A Reach, maior editora de jornais e revistas do Reino Unido, que publica os jornais Daily Mirror e Daily Express, está avaliando se a tecnologia de inteligência artificial (IA) ChatGPT poderia ajudar jornalistas a escrever notícias curtas, enquanto as organizações de imprensa procuram maneiras de usar a IA.
O executivo-chefe da Reach, Jim Mullen, disse ao Financial Times que a empresa montou um grupo de trabalho para explorar como a ferramenta poderia ser usada para ajudar repórteres na cobertura de assuntos como clima e tráfego local.
"Encarregamos um grupo de trabalho, entre nossas equipes de tecnologia e editorial, de explorar o potencial e as limitações do aprendizado de máquina como ChatGPT", disse ele. "Podemos ver potencial para usá-lo futuramente como apoio a nossos jornalistas em reportagens mais rotineiras, como tráfego local e clima, ou para encontrar usos criativos para ele, fora de nossas áreas de conteúdo tradicionais."
Redações de todo o mundo estão considerando como os avanços na IA generativa, incluindo o ChatGPT da OpenAI e o chatbot Bard do Google, afetarão a produção de jornalismo.
O BuzzFeed anunciou no mês passado que trabalhará com a OpenAI, criadora do ChatGPT, para ajudar a produzir seus questionários virais, enquanto o site de notícias online CNET tentou usar o programa para escrever notas econômicas, mas observadores apontaram que elas continham vários erros.
Algumas organizações de notícias experimentam a IA há anos. A Thomson Reuters usa um programa interno chamado Lynx Insight desde 2018 para filtrar informações como dados de mercado para encontrar padrões para os repórteres.
A Reach publica mais de 130 títulos nacionais e regionais, incluindo o Daily Record e o Manchester Evening News. No mês passado, a empresa alertou que seu lucro anual seria menor do que o esperado, depois de ser atingida pela inflação de custos e taxas mais baixas de publicidade, especialmente na mídia impressa. Também disse que cortaria cerca de 200 empregos em suas equipes editorial e comercial, de um total de 4.500 funcionários.
No entanto, o grupo vem expandindo sua presença nos Estados Unidos: abriu um escritório em Nova York neste ano e lançou versões online americanas do Daily Express e do Irish Star para atrair a população irlandesa-americana.
A Reach disse que explorar os usos da IA tem mais a ver com a adoção de novas tecnologias e o uso de dados do que com o corte de custos, acrescentando que a companhia emprega mais jornalistas hoje do que em qualquer outro momento dos últimos dez anos.
Mullen disse: "Ainda é muito cedo, mas é algo que vemos como uma ferramenta para apoiar nossas equipes editoriais, muito parecida com a outra tecnologia que já estamos usando".
No entanto, Chris Morley, coordenador para a Reach do Sindicato Nacional de Jornalistas, expressou preocupação e disse que "estaria buscando reuniões com a empresa".
"Estou preocupado que a empresa não tenha falado conosco, em primeiro lugar, pois há um impacto potencial nos empregos", disse ele. "Estamos passando por 200 perdas de empregos no grupo, é um processo doloroso."
Francesco Marconi, cofundador da companhia de jornalismo computacional AppliedXL, que trabalhava com automação e IA na Associated Press, disse que a aplicação do ChatGPT no jornalismo seria em "funções de suporte".
"Um esquema para se pensar sobre isso é como se o GPT fosse um estagiário que pode ajudá-lo a editar certos trechos da reportagem, mas não pode gerar reportagens originais", disse ele.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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