Pol�mico, fechamento da Paulista para carros conquista apoio de moradores

Domingo costuma ser dia de passear no shopping para o casal de namorados Daniel Sales, 32, e Stella Lemes, 27, moradores de S�o Miguel Paulista, no extremo leste paulistano. No �ltimo dia 7, mudaram os planos: decidiram visitar a avenida Paulista, aberta para o lazer da popula��o aos domingos. "O paulistano � meio estranho: tem parque aberto, mas o pessoal vem para o lado dos pr�dios... fiquei impressionado com tanta gente", diz ele, que atua como supervisor de qualidade.

Naquele dia ensolarado, quase sem nuvens, as oito faixas da avenida estavam tomadas por m�sicos, pessoas andando com cachorros, gente de bicicleta ou por quem s� queria andar, caso da contadora Cristiane Rodrigues Correa, 39, que havia sa�do de Campinas com a fam�lia pelo segundo domingo seguido. "Aqui d� para ver essa cultura toda que s� S�o Paulo tem", diz.

Quatro meses ap�s o prefeito Fernando Haddad (PT) ter fechado o acesso para autom�veis aos domingos —a primeira vez foi em 18 de outubro—, as coisas v�o mais bem do que mal na Paulista, embora ainda ainda haja o que melhorar.

Passeio P�blico
Pol�mico, fechamento da Paulista para carros vai conquistando lugar na agenda da cidade e apoio dos moradores da regi�o

Uma pesquisa in�dita do Datafolha revela que o passar do tempo tornou os ventos mais favor�veis para a medida: 61% dos moradores da regi�o defendem a abertura da avenida hoje, enquanto 35% s�o contra -o percentual � maior que os 45% de aprova��o entre a popula��o paulistana, apurados em outubro.

A abertura da avenida tamb�m conta com a ades�o de quem vive no entorno: 75% dos moradores da regi�o j� foram � Paulista aos domingos pelo menos uma vez.

De zero a dez, a decis�o de impedir a circula��o de carros recebeu nota m�dia 8,2 dos entrevistados, segundo os quais o lazer (52%) � a principal vantagem e o tr�nsito (38%) local, a maior desvantagem.

Uma curiosidade � que, entre os que j� foram alguma vez � avenida aos domingos, 72% aprovam, apoio encabe�ado pelos mais jovens (16 a 34 anos). Em oposi��o, 66% dos que rejeitam a abertura jamais estiveram ali para um passeio dominical.

O levantamento foi feito em 3 de fevereiro e entrevistou 421 moradores que vivem na Paulista e a tr�s quadras da avenida, nos sentidos Jardins e centro. A margem de erro � de cinco pontos percentuais para cima ou para baixo.

Paulista aberta - 61% dos moradores do entorno da avenida aprovam a abertura aos domingos

Centros culturais e de servi�os celebram um aumento expressivo de p�blico, caso do Ita� Cultural e da Casa das Rosas, projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo. De outro lado, restaurantes e cinemas reclamam da queda de frequentadores desde que os carros deixaram de circular. E parte dos moradores se queixa de barulho, sujeira e reflexos problem�ticos no tr�nsito.

Apoio � medida � maior entre jovens - Percentual de entrevistados a favor da abertura cai � medida que aumenta a idade

O centro cultural Ruth Cardoso, no pr�dio da Fiesp (Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo), criou um projeto espec�fico para esse dia da semana, o Domingo na Paulista, que inclui m�sica e atra��es culturais. Em duas edi��es, o projeto reuniu seis mil pessoas, de acordo com Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do centro cultural.

Um dos grandes sucessos da avenida n�o integra o projeto: s�o os patos amarelos na cal�ada do pr�dio empresarial, que fazem parte de uma campanha contra o aumento de impostos e cen�rio frequente de selfies de transeuntes. "Quando a cidade se abre ao cidad�o, ele responde de forma positiva", afirma Skaf.

S�mbolo da Paulista, o Masp informou ter notado aumento de 21% aos domingos nos �ltimos tr�s meses de 2015, em rela��o � m�dia dos domingos do ano todo. O museu, no entanto, afirma que associar o acr�scimo de visitantes ao fechamento da Paulista � especula��o e que s�o muitas as vari�veis que trazem p�blico ao local.

Entre os shoppings, o Top Center aponta eleva��o de 17% no p�blico desde o fechamento da avenida. O Cidade de S�o Paulo, aberto no ano passado, e o Center 3 n�o quiseram se manifestar.

Outro hit da avenida s�o as bicicletas. A Serttel, que administra o Bike Sampa, servi�o de aluguel das bicicletas laranjas do Ita�, aponta crescimento de 59% nas viagens. Foram 46.140 entre agosto (quando a avenida come�ou a ser aberta de forma experimental) e 25 de janeiro deste ano, contra 28.952 em igual per�odo de 2014/15. Os dados correspondem �s 19 esta��es no entorno da Paulista. A procura fez a empresa manter equipes dedicadas especialmente � avenida aos domingos, para repor bicicletas nas esta��es rapidamente —usu�rios reclamam quando n�o acham bicicletas dispon�veis.

Respons�vel pela opera��o da ciclofaixa de lazer, a Bradesco Seguros diz que o servi�o SOS Bike, que d� aux�lio a ciclistas, atendeu 33% mais gente. E que o empr�stimo gratuito das bicicletas vermelhas, na esquina da Paulista com a rua da Consola��o, subiu 97% em janeiro, na compara��o com dezembro.

Vantagens da paulista aberta

Mas nem tudo s�o flores. "[O fechamento] N�o beneficiou em nada. N�o sei por que n�o fizeram como no Rio, que fecha uma pista na orla e deixa a outra aberta para os carros. Contemplaria tanto quem quer passear quanto quem precisa se deslocar", diz Pedro Herz, dono da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, um dos s�mbolos da avenida. "O ponto � compartilhar, n�o excluir motos, carros, transporte p�blico."

Herz diz que registrou queda dos neg�cios (n�o quis estimar quanto) e tem uma tese a respeito: "As pessoas que v�m � avenida est�o a lazer, n�o para comprar, ir ao cinema".

Adhemar Oliveira, que administra o Cinearte, tamb�m no Conjunto Nacional, diz que, ao mesmo tempo em que caiu o movimento, aumentou a frequ�ncia na Cinesala, cinema de rua em Pinheiros (zona oeste), um ind�cio, argumenta, de que o p�blico frequentador pode estar migrando da Paulista. O Reserva Cultural tamb�m diz ter sofrido perdas. Na semana retrasada, o secret�rio municipal de Cultura, Nabil Bonduki, se reuniu com donos de cinema para tentar encontrar uma solu��o.

ABERTURA SELETIVA

"A Paulista est� abrindo para quem ela j� era aberta. Tem ciclovia e ciclofaixa para ciclista, cal�ada larga para pedestre, e fechando para quem tamb�m tem direito de us�-la, como o morador e o com�rcio", diz Vilma Peramezza, 74, presidente da Associa��o Paulista Viva.

Mas ela considera tamb�m que a discuss�o sobre a abertura da Paulista ao lazer est� contaminada por "ideologia, infrut�fera". Os problemas que aponta s�o, como de h�bito, a sujeira na avenida, o grande n�mero de ambulantes e o tr�nsito no entorno quando a avenida fecha.

H�bitos de quem frequenta a Paulista aberta

Desde o in�cio da medida, os �nibus foram desviados para as paralelas (alameda Santos e rua S�o Carlos do Pinhal), assim como o tr�nsito de autom�veis e motos. Moradores ou clientes de estabelecimentos tradicionais s�o autorizados a circular na avenida de carro para entrar e sair dos pr�dios. Foi o caso do clube Homs, entre a Brigadeiro Lu�s Ant�nio e a alameda Joaquim Eug�nio de Lima, que recebeu uma faixa exclusiva —o que p�s fim � reclama��o dos frequentadores.

Uma das preocupa��es na ocasi�o do fechamento eram os hospitais, que, no entanto, n�o se opuseram. A Pr�-Matre e o Hospital Santa Catarina, por exemplo, dizem que a novidade n�o tem dificultado o acesso �s suas depend�ncias.

Peramezza tamb�m se queixa da ocupa��o de bicicletas em todas as faixas, quando a CET orienta os ciclistas a ficar apenas sobre a ciclofaixa e na ciclovia -o que de fato ocorre. Outra reclama��o de moradores
� o som alto diante dos seus pr�dios provocado por m�sicos —falta regulamentar o uso desses espa�os.

S�cio e administrador do restaurante R�scal, na alameda Santos, Angel Testa diz ter tido queda de 5% em janeiro, mas precisa esperar pelos pr�ximos meses para ver se a tend�ncia se confirma. Questionado sobre a possibilidade de o impacto ter rela��o com a crise econ�mica, afirmou que a unidade est� sofrendo mais que as outras. "Muitos clientes que vinham de carro pelos Jardins t�m enfrentado dificuldades. E n�o temos visto quem anda pela Paulista entrar no nosso restaurante."

A CET (Companhia de Engenharia de Tr�fego) afirma n�o ter constatado piora no tr�nsito desde que a avenida fechou para o tr�fego. O prefeito Fernando Haddad disse acreditar que o impacto inicial tem sido dilu�do � medida que as pessoas se acostumam com o fato de a avenida estar fechada naquele hor�rio.

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