A direção da Polícia Federal decidiu paralisar temporariamente o processo de indicação do novo chefe da superintendência do Rio, tema que deu início a uma crise com queda de braço entre o ministro Sergio Moro (Justiça) e o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Nenhuma documentação para formalizar a indicação foi enviada para o governo até o momento e, agora, não há prazo para que isso ocorra.
A PF é subordinada a Moro, também enfraquecido em meio à divulgação de mensagens que mostram sua atuação em parceria com os procuradores em diferentes processos da Lava Jato e que colocaram em xeque sua atuação como juiz federal.
Moro ainda tem sofrido seguidas derrotas no Congresso, onde tramita o pacote de medidas anticrime encaminhado por ele no início do governo.
Tácio Muzzi, diretor executivo do Rio, número 2, deve assumir a função interina por tempo indeterminado.
O tema se tornou relevante especialmente por causa da tentativa de interferência do presidente. Bolsonaro primeiro atropelou a PF anunciando a troca de comando que ainda estava sendo discutida internamente. O atual chefe do Rio, Ricardo Saadi, já tinha previsão para deixar o posto, mas ainda levaria semanas ou meses.
Depois, o presidente deu entrevistas rejeitando o nome escolhido pela direção do órgão para substituir Saadi, o de Carlos Henrique Oliveira, atual superintendente de Pernambuco.
Isso porque, segundo Bolsonaro, estava pré-conversado (não disse com quem), o nome de Alexandre Saraiva, hoje superintendente no Amazonas.
O fato de o presidente ter, no mínimo, sugerido um nome provocou reação imediata na cúpula da PF, inclusive com ameaças para deixar os cargos.
O entendimento de delegados e dirigentes é o de que a escolha do diretor-geral é de fato política, de atribuição do ministro da Justiça em acordo com o presidente, mas os cargos de superintendentes são blindados de interferência.
Quinze dias depois do início dessa crise, a temperatura baixou. O tom, internamente, também mudou. Se antes a cúpula da PF falava em renúncia coletiva caso o nome de Carlos Henrique Oliveira não fosse aceito, hoje o discurso é outro.
A principal frase que tem sido dita agora é que continua sendo inadmissível uma indicação do presidente, mas não mais se fala na obrigatoriedade da nomeação de Carlos Henrique.
A justificativa que está sendo usada é que um veto do Planalto a uma indicação não seria uma coisa inédita —até alguns exemplos da época de Dilma Rousseff e Lula foram resgatados. Ainda assim, o superintendente de Pernambuco continua sendo o escolhido da cúpula para assumir o Rio.
O plano agora é “esperar a poeira baixar”, segundo frase que tem sido usada internamente.
Na última segunda (26), Moro e o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, fizeram uma visita à superintendência do Rio. A agenda, segundo o ministério da Justiça, já estava prevista há semanas.
Ricardo Saadi, ainda oficialmente o número 1 da superintendência do estado, se afastou do comando desde que a crise começou.
Além de sua saída ter passado a ser conhecida publicamente, o fato de o presidente ter feito ataques criticando sua “produtividade e gestão” acelerou seu distanciamento da chefia, mesmo antes de sua remoção ser publicada.
Nesta terça (26), Moro fez elogio público a Valeixo, em evento no ministério da Justiça. No meio da crise, quando se mostrou irritado por não ter sua indicação contemplada, Bolsonaro chegou a falar em trocar o diretor-geral da PF, se não pudesse mudar o superintendente.
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