acordo com o levantamento colaborativo Data Center Map. "O projeto de exportação de calor é uma oportunidade de reaproveitar a eletricidade já gasta", diz o presidente da Equinix no Brasil, Victor Arnaud.

Há, contudo, um desafio, segundo o executivo. Os municípios brasileiros não têm infraestrutura de distribuição de calor, já instalada em cidades de países com clima temperado em função da demanda de calefação durante o inverno rigoroso.

"Em locais do Brasil onde faz muito frio, já existe alguma estrutura, mas onde não é tão frio, não há redes públicas de calefação, mas nada impede a criação de uma rede de distribuição de calor, o que não é tão complexo", diz Arnaud.

Para isso, contudo, seria necessário haver vontade dos formuladores de políticas públicas para construir as redes ou facilitar a execução dessas obras, segundo o executivo.

Aqui, a empresa mantém plantas em São Paulo, Barueri, Santana do Parnaíba e Rio de Janeiro.

"Ainda é preciso muita conversa para colocarmos o projeto em prática, mas eu acredito ser possível implementar projetos de exportação de calor em São Paulo, no Rio de Janeiro e também em outros países da América Latina", afirma Arnaus.

Há conversas em curso, conforme o executivo. Um data center de 20 gigawatts gera energia suficiente para aquecer 100 piscinas ou 4.500 casas (a grande diferença tem a ver com o alto coeficiente térmico da água), estima a Equinix.

A Agência Internacional de Energia (AIE) estimou, em relatório do início deste ano, que o consumo de energia elétrica nas plantas industriais por trás do mundo digital possa passar dos 460 terawatt-hora (TWh) registrados em 2022 para 1.050 TWh em 2026. Para se ter uma ideia, o consumo total de energia no Brasil no ano passado foi de 509 TWh.

A alta de gasto de eletricidade seria puxada, majoritariamente, pela ampla adoção de inteligência artificial, já que a tecnologia exige grande volume de dados e cálculos computacionais complexos.

Além da Equinix, outras empresas do setor, como Elea, Ascenty e Scala correm para apresentar à sociedade medidas para diminuir a dependência de combustíveis fósseis como fonte de eletricidade e usam a infraestrutura de energia limpa brasileira para melhorar números globais. Quase 90% da matriz energética brasileira é livre de carbono, segundo dados da AIE.

No Brasil, as quatro provedoras de data centers citadas afirmam usar 100 por cento de energia limpa, e Arnaud, da Equinix, diz que a matriz energética brasileira facilita seu trabalho nesse sentido.

"Eu poderia me acomodar com esse número, mas implementar um projeto de transporte de energia nos traz a chance de reaproveitar energia elétrica já utilizada e diminuir consumo total das cidades em que estamos instalados."

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.