Campanhas do PMDB fizeram repasses em esp�cie e por empresas, diz delator
Ueslei Marcelino/Reuters | ||
![]() |
||
Marta Suplicy (PMDB), cuja campanha � prefeitura teria sido bancada pela CDN como contrapartida |
Em acordo de dela��o fechado com a Procuradoria-Geral da Rep�blica, o publicit�rio Renato Pereira, que trabalhou para o PMDB, disse que recebeu dinheiro vivo de caixa dois nas campanhas do ex-governador S�rgio Cabral, do ex-prefeito Eduardo Paes, do atual governador Luiz Fernando Pez�o, todas no Rio, e da senadora Marta Suplicy, em S�o Paulo.
As disputas eleitorais delatadas v�o de 2010 a 2016. A dela��o foi tornada p�blica pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), nesta ter�a (14). Seu teor havia sido revelado pelo jornal "O Globo".
Lewandowski devolveu o acordo � PGR sem homolog�-lo, por entender que o delator teve benef�cios demais. A PGR deve reanalisar o caso.
Na reelei��o de Cabral, em 2010, Pereira disse que recebeu valores oficialmente e tamb�m via caixa dois. Ele contou que foi orientado por Wilson Carlos, bra�o direito e ex-secret�rio de Cabral, a procurar o executivo da Odebrecht Leandro Azevedo, que lhe pagava em dinheiro vivo. A campanha teria custado de R$ 10 milh�es a R$ 12 milh�es.
Para retirar o dinheiro, segundo Pereira, era preciso informar uma senha que sempre mudava –geralmente, um nome de peixe, como tainha e badejo. O relato coincide com as investiga��es da Lava Jato, que mostraram que o chamado "departamento de propinas" da Odebrecht operava por meio de senhas para entregas de dinheiro.
Em 2012, na campanha que reelegeu Paes prefeito do Rio, o marqueteiro disse que recebeu caixa dois da Odebrecht para pagar despesas iniciais e que, durante o pleito propriamente dito, as entregas foram feitas por Guilherme Schleder, ex-secret�rio da Casa Civil da prefeitura.
Segundo o delator, os encontros eram marcados em um restaurante e um posto de gasolina, de onde ele e Schleder seguiam de carro at� condom�nios de luxo da Barra da Tijuca (zona oeste), onde o dinheiro era repassado.
A campanha que elegeu Pez�o governador, em 2014, come�ou muito antes do que era o normal, segundo Pereira, devido �s "dificuldades de comunica��o" do candidato.
A pr�-campanha foi or�ada em R$ 5 milh�es, de acordo com o marqueteiro. O pr�prio Pez�o teria lhe apresentado Hudson Braga, ex-secret�rio de Obras de Cabral, que seria o encarregado de operacionalizar os pagamentos.
J� o or�amento da campanha ficou em R$ 40 milh�es, segundo Pereira, valor acertado com Cabral e Wilson Carlos. O marqueteiro disse que lhe foi proposto receber da Odebrecht no exterior, mas que, por problemas internos, a empreiteira n�o pagou.
Por ordem de Pez�o, segundo o delator, parte do pagamento veio da Andrade Gutierrez, em transa��es que conferiram apar�ncia de legalidade aos pagamentos.
J� a pr�-campanha (em 2015) da senadora Marta Suplicy � Prefeitura de S�o Paulo, segundo Pereira, foi bancada pela CDN Comunica��o.
A CDN, conforme a dela��o, tinha contrato com o Minist�rio da Cultura na �poca em que Marta foi ministra e devia a ela "contrapartida". Marta disputou a prefeitura em 2016, mas perdeu para Jo�o Doria (PSDB).
Tamb�m em 2016 Pereira disse ter recebido pagamentos il�citos pela campanha do deputado federal Pedro Paulo � Prefeitura do Rio –ele ficou em terceiro lugar.
O marqueteiro imputou ainda irregularidades ao presidente da Fiesp (Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo), Paulo Skaf.
Pereira disse que assumiu a conta de publicidade do sistema Fiesp/Sesi/Senai em 2015 em uma licita��o direcionada para sua ag�ncia, a convite de Skaf. Recebendo pela Fiesp, o delator disse que foi incumbido de fazer pesquisas e a��es para promover a imagem de Skaf, que quer ser candidato em 2018.
OUTRO LADO
A assessoria do governador Pez�o afirmou em nota que todas as doa��es da campanha foram feitas de acordo com a Justi�a Eleitoral.
A Folha n�o localizou a defesa de Cabral. Marta Suplicy n�o respondeu at� a conclus�o desta edi��o.
Em nota, a CDN nega que tenha pago qualquer tipo de recompensa ou contrapartida por servi�os prestados por Renato Pereira ou pela Prole. "� mentira a declara��o de que sua contrata��o foi uma contrapartida da CDN por contrato de consultoria assinado com o Minist�rio da Cultura durante a gest�o da senadora Marta Suplicy. O contrato com o Minist�rio da Cultura foi vencido licitamente numa concorr�ncia p�blica sem que houvesse qualquer questionamento dos demais concorrentes ou de �rg�os fiscalizadores", diz a empresa.
Skaf disse, em nota, que a dela��o de Pereira n�o merece credibilidade. "S�o mentiras produzidas por um profissional que teve interesses contrariados. Seus contratos com o Sesi e o Senai n�o foram renovados. Ele tamb�m perdeu a licita��o que disputou no Sebrae de S�o Paulo."
Em nota, a Odebrecht afirmou que "est� colaborando com a Justi�a no Brasil e nos pa�ses em que atua", j� reconheceu seus erros e fez acordos de dela��o e leni�ncia.
A Andrade Gutierrez tamb�m informou que "segue colaborando com as investiga��es em curso dentro do acordo de leni�ncia firmado com o Minist�rio P�blico Federal".
Paes disse, via assessoria, que a dela��o � "mentirosa e inconsistente". "Pereira conta que o valor de R$ 25 milh�es or�ado inicialmente n�o se concretizou. O valor foi bem inferior e n�o houve caixa dois."
Pedro Paulo tamb�m afirmou que os depoimentos "n�o merecem qualquer credibilidade".
Os ex-secret�rios Braga, Wilson Carlos e Schleder n�o foram localizados.
*
POR TR�S DAS CAMPANHAS
O que diz o marqueteiro e delator Renato Pereira sobre disputas do PMDB
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Segundo Pereira, de fevereiro a junho de 2010 ele recebeu do executivo Leandro Azevedo, da Odebrecht, parcelas de R$ 300 mil mensais em dinheiro vivo para despesas da pr�-campanha
> Na campanha, or�ada em cerca de R$ 10 milh�es a R$ 12 milh�es, valor foi pago oficialmente e por meio de caixa dois
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Pereira diz que Paes lhe disse para procurar Azevedo para ele pagar o caixa dois da pr�-campanha, or�ada em R$ 400 mil
> Campanha de R$ 20 milh�es foi acertada em reuni�o entre o marqueteiro, Paes e o deputado federal Pedro Paulo. Pereira diz ter recebido ao menos cinco pagamentos em dinheiro vivo de Guilherme Schleder, assessor de Paes
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Segundo Pereira, a pr�-campanha saiu por R$ 5 milh�es, valor acertado com Pez�o, que indicou Hudson Braga (ex-secret�rio estadual de Obras) para operacionalizar os pagamentos
> A campanha ficou em R$ 40 milh�es, valor acertado com Cabral e seu bra�o direito, o ex-secret�rio Wilson Carlos. Parte do pagamento teria sido feito pela Andrade Gutierrez
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Pereira diz que, em reuni�o com a senadora e seu marido, M�rcio Toledo, or�ou a pr�-campanha em R$ 70 mil, e mais R$ 160 mil para o Instituto Ideia, que fez pesquisas. Valor teria sido pago pela ag�ncia CDN
> Na campanha em si, Pereira diz que foi consultor e recebeu R$ 316 mil do marqueteiro oficial de Marta
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Pereira diz que or�amento da pr�-campanha, em 2015, ficou em R$ 360 mil por m�s. Parte foi paga regularmente, parte em dinheiro vivo e outra parte (tr�s parcelas de R$ 300 mil) por S�rgio C�rtes, ex-secret�rio de Sa�de
> J� na campanha, or�ada em R$ 25 milh�es, Paes disse, segundo o delator, que o caixa dois seria quitado pela construtora Carvalho Hosken e pelo Grupo Guanabara, do empres�rio Jacob Barata -que nega a acusa��o
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
> Pereira diz que conheceu o presidente da Fiesp em 2014, mas n�o assumiu sua campanha ao governo paulista. Em fevereiro de 2015, o delator diz que Skaf ofereceu a conta do sistema Fiesp/Sesi/Senai, em licita��o direcionada
> O trabalho para entidade, na verdade, consistia em pesquisas e a��es para projetar o nome de Skaf para uma eventual disputa em 2018
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade