Ala liberal da ma�onaria gasta milh�es com an�ncios e incomoda tradicionais
Guilherme Pupo/Folhapress | ||
Fachada da sede do Soberano Santu�rio, que imita um castelo medieval, em Curitiba (PR) |
A ma�onaria, que h� mais de 200 anos existe no Brasil sob um manto de segredo, est� estampando p�ginas dos maiores jornais e revistas do pa�s. Um bra�o ma�om liberal, renegado pelos �rg�os mais tradicionais da confraria, mas legalmente registrado, vem gastando milh�es de reais em an�ncios para arregimentar alunos.
A loja Soberano Santu�rio, que existe h� 12 anos e � sediada na reprodu��o de um castelo medieval na regi�o de Curitiba, come�ou h� meses uma investida midi�tica que inclui an�ncios de p�gina inteira em "Veja", "O Estado de S. Paulo" e Folha. Levantamento feito pela reportagem indica que o grupo gastou ao menos R$ 2 milh�es em tr�s meses, seguindo os valores dos an�ncios nos ve�culos.
"A gente tinha a vis�o de que a ma�onaria era muito elitista no Brasil. Ela n�o � s� para o homem que tem um diploma e algu�m para indicar", diz Bianca Moreira da Silva, 31, a fundadora e hierofante (sacerdotisa) do grupo. Ao contr�rio do que acontece nos bra�os mais tradicionais, o Soberano Santu�rio, que ela comanda com o marido Samuel Mineiro da Trindade, 37, n�o requer que candidatos sejam convidados por membros estabelecidos, e aceita mulheres.
H� outras lojas que oferecem inscri��o por e-mail ou por redes sociais como o Facebook, mas nenhuma delas havia chegado � grande m�dia at� 2017. "A ma�onaria em nenhum momento em seus ensinamentos diz que � secreta. O que ela pede � discri��o sobre o que voc� est� estudando", diz ela.
Os grupos mais tradicionais discordam dessa interpreta��o. "Institui��es ma��nicas regulares e reconhecidas mundialmente n�o arregimentam membros por an�ncios e n�o fazem propaganda", diz uma nota assinada pela Grande Loja Ma��nica do Estado de S�o Paulo e pelo Grande Oriente de S�o Paulo, duas das maiores pot�ncias ma��nicas do pa�s.
A reportagem se encontrou com alguns dos l�deres de grupos ma��nicos tradicionais. A maioria afirma ter planos de interpelar juridicamente o Soberano Santu�rio.
Mestres e gr�o-mestres disseram � Folha que veem com "pesar" os an�ncios, que para eles t�m "a inten��o de arregimentar membros e manchar a imagem da institui��o, comercializando uma ordem que existe h� 300 anos".
MA�ONARIA NA TV
A l�gica midi�tica do Soberano existe desde a funda��o. Nos primeiros anos fazia an�ncios na "Gazeta do Povo" paranaense. O primeiro programa de TV veio no fim de 2012. "J� est�vamos com uma estrutura de templo, de muitas pessoas participando. Houve vontade de fazer o programa. Surgiu a ideia do 'Ma�onaria na TV'", diz a l�der.
O programa, em que Bianca conversa com Samuel na frente de um chroma key (fundo falso em que s�o inseridas imagens) se iniciou na TV Transam�rica. Depois foi para a Band de Curitiba, ocupando entre 5 e 10 minutos da hora do almo�o com mensagens de autoajuda e promessas de uma vida melhor para quem se unir � ma�onaria.
Bianca ainda aparece em alguns dos an�ncios impressos. Na foto, a l�der posa em frente ao castelo com luvas brancas e uma toga preta.
Hoje a dupla aparece em redes transmitidas por parab�lica, como o Canal do Boi. "S�o canais n�o muito conhecidos do grande p�blico. Mas voc� chega muito no interior com eles", diz a hierofante.
Eles n�o revelam qual � o alcance ou o n�mero de pessoas que arregimentaram nessa d�cada. "S�o milhares de alunos", diz ela, que nas �ltimas semanas esteve em Manaus, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
"Nossa miss�o n�o � reunir, e sim semear. N�o estamos anunciando para arrebatar pessoas. Estamos para semear que existe a institui��o, elas entram no site, ligam, mandam e-mail. � uma campanha informativa."
O Sagrado Santu�rio tampouco comenta os gastos com publicidade. "� um valor muito alto", se limita a dizer a fundadora da loja, quando instada a responder quanto investiram nos an�ncios, e de onde veio o dinheiro.
PROCESSOS
H� ao menos seis ex-adeptos processando a agremia��o. Os casos correm em segredo de Justi�a. A Folha teve acesso a documentos de um deles, que � movido pelo dono de um pet shop que afirma ter tido dezenas de milhares de reais desviados pelo casal, que teria, segundo a acusa��o, usado cheques em seu nome. Bianca nega a acusa��o. "Na hora que aperta, voc� vai jogar para qualquer lado. Mas eu n�o tenho nada para declarar."
A sacerdotisa classifica as a��es judiciais como "uma grande campanha contra n�s". "A gente teve uma s�rie de persegui��es em 2014." Naquele ano, o casal foi preso. Policiais da delegacia de estelionato e desvio de cargas de Curitiba passaram dois meses ouvindo ex-membros do grupo, 20 dos quais acusaram a loja de pedir dinheiro, prometendo devolver quantia maior, o que n�o aconteceu.
A pris�o preventiva do casal, acusado de desfalcar seguidores em R$ 4 milh�es, durou menos de 24 horas, e eles respondem ao processo por estelionato em liberdade.
Samuel diz que houve preconceito dos ve�culos de comunica��o, que os trataram por "falsos ma�ons". "Nosso trabalho floresceu em meio � aus�ncia de toler�ncia, nosso templo jamais cessou suas atividades como uma �rvore frondosa que nos sombreia, protege e d� luz, temos ra�zes fortes e profundas."
Em 2015, os l�deres foram presos por suspeita de estupro e de c�rcere privado de uma garota de programa. A mulher disse que foi machucada pelo casal ap�s se negar a fazer o que eles pediam, e se trancar no banheiro. O grupo n�o comenta o epis�dio.
"Enfatizamos que nosso ensino propriamente dito n�o � cobrado", diz Samuel, que afirma dispensar na sua loja a cobran�a de "joia" (taxa de admiss�o) ou mensalidade.
A reportagem se inscreveu no site propagandeado nos an�ncios. Quem demonstra interesse recebe um e-mail em que se l�: "Nossas atividades e servi�os s�o mantidos por mensalidades em valores justos acess�veis. A sugest�o de contribui��o mensal � R$ 49,90 e mensalmente voc� recebe via correios uma apostila de estudos".
Al�m das apostilas, o site d� incentivo para quem segue adiante nos estudos, como diplomas e, ap�s o t�rmino do terceiro n�vel, a CIM –c�dula de identidade ma��nica.
MA�ONARIA INCLUIU D. PEDRO 1�
A ma�onaria � uma fraternidade de homens, com pretens�es filantr�picas e filos�ficas, que remonta � Idade M�dia. Entre ma�ons ilustres estariam presidentes americanos (como George Washington), pensadores (Voltaire) e m�sicos (Beethoven).
No Brasil, foram ma�ons personagens importantes da hist�ria, como dom Pedro 1� e Jos� Bonif�cio.
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