Após as cheias na Amazônia no início do ano e as enchentes recentes no Rio Grande do Sul, o Brasil deve passar por um período de grande estiagem, afirmou Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, durante o seminário "Meio ambiente: resiliência climática e descarbonização", realizado pela Folha, segunda-feira (3).
O evento teve apoio do Governo do Pará e da Prefeitura de Manaus e patrocínio da fabricante de veículos elétricos BYD.
Durante sua fala de abertura, por videochamada, Marina citou o comunicado emitido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico em abril, que declarou situação crítica de escassez hídrica na bacia do Paraguai (região Centro-Oeste do país).
"É a primeira vez que a agência faz essa tipificação com a palavra 'crítica'. Nós já tivemos decretação de escassez hídrica no rio Madeira e no rio Paraná, mas nunca em uma bacia inteira", disse.
"Estamos saindo de um período de cheias terríveis no RS e vamos enfrentar uma emergência climática que vai envolver incêndio —essa é uma das consequências das grandes estiagens. Estamos transformando florestas úmidas, como é o caso da amazônica, em uma floresta que cada vez mais vai perdendo umidade", alertou.
Uma das consequências disso é o alastramento de fogo. A ministra citou pesquisas segundo as quais a queima da vegetação em incêndios com desmatamento tem crescido. Antes, quando o fogo entrava pela floresta úmida, ia se apagando. Em 2023, no entanto, pesquisadores identificaram que esses incêndios começaram a adentrar a mata e atingir inclusive áreas de floresta primária.
No caso do Pantanal, como a bacia não conseguiu atingir sua cota de cheia, há uma grande quantidade de matéria orgânica seca, o que também propicia queimadas. De acordo com a ministra, o governo está trabalhando em um plano de prevenção e gerenciamento desse risco climático.
Ela defendeu novos marcos regulatórios, que criem a possibilidade de se decretar emergência climática para que seja possível enviar brigadistas, aeronaves e integrar esforços para combater desastres, por exemplo.
Para ela, o momento exige um esforço extraordinário, tanto com recursos financeiros quanto com equipamentos, uma vez que um enfrentamento eficiente passa por ações como olhar para as populações vulneráveis, repensar o setor de transporte, que se dá principalmente pelos rios na Amazônia, pensar em suprimento para a geração de energia, refazer encostas de drenagem, entre outros.
Marina disse ainda que o Brasil é um país vulnerável, mas com vantagens e que pode colaborar com o mundo ao desenvolver seu potencial de produção do hidrogênio verde, se adaptar para a agricultura de baixo carbono e restaurar áreas de floresta degradadas.
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