O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, adotou o estilo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e, durante encontro com investidores nesta quinta-feira (17), criticou gestões petistas, inclusive as de que fez parte, usou palavrões e disse que corrupto tem de ir para o inferno.
Tarcísio é cotado para disputar o Governo de São Paulo a pedido do chefe, que pretende ter um palanque no estado para ajudá-lo em sua campanha pela reeleição.
O ministro disse que deixa a esplanada até abril para se candidatar, e, sem citar nomes, fez ataques ao atual governador, João Doria (PSDB), e aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT.
Provocado por participantes em debate da TC (plataforma de investidores), Tarcísio, sem citar nomes, rechaçou a intenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de concorrer à Presidência rivalizando com Bolsonaro.
"Corrupto tem de ir para o inferno, para o raio que o parta, para a puta que pariu", disse. "Por isso que eu não quero ver mais corrupto na Presidência da República. Me preocupa a saudade que alguns têm dessa época."
Em seu discurso durante uma visita ao interior do Rio Grande do Norte ocorrida na terça-feira (9) da semana passada, Bolsonaro também fez críticas a ex-presidentes sem citar nomes e utilizou palavrões.
"Durante a transição após as eleições [de 2018] em Brasília, estávamos conversando sobre o que estava acontecendo com o governo anterior e como estava o governo. Descobrimos que a Funai tinha um contato de R$ 50 milhões para ensinar o índio a mexer com bitcoin. Ah, vá para a puta que pariu, porra. Desculpe o palavrão aqui", disse Bolsonaro, em alusão à Fundação Nacional do Índio.
A declaração de Tarcísio nesta quinta foi dada após uma pergunta sobre os projetos de infraestrutura do passado e os que ele comanda no ministério.
Fugindo de seu estilo parcimonioso em declarações em público, Tarcísio adotou o tom combativo de Bolsonaro ao fazer críticas aos governos de Lula e da ex-presidente Dilma, que, segundo ele, implementaram projetos de infraestrutura equivocados e que abriram margem para a corrupção.
O ministro de Bolsonaro, no entanto, esteve à frente do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) no governo da petista. "No passado, a mistura de ideologia com aritmética não deu certo", disse.
"Houve projetos, como o das rodovias da terceira fase [de concessão] e os dos aeroportos do Galeão (RJ) e Viracopos, em Campinas (SP), que sofreram com erros na projeção de demanda. Terminaram sendo devolvidos."
Tarcísio enalteceu Bolsonaro pelo convite para comandar o Ministério da Infraestrutura.
"Precisava que um doido assumisse a Presidência da República para que eu chegasse lá [ao ministério]. Esse doido foi Jair Bolsonaro", disse Tarcísio.
Segundo ele, sob sua gestão, os projetos passaram a ser feitos de forma a despertar o apetite de investidores, o que justifica o sucesso dos leilões.
Em determinado momento do debate, Tarcísio usou o projeto da NovaDutra para se promover.
A rodovia, recém-licitada, liga São Paulo ao Rio de Janeiro e, segundo o ministro, por pressão dele, o modelo de concessão foi modificado para permitir que o pedágio caísse 32%, passando de R$ 70 (pelo trecho completo entre as duas cidades) para R$ 46.
A partir daí, Tarcísio fez provocações ao atual governador, João Doria.
"O Rodoanel já poderia ter saído. O Metrô poderia ter autofinanciamento [o que permitira sua ampliação]. Falta criatividade", disse o ministro insinuando que tomará medidas mais ousadas para promover o desenvolvimento do estado.
Tarcísio usou seus feitos no ministério para mostrar que está habilitado para assumir o governo paulista. Disse que, como ministro, aprendeu a fazer política, algo fundamental para ter realizado mais de 125 leilões de infraestrutura que renderam R$ 820 bilhões em investimentos contratados.
"O que eu prometo, eu entrego", disse em resposta a uma pergunta de um analista que insinuou que o atual governador não cumpriu suas promessas de campanha.
O ministro negou pretender formar um governo de coalização caso seja eleito governador. Tarcísio disse que seu time contará com nomes técnicos, reproduzindo o que fez no ministério.
Afirmou que o Ministério da Infraestrutura teve sucesso com independência de sua equipe, sempre fiel a ele a seu projeto.
Segundo ele, não fosse assim, não teria conseguido vencer a pressão no Congresso Nacional contra a abertura do mercado de ônibus de passageiros ou a cabotagem.
"Não existe a dicotomia entre ser ministro e ser político", disse. "A partir do momento que você é ministro, você também é político. Não teria aprovado todos esses projetos se não tivesse ido aos gabinetes [de parlamentares e ministros do Tribunal de Contas da União]. Isso tudo é política."
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