Descrição de chapéu Polícia Federal Abin

PF encontra suposto áudio de Ramagem para interferir em caso de Flávio sobre 'rachadinhas'

Conversa, no âmbito de investigações sobre a 'Abin Paralela', trata de tentativa de encontrar 'podres' de auditores responsáveis por relatório

Brasília

A Polícia Federal encontrou um áudio "possivelmente gravado" pelo ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem (PL) de uma conversa com Jair Bolsonaro (PL) e o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, sobre o caso das "rachadinhas" de Flávio Bolsonaro.

O diálogo foi encontrado em representação da PF, na investigação sobre a chamada "Abin paralela" no governo de Bolsonaro. Operação deflagrada nesta quinta-feira (11) prendeu agentes que trabalhavam diretamente para Ramagem, que hoje é deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Flávio Bolsonaro é o relator no Senado da PEC que pode privatizar terrenos em áreas do litoral - Pedro Ladeira/Pedro Ladeira - 20 fev. 2024/Folhapress

Na conversa, que inclui "possivelmente" a advogada de Flávio, segundo a PF, eles tratam de supostas irregularidades que teriam sido cometidas pelos auditores da Receita Federal na confecção do relatório de inteligência fiscal que deu origem à investigação das chamadas rachadinhas.

O caso abordava o possível do desvio de parte dos salários dos funcionários da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) do gabinete de Flávio, quando deputado estadual no Rio.

No áudio, segundo a PF, é possível identificar a atuação de Ramagem indicando que seria necessária a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores da receita. A medida teria o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos.

O documento da polícia também afirma que foram achadas provas que destacaram a atuação do policial federal Marcelo Araújo Bormevet e do militar Giancarlo Gomes Rodrigues em ações clandestinas para "achar podres e relações políticas" contra estes auditores. Os dois agentes foram presos nesta quinta-feira (11).

Bormevet foi segurança de Bolsonaro na campanha de 2018 e nomeado por Ramagem para comandar o CIN (Centro de Inteligência Nacional), estrutura criada pelo atual deputado na Abin. Já Giancarlo era subordinado a Bormevet na Abin.

O relatório da PF diz também que Ramagem pode "ter faltado com a verdade", em seu depoimento ao órgão na condição de testemunha, pois não considerou a diligência de "achar podres e relações políticas", com a confecção de dossiês dos servidores da Receita Federal.

Ramagem respondeu aos policiais que houve "imputação falsa" e que Bormevet havia participado da segurança do então candidato à presidência da República Bolsonaro e que o convocou "pela sua experiência como analista de inteligência na PF", "tendo hoje ótimo relacionamento também com os servidores da Abin".

Ele também afirmou que Bormevet não conhece pessoalmente, nem tem contato com o senador Flávio Bolsonaro, ou com as suas advogadas. Além disso, declarou que não havia possibilidade do servidor ter elaborado qualquer documento para o senador ou para as advogadas.

Ramagem acrescentou que as atribuições do servidor eram relacionadas a coordenação de pesquisas para nomeações e em apoio à produção de conhecimentos para os setores da Abin, quando demandado.

Bormevet, em depoimento, negou que tenha sido demandado por Ramagem ou que tenha feito algum documento ou diligência para auxiliar a defesa de Flávio.

Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, Flávio afirmou que "não existia nenhuma relação minha com Abin".

"Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Alexandre Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", afirmou o senador.

A investigação também apontou que a estrutura da Abin teria sido utilizada de forma clandestina para interferir em investigação de outro filho do ex-presidente, o Jair Renan Bolsonaro.

Trocas de mensagens obtidas pela PF mostram os mesmos agentes discutindo o monitoramento de pessoas relacionadas ao inquérito que apurava suposta atuação de Renan para favorecer empresários em discussões do governo federal.

Nos diálogos, Bormevet e Giancarlo citaram monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Renan, e do advogado Paulo Belmonte.

Em trecho de conversa de março de 2021 destacada no relatório policial, Bormevet afirma que "o endereço dele [Allan Lucena] é aqui perto de casa, vou lá à noite". Em resposta, Giancarlo diz: "Acho que podemos ficar monitorando para ver quando vai ser o próximo evento e aí damos uma passada lá".

A conversa ainda reforçou as suspeitas da PF sobre uso ilegal do software espião FirstMile em ações de monitoramento. Isso porque Giancarlo afirma que a ferramenta estava fazendo falta para acompanhar Lucena. "Colocava para monitorar o dia inteiro e preferencialmente à noite, aí saberíamos os passos dele".

Em outro diálogo destacado no relatório, Bormevet pergunta a Giancarlo quais carros estão em nome de Renan e Ana Cristina Siqueira Valle, mãe do "filho 04" de Bolsonaro. Em seguida, Bormevet afirma "msg do 01".

A PF não chega afirmar que o agente fazia referência a Bolsonaro, que tem "01" como um dos apelidos.

A defesa de Renan disse que não tem nada a declarar sobre o relatório que aponta interferência da Abin na apuração.

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