O jantar oferecido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pelos 20 anos do ministro Gilmar Mendes no STF (Supremo Tribunal Federal) teve uma oração iniciada pelo colega de tribunal André Mendonça e uma defesa pelo diálogo entre os Poderes feita pelo homenageado da noite.
Na quarta-feira (22), Lira reuniu cerca de 40 integrantes dos três Poderes no jantar em homenagem Gilmar realizado na residência oficial da Câmara, em Brasília. O rol de convidados incluiu líderes da oposição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Moraes é alvo preferencial do bolsonarismo por relatar investigações que afetam aliados do presidente. Durante o jantar, Moraes e Bolsonaro chegaram a ter um encontro reservado, de cerca de 15 minutos, segundo revelou a coluna da Mônica Bergamo, da Folha.
Participantes disseram que o jantar seguiu em clima amistoso. Bolsonaro ficou cerca de duas horas no encontro.
Segundo relatos, o presidente cumprimentou todos os presentes, incluindo deputados da oposição que foram convidados. Ao chegar, ainda de acordo com relatos, disse em tom de brincadeira: "Aqui hoje só tem gente boa".
Bolsonaro permaneceu na confraternização ao lado dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública) e do ex-ministro da Defesa Braga Netto, apontado como possível vice na campanha do presidente à reeleição. Braga Netto tem acompanhado o mandatário em eventos políticos.
Durante o jantar, discursaram os presidentes das duas Casas do Congresso, Lira e e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Também falaram os ministros do STF Ricardo Lewandowski, Gilmar e André Mendonça.
Kassio Nunes Marques, primeiro indicado de Bolsonaro ao Supremo, também passou pelo jantar, mas saiu cedo.
Lewandowski fez um discurso ressaltando a trajetória de Gilmar, em que destacou seu papel de liderança.
Em seguida, discursou o homenageado. Gilmar fez uma fala ressaltando a importância do diálogo entre os Poderes. Lembrou da experiência de governos anteriores, como os de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar da diferença, disse Gilmar, eles se sentavam à mesa para dialogar.
Gilmar também disse, de forma geral, que é importante saber receber críticas e entender as razões de cada um.
Antes do fim dos discursos, Mendonça, outro indicado por Bolsonaro ao STF, pediu a palavra. Ele fez um agradecimento em tom pessoal, mencionou a família de Gilmar e agradeceu a Deus pela vida dele. Em seguida, puxou uma oração e foi acompanhado pelos demais convidados.
Antes de indicar Mendonça para o tribunal, Bolsonaro disse que seria "bom, se uma vez por semana, nessas sessões que são abertas no Supremo Tribunal Federal, [os ministros] começassem com uma oração do André".
Segundo a coluna de Mônica Bergamo, Bolsonaro e Moraes conversaram a portas fechadas no jantar. Foi a primeira conversa dos dois desde que o chefe do Executivo passou a se queixar publicamente de uma suposta quebra de acordo por parte do ministro, no ano passado, em meio às convocações golpistas feitas por Bolsonaro para os atos do 7 de Setembro de 2021.
Moraes e o ex-presidente Michel Temer (MDB), que presenciou a conversa entre os dois em 2021, negam que tenha existido um acordo.
Ao chegar ao jantar na casa de Lira, Bolsonaro cumprimentou Moraes de forma amistosa. Fez piadas com o fato de o magistrado ser corinthiano e ele, palmeirense.
Depois de circularem separados entre outros convidados, os dois voltaram a se encontrar —desta vez, em uma sala reservada, e sem a presença de outras testemunhas.
O fato de se isolarem em uma sala chamou a atenção de outros convidados, que festejaram o fato como um sinal de distensionamento, ao menos momentâneo, entre os dois.
Segundo participantes do jantar, o presidente do STF, Luiz Fux, não compareceu. Tampouco foram os ministros Luis Roberto Barroso e Edson Fachin, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e as ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia.
Bolsonaro tem lançado dúvida sobre as eleições, insistindo em questionar o sistema de contagem de votos. Nas pesquisas de intenção de voto, o mandatário está em segundo lugar, atrás do ex-presidente Lula.
Quando questionado se respeitaria o resultado das urnas, caso não consiga sua reeleição, Bolsonaro se negou, em mais de uma ocasião, a responder à pergunta.
Um dos temas recentes de embate entre o presidente e o TSE diz respeito à apuração nas eleições.
Bolsonaro defende que seja feita uma contagem paralela dos votos, mas Fachin o rebateu e alegou que isso já é feito. O ministro ainda afirmou que age por motivação política ou desconhecimento técnico quem questiona o trabalho da Justiça Eleitoral.
O TSE será presidido nas eleições por Alexandre de Moraes.
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