A cirurgia para retirada de uma bolsa de colostomia do presidente Jair Bolsonaro teve início na manhã desta segunda-feira (28) no hospital Albert Einstein, em São Paulo. O procedimento começou por volta das 6h30, segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência.
A estimativa de duração era de ao menos três horas.
Quando a cirurgia completava seis horas, o general Augusto Heleno, ministro do GSI, disse à Folha que o procedimento ocorria bem e a demora se devia a um atraso no início.
“Está tudo correndo bem, mas é um processo delicado mesmo e a cirurgia começou com um pouco de atraso”, afirmou o chefe do GSI, demonstrando tranquilidade.
Heleno é o único dos 22 ministros a acompanhar a cirurgia do hospital, ao lado da família. Ele viajou de Brasília a São Paulo no avião presidencial.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou em rede social às 12h53 que estava "tudo indo bem” no procedimento com o pai.
“Após a cirurgia ele ainda fica um tempo em observação antes de retornar ao quarto”, escreveu o parlamentar no Twitter.
O presidente foi internado na manhã de domingo (27) para a realização de exames pré-operatórios e após resultados mostrarem normalidade de sua saúde, o procedimento foi confirmado.
Esta é a terceira vez que Bolsonaro é operado desde que foi alvo de uma facada durante a campanha, em setembro de 2018.
o tempo
O tempo de cirurgia depende do grau de aderências que a equipe encontrou ao abrir o abdômen do presidente, segundo cirurgiões ouvidos pela Folha.
Em razão dos vários traumas ocorridos na região, é comum que as alças intestinais grudem entre si ou na parede abdominal.
“Tudo isso gera muita aderência e dificulta mesmo. É esperado”, afirma o cirurgião gastrointestinal Diego Adão Fanti Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo ele, unir o intestino é fácil e rápido. “O que demanda tempo é preparar as duas bocas [do intestino] para a anastomose ser segura."
Outra possibilidade que poderia justificar a demora na cirurgia além do tempo estimado pelo cirurgião Antônio Macedo, que acompanha Bolsonaro, seria uma eventual decisão médica de remover uma parte do intestino para facilitar a anastomose, ou seja, a costura das duas partes do intestino, que está sendo feita por meio de grampeador e pontos manuais. E isso leva mais tempo cirúrgico.
a presidência
O vice, general Hamilton Mourão, assumiu interinamente a Presidência da República e permanecerá no cargo nas próximas 48 horas que se seguirão à cirurgia.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional), sob o comando do general Augusto Heleno, montou uma estrutura provisória no mesmo andar do quarto do presidente para que ele possa manter a rotina de despachos.
Ele reassume a Presidência na quarta (30) e deve permanecer internado até meados da próxima semana. Os médicos estimam um período de dez dias para recuperação.
O Palácio do Planalto trouxe à capital paulista auxiliares técnicos e que dão suporte jurídico para a tomada de decisões do chefe do Executivo.
O escritório improvisado contará com um computador com internet, uma impressora e um telefone fixo. O espaço permitirá ainda que Bolsonaro se comunique com ministros e outros auxiliares que estejam fora de São Paulo por meio de videoconferência.
Há a previsão de uma entrevista coletiva e da divulgação de um boletim médico nesta segunda, logo após o encerramento do procedimento.
O governo trouxe também assessores de comunicação, como o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, para a realização de briefings diários sobre a saúde do presidente e atos do Executivo.
Seu filho, Eduardo Bolsonaro, se manifestou no Twitter pela manhã agradecendo mensagens de apoio ao presidente.
Na noite de domingo (27), o candidato ao comando do Senado Renan Calheiros também escreveu mensagem na rede social:
Entenda o passo a passo
Além do cirurgião Antônio Luiz Macedo, que acompanha o presidente, outros oito profissionais vão participar do procedimento: dois cirurgiões auxiliares, uma instrumentadora, dois anestesistas, uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem.
A cirurgia consiste em abrir o abdome e religar as duas pontas do intestino grosso que hoje estão separadas para que o trânsito intestinal volte ao normal. A sutura será feita com grampeador cirúrgico e pontos manuais, segundo Wagner Marcondes, gastrocirurgião.
Com isso, Bolsonaro deixará de usar a bolsa coletora de fezes, adotada desde setembro, quando foi esfaqueado durante campanha em Juiz de Fora (MG) e teve os intestinos grosso e delgado perfurados.
Para isolar as áreas lesionadas da passagem de fezes, o intestino foi separado. Uma ponta ficou exteriorizada até a pele para saída das fezes pela bolsa coletora. E a outra ponta ficou fechada dentro.
O procedimento envolverá um corte de 30 cm a 40 cm, exatamente no mesmo lugar da cicatriz resultante das duas cirurgias anteriores. O orifício onde hoje está a bolsa de colostomia também será fechado. O presidente ficará, então, com duas cicatrizes no abdome.
Segundo três gastrocirurgiões ouvidos pela reportagem da Folha, só quando o abdome estiver aberto é que será possível verificar claramente o grau de aderências na região.
Por causa dos ferimentos e dos procedimentos anteriores, é possível que haja alças intestinais grudadas entre si ou na parede abdominal.
O primeiro passo, então, será desgrudar esses tecidos. “Quanto mais aderências, mais a cirurgia pode demorar. Se a situação estiver favorável, pode levar três horas. Senão, de seis a 12 horas”, explica Fanti Silva.
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