O Ministério Público Federal identificou como Antonio Carlos Correia da Silva, gerente financeiro da Argeplan, o responsável por tentar movimentar R$ 20 milhões em favor do coronel João Baptista Lima, acusado de ser uma espécie de laranja do ex-presidente Michel Temer (MDB).
De acordo com o MPF, Silva tentou abrir três contas no banco Santander em outubro de 2018 para receber depósitos que somavam R$ 20 milhões. A agência, contudo, se recusou a abrir as contas por regras de compliance —Lima já era alvo de investigações sobre Temer.
O que inicialmente se supunha um depósito em espécie foi identificado como uma tentativa de abertura de três contas para receber por meio de transferência a quantia —duas em nome da PDA, também de Lima, e uma de Carlos Alberto Costa, sócio de Lima.
O banco Santander, responsável pela primeira comunicação equivocada ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras), retificou a informação aos órgãos de controle. Dois gerentes também prestaram depoimento ao MPF para esclarecer o fato.
A movimentação de R$ 20 milhões foi uma das razões apontadas pela Procuradoria para a necessidade da prisão de Temer, Lima, do ex-ministro Moreira Franco, e os demais acusados na Operação Descontaminação —deflagrada em março no âmbito da Operação Lava Jato. Todos ficaram presos por quatro dias e soltos por liminar do desembargador Ivan Athié, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região).
Segundo o MPF, a data da tentativa de transferência coincide com o fechamento das contas da PDA no banco Bradesco. A instituição financeira tomou a medida também por regras de compliance, após Lima se tornar alvo de investigações públicas.
A PDA acabou não conseguindo retirar o dinheiro do Bradesco e teve bloqueados R$ 21,7 milhões nas contas daquele banco —valor semelhante ao que pretendia transferir ao Santander.
"A tentativa de transferência de valores de contas da PDA Admiminstração e Participação para conta em nome da pessoa física de Carlos Alberto Costa, que sequer é sócio da PDA, indica a necessidade de aprofundamento das investigações de possíveis crimes de lavagem de dinheiro", afirma a Procuradoria na petição ao juiz Marcelo Bretas.
O ex-presidente foi preso sob suspeita de chefiar uma quadrilha criminosa que por 40 anos recebeu vantagens indevidas por meio de contratos envolvendo estatais e órgãos públicos.
O Ministério Público liga o grupo de Temer a desvios de até R$ 1,8 bilhão, numa operação que teve como foco um contrato firmado entre a Eletronuclear e as empresas Argeplan (do coronel Lima), AF Consult e Engevix.
A defesa de Lima e Costa afirmou que a identificação da tentativa do depósito mostra que "não houve qualquer tentativa escusa de depósito de valores em espécie em favor das pessoas físicas e jurídicas investigadas".
"Existiu apenas mero contato com o banco Santander para possível abertura de conta e consequente transferência formal, via TED, de valores de origem lícita que já se encontravam depositados em contas mantidas em instituição financeira diversa, instituição esta que pretendia, injustificadamente, encerrá-las. Essa nova abertura de contas sequer foi necessária, pois a Justiça, em ação movida pelos investigados, garantiu a manutenção das contas já existentes no banco original", afirma a nota da defesa dos investigados.
"A modificação da versão inicialmente apresentada pelos procuradores da República e a adoção de novas medidas buscando justificar seus atos pretéritos só reforçam a precipitação acusatória e a ridícula mistificação sobre fatos simples e sem qualquer relevância jurídica", afirmou a defesa de Lima e Costa.
Temer já negou em outras oportunidades ter qualquer relação com a Argeplan ou qualquer outra empresa do coronel Lima.
A Folha não conseguiu contato com Silva ou sua defesa.
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