O novo teste do Snapchat: crescer como o Facebook, mas sem a mesma bagagem
Mike Segar - 18.mai.2016/Reuters | ||
Logo do Snapchat criado com post-it em escrit�rio de Nova York |
No setor de m�dia social moderno, uma empresa tem essencialmente duas op��es: ou morre jovem ou sobrevive por tempo suficiente para se transformar no Facebook.
A Snap, controladora do Snapchat, parece estar seguindo o segundo caminho. Depois de anunciar resultados decepcionantes na semana passada, o que causou queda de mais de 20% em suas a��es, a Snap revelou uma mudan�a radical de estrat�gia que parecia indicar mais que uma pontinha de inveja do Facebook.
Em uma tentativa de estimular o crescimento de sua base de usu�rios, Evan Spiegel, o presidente-executivo da Snap, anunciou que o Snapchat seria redesenhado, para torn�-lo mais f�cil de usar. O app, cujo design minimalista � atraente para os adolescentes e em muitos casos causa perplexidade aos seus pais, em breve ter� um feed personalizado que usar� algoritmos para exibir conte�do relevante para os usu�rios, em lugar de for��-los a vasculhar seu conte�do em ordem cronol�gica inversa. O Twitter adotou mudan�a semelhante no ano passado, tamb�m sob press�o por conta do Facebook.
A Snap reformulou seu processo para compra de publicidade, igualmente, tornando-o mais parecido com o do Facebook, que permite compra de an�ncios por um sistema automatizado. E sinalizou na semana passada que desejava expandir sua presen�a nos pa�ses em desenvolvimento, nos quais o Facebook � dominante. Apenas cerca de 25% dos usu�rios ativos do Snapchat vivem fora da Am�rica do Norte e Europa, ante mais de 65% no caso do Facebook.
� dif�cil culpar a Snap, que se recusou a comentar para esta coluna, por seguir os passos do Facebook. Tanto o Facebook quanto o Instagram, controlado por ele, v�m copiando o Snapchat h� anos, em um esfor�o por tir�-lo do mercado, e pode ser que estejam conseguindo.
O Instagram Stories, um quase clone do recurso mais caracter�stico do Snapchat, j� conta com 300 milh�es de usu�rios ativos a cada dia, total quase duas vezes mais alto que o do Snapchat. Os enormes lucros do Facebook geraram expectativas ambiciosas entre os investidores em outras empresas de m�dia social, e seus mais de dois bilh�es de usu�rios fazem com que tudo mais pare�a pequeno em compara��o.
Mas a virada da Snap � mais que uma decis�o de neg�cios necess�ria. Representa motivo de preocupa��o quanto ao panorama atual de nossa m�dia e um sinal de alerta para outras startups interessadas em duelar com as grandes companhias de Internet jogando de acordo com regras que elas mesmas criem. Se uma empresa imensamente criativa, com um app usado por 178 milh�es de pessoas a cada dia, pode ser esmagada pelo Facebook, como � que algu�m conseguir� sucesso?
A Snap conta com muitas coisas em seu favor. Continua popular entre os adolescentes dos Estados Unidos, que representam o grupo demogr�fico possivelmente mais cobi�ado do planeta, no campo do marketing. O Snapchat tem mais usu�rios dos 12 aos 14 anos de idade, nos Estados Unidos, do que o Instagram e o Facebook, de acordo com o eMarketer. Tamb�m conseguiu contrariar as tend�ncias do Vale do Sil�cio e introduzir algumas ideias realmente inovadoras, tais como o conceito de que nem toda a comunica��o digital deve ser arquivada permanentemente. E embora a Snap esteja no vermelho, boa parte do preju�zo deriva de mudan�as que adotou para concorrer com o Facebook.
Ainda assim, o fato de que o futuro da Snap seja incerto deve nos preocupar –mesmo �s pessoas que nunca usaram seus produtos. Um mundo no qual todas as plataformas de Internet bem sucedidas devam se comportar como o Facebook � um mundo mais entediante e menos inovador, sem empresas que desafiem a vis�o de futuro do Facebook. A Snap pode se ver for�ada a abandonar as qualidades que a diferenciavam, quando ela come�ou.
Parte do apelo do Snapchat quando ele surgiu, seis anos atr�s, estava em que fosse muito diferentes dos demais apps de mensagens e redes sociais. As fotos que desapareciam depois de alguns segundos encorajavam compartilhamento honesto com bons amigos, e n�o exibicionismo diante de uma grande audi�ncia de meros conhecidos. O programa Discover, do Snapchat, foi um dos primeiros exemplos de rede social disposta a pagar aos criadores por conte�do original e de alta qualidade. E ao contr�rio de Mark Zuckerberg, que declarou que privacidade � um conceito antiquado, Spiegel acreditava em salvaguardar os dados de seus usu�rios, declarando em entrevista de 2015 que "para n�s, n�o ser invasivo � importante".
As qualidades distintivas do Snapchat tamb�m o ajudaram a evitar alguns dos problemas que agora afligem seus rivais.
Ao que parece, o Snapchat, ao contr�rio do Facebook, n�o foi explorado por agentes russos para influenciar elei��es, e adotou abordagem respons�vel para impedir que informa��es falsas fossem postadas em sua plataforma. (Nick Bell, o vice-presidente de conte�do da Snap, disse recentemente � revista "Bloomberg Businessweek" que "s� trabalhamos com empresas de m�dia respeitadas e confi�veis, e n�o temos vergonha de contar com uma equipe significativa de produtores, criadores e jornalistas") O Snapchat n�o foi invadido por bots e neonazistas, ao contr�rio do Twitter. E, diferente do Google, a Snap n�o recolhe dados sobre seus usu�rios a fim de ca��-los Internet afora com an�ncios que levam jeito de spam, sobre p�lulas de dieta e ch�s miraculosos.
O Snapchat est� longe de ser perfeito, � �bvio, e alguns dos problemas que a companhia enfrenta foram causados por ela mesma. A Snap iludiu seus usu�rios quanto �s suas pr�ticas de coleta de dados, no passado, o que resultou em um acordo extrajudicial com a Comiss�o Federal do Com�rcio (FTC) norte-americana, para evitar um processo. Investiu milh�es de d�lares no desenvolvimento do Spectacles, um �culos de sol com uma c�mera de Snapchat embutida, sobre o qual todo mundo falou mas que pouca gente comprou. (Na semana passada, a empresa contabilizou US$ 40 milh�es em preju�zo com o projeto.) E ningu�m for�ou Spiegel a arrecadar bilh�es de d�lares em capital junto a investidores que certamente exigiriam crescimento em estilo Facebook.
Billy Gallagher, antigo rep�rter do site de not�cias tecnol�gicas TechCrunch, cujo livro sobre a Snap, "How to Turn Down a Billion Dollars" [como recusar US$ 1 bilh�o], sai no ano que vem, caracterizou as mudan�as recentes na empresa como "a morte dos mil cortes". Ele me disse que embora os investidores devam apreciar detalhes como o sistema automatizado de compra de publicidade e um app mais intuitivo, os usu�rios que formam o n�cleo duro do Snapchat se sentir�o tra�dos.
"Uma rede social age contra os interesses de seus usu�rios quando tem de fazer dinheiro", ele disse.
Gallagher diz que o Snapchat jamais quis ser apenas um app para compartilhamento de fotos. A empresa tentava colocar em pr�tica a vis�o de Spiegel sobre como a Internet deveria funcionar - tempor�ria em lugar de permanente, privada em lugar de p�blica, franca em lugar de ensaiada. Perguntei a Gallagher por que a Snap precisava rejeitar seus valores em busca de crescimento em ritmo de Facebook. Ser� que ela n�o poderia rejeitar as demandas de Wall Street, se concentrar em manter felizes seus atuais usu�rios, e viver satisfeita como empresa menor e de foco mais intenso?
Gallagher disse que os empregados da Snap, muitos dos quais aceitaram empregos na companhia porque acreditavam que ela teria imenso crescimento, se irritariam com qualquer estrat�gia que reduza o valor de suas op��es de a��es. E apontou que Spiegel, 27, um jovem com ideias grandiosas que, pelo que dizem, tem um retrato de Steve Jobs na parede de seu escrit�rio, provavelmente n�o se satisfaria com um sucesso modesto.
"Ele tem vis�es de futuro grandiosas, abrangentes", disse Gallagher. "Seria muito dif�cil para ele engolir esse sapo e dizer que sua empresa n�o se tornar� um novo Facebook, e ser� apenas uma rede social de 150 milh�es de usu�rios que atende um nicho de mercado bem definido".
Na semana passada, Spiegel prometeu que manteria intactos os valores centrais da Snap, enquanto expande seus neg�cios. Mas crescimento � algo que muitas vezes resulta em restri��es � experimenta��o, e a decis�o da Snap de se tornar mais parecida com o Facebook � um sinal preocupante para as pessoas que querem preservar a heterogeneidade exc�ntrica da Internet. Os usu�rios do Snapchat um dia tiveram acesso a algo de genuinamente diferente, mas talvez tenha chegado a hora para que eles reduzam suas expectativas e aceitem que s� ter�o mais do mesmo.
Tradu��o de PAULO MIGLIACCI
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