Poucos pa�ses t�m as tecnologias do Brasil, diz almirante sobre programa nuclear
Felipe Barra/Minist�rio da Defesa | ||
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O almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior a bordo de navio no Rio |
"Energia nuclear" � algo que mete medo em muita gente, nem precisa ser um ambientalista fan�tico. Afinal, duas bombas at�micas foram lan�adas contra o Jap�o em 1945 –que terminaram com a Segunda Guerra Mundial. Houve o desastre com o c�sio radiativo em Goi�nia em 1987, o acidente na usina de Chernobyl, na Ucr�nia, em 1986.
Por�m, a mesma energia prov� boa parte da eletricidade em v�rios pa�ses e tamb�m ajuda no diagn�stico e tratamento de doen�as como c�ncer.
E tamb�m serve para a propuls�o de navios guerra, notadamente os enormes porta-avi�es nucleares americanos de 100 mil toneladas de deslocamento, e uma grande frota de submarinos criada por cinco pa�ses –EUA, R�ssia, Fran�a, Reino Unido e China.
O Brasil quis fazer parte do clube nuclear desde a d�cada de 1950. Um dos principais pioneiros, talvez o mais importante, foi um almirante �lvaro Alberto, cujo nome foi escolhido para batizar o primeiro SN-BR (submarino nuclear brasileiro), que a Marinha espera lan�ar ao mar em 2029.
O almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral do Desenvolvimento Nuclear e Tecnol�gico da Marinha, deu mais detalhes do andamento do projeto. Como ele resume, "poucos pa�ses no mundo tiveram condi��es de conquistar, at� hoje, essas tecnologias".
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Folha - O programa nuclear da Marinha existe desde a d�cada de 1970. N�o h� d�vida de que houve progressos desde ent�o, por exemplo no enriquecimento de ur�nio, mas o pa�s ainda est� longe de ter um submarino nuclear –algo que os americanos obtiveram nos anos 1950. Que garantia tem o pa�s de que, desta vez, o programa est� no rumo certo? O primeiro submarino convencional, Riachuelo, ficar� pronto no tempo previsto?
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior - O Programa Nuclear da Marinha (PNM) sempre esteve no rumo certo, sem sombra de d�vidas. O que ocorre � que ele � um programa de Estado, de longo prazo, como todos os programas desta magnitude e complexidade.
Outro aspecto importante a se levar em conta � o fato de a tecnologia nuclear n�o ser transferida por nenhum pa�s. Ou seja: tivemos que desenvolv�-la de forma aut�noma.
� preciso lembrar, tamb�m, que o Programa Nuclear da Marinha, iniciado em 1979, compreendia dois grandes projetos: o dom�nio do ciclo do combust�vel nuclear; e a constru��o do Laborat�rio de Gera��o Nucleoel�trica (Labgene).
O primeiro foi conclu�do em 1987, quando a Marinha divulgou, oficialmente, o dom�nio do dif�cil processo do enriquecimento de ur�nio por ultracentrifuga��o, tecnologia de alto valor agregado.
A partir dessa tecnologia, a Marinha passou a colaborar com as Ind�strias Nucleares do Brasil (INB) e, desde 2000, fornece ultracentr�fugas para sua planta industrial em Resende (RJ), onde � produzido o combust�vel nuclear para as Usinas de Angra, um bom exemplo do uso dual dessa tecnologia.
Quanto ao segundo projeto, estamos vendo nossos objetivos iniciais se tornarem realidade, com a proximidade do comissionamento do Labgene, a primeira instala��o de energia nucleoel�trica totalmente projetada no pa�s, que ser�, em terra, o prot�tipo da planta de propuls�o do nosso submarino nuclear. Poucos pa�ses no mundo tiveram condi��es de conquistar, at� hoje, essas tecnologias.
No que diz respeito ao primeiro submarino convencional, o "Riachuelo", parte do nosso Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), ele ser� lan�ado ao mar no ano que vem, cumprindo o que est� previsto no cronograma do programa atualmente em vigor.
A simples express�o "energia nuclear" gera medo em muitas pessoas. Que outros objetivos t�m o programa para a sociedade brasileira?
� compreens�vel que haja certo receio em rela��o � energia nuclear, mas ele se deve, fundamentalmente, a muita desinforma��o e preconceito. As tecnologias desenvolvidas pelo Programa Nuclear da Marinha geram in�meros benef�cios para a sociedade brasileira.
O fato de termos o dom�nio do ciclo do combust�vel e a tecnologia de constru��o de plantas nucleares, por exemplo, � garantia de que podemos ampliar nossa matriz energ�tica com gera��o limpa de eletricidade.
Outro exemplo concreto desses benef�cios � o projeto do Reator Multiprop�sito Brasileiro (RMB). Trata-se de um empreendimento da Comiss�o Nacional de Energia Nuclear (CNEN), de grande alcance social e arrasto tecnol�gico, que se beneficiar� do esfor�o e do investimento realizados pelo Programa Nuclear da Marinha.
Com ele, vamos ser menos dependentes e mais eficientes na produ��o de radiof�rmacos, para emprego na medicina nuclear e fundamental no diagn�stico de diversas enfermidades e no tratamento de v�rios tipos de c�ncer.
Hoje, para termos uma ideia, o uso per capita de procedimentos de medicina nuclear no Brasil � duas vezes e meia menor que na Argentina e seis vezes menor que nos Estados Unidos.
Outros impactos positivos do investimento em energia nuclear s�o a nacionaliza��o de processos e equipamentos industriais, as inova��es decorrentes das parcerias do programa com universidades e institutos de pesquisa e a gera��o de empregos diretos e indiretos, sem contar os reflexos diretos do programa na conquista de nossa independ�ncia em tecnologias sens�veis e no desenvolvimento da ind�stria nacional de defesa.
A Marinha tem investido muito em instala��es em Iper� e Itagua� para produzir um submarino nuclear. Mas, como se costuma dizer, quem tem s� um, n�o tem nenhum –pois o navio tem que ficar parte do tempo em tr�nsito, ou na sua base. H� planos para produzir mais submarinos?
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), decorrente do Acordo Estrat�gico com a Fran�a, assinado em 2008, compreende a constru��o de quaatro submarinos convencionais (S-BR), um com propuls�o nuclear (SN-BR) e a constru��o de uma infraestrutura industrial e de apoio para constru��o, opera��o e manuten��o dos submarinos.
Tamb�m envolve a transfer�ncia de tecnologia e, fruto dessa transfer�ncia, em janeiro deste ano foi conclu�do, com sucesso, por engenheiros e t�cnicos brasileiros, o projeto do SN-BR.
Cabe lembrar, contudo, que a Estrat�gia Nacional de Defesa estabelece que "o Brasil contar� com uma for�a naval submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propuls�o nuclear. O Brasil manter� e desenvolver� sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de propuls�o convencional, como de propuls�o nuclear."
Seguindo essa orienta��o, j� est�o em andamento os estudos que avaliam as possibilidades de amplia��o do programa no futuro, utilizando as instala��es de que dispomos.
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