Sistema que identificou digitais de Geddel em dinheiro est� travado
Uma das principais ferramentas de investiga��o da Pol�cia Federal (PF) est� parcialmente inutilizada por falta de manuten��o. O sistema AFIS (sigla da tradu��o do ingl�s de Sistema de Identifica��o Automatizada de Impress�es Digitais), que identifica e cruza dados de impress�es digitais, n�o consegue mais armazenar nem cruzar informa��es. O sistema foi essencial na identifica��o das digitais do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) nos pacotes de dinheiro encontrados em apartamento emprestado por seu amigo.
O cancelamento da manuten��o aconteceu porque desde o dia 4 de setembro encerrou-se o contrato da Pol�cia Federal com a IAFIS, empresa respons�vel pelo suporte do sistema. Atualmente os papiloscopistas (peritos que identificam impress�es digitais) da PF n�o podem armazenar dados no sistema e nem fazer cruzamento de fragmentos de impress�o com os dados armazenados. Foi esse tipo de cruzamento que permitiu encontrar a digital de Geddel nas notas apreendidas.
Um memorando assinado pelo diretor do Instituto Nacional de Identifica��o, Brasilio Caldeira Brant, foi enviado aos diretores das superintend�ncias regionais da Pol�cia Federal alertando sobre os problemas no sistema e indicando procedimentos.
"Em fun��o disso (cancelamento da manuten��o) e diante do iminente esgotamento do banco de imagens do sistema, cuja manuten��o ficava a cargo da empresa contratada, este Instituto Nacional de Identifica��o orienta a todos os usu�rios AFIS a n�o fazer nenhum tipo de inclus�o, at� que novo contrato seja assinado", diz o documento.
"Tal precau��o deve ser tomada j� que, completando-se todo o espa�o do banco de imagens, toda e qualquer funcionalidade do AFIS ser� interrompida, sem que seja poss�vel estimar quais preju�zos isso traria ao sistema. Vale ressaltar que o sistema ainda poder� ser utilizado para consultas de impress�es digitais constantes no banco de dados."
PASSAPORTES
Outra circular orienta os policiais a n�o utilizarem o sistema para checar passaportes ou a identidade de foragidos internacionais. "AFIS fora do ar e sem previs�o (de retorno). Nesse per�odo as consultas Interpol e todos os passaportes emitidos n�o ser�o consultados no sistema", diz a nota.
A Folha ouviu papiloscopistas da Pol�cia Federal sobre o problema. Sob a condi��o do anonimato, eles disseram que o sistema est� parado. Passaportes ser�o emitidos sem garantia de unicidade do cidad�o, disse um papiloscopista. Segundo ele, todas as unidades da PF nos Estados que utilizam o sistema AFIS ter�o seus trabalhos de per�cia papilosc�pica (identifica��o de suspeitos, fragmentos de impress�o digital encontradas em local de crime, identifica��o de estrangeiro) prejudicados.
Outro perito diz que o sistema pode ser perdido de vez, caso n�o haja manuten��o. Se n�o houver a atualiza��o do software, segundo ele, o AFIS ter� sobrevida at�, no m�ximo, abril de 2018. O banco de dados do sistema hoje armazena as digitais de cerca de 23 milh�es de pessoas.
O policial federal Fl�vio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, diz que o problema � de gest�o. "O sistema vai parar por falta de manuten��o. A emiss�o do passaporte ter� o ciclo rompido do ponto de vista de seguran�a. As per�cias ser�o prejudicadas. Os Estados n�o poder�o fazer pesquisas de fragmentos. Mais um erro de gest�o que afeta diretamente as investiga��es."
DIGITAIS DO GEDDEL
No processo de per�cia que identificou a digital de Geddel Vieira Lima no dinheiro apreendido pela Pol�cia Federal v�rios equipamentos dos papiloscopistas falharam. A identifica��o foi poss�vel mais pela persist�ncia dos policiais do que pela efici�ncia dos instrumentos.
Peritos ouvidos pela Folha sob a condi��o de anonimato contam que o equipamento de an�lise papilosc�pica superaqueceu e parou de funcionar v�rias vezes durante a per�cia. O aparelho usado para recolher as impress�es digitais tamb�m parou de funcionar por superaquecimento, devido � quantidade de dinheiro a ser periciado combinado com o calor de Salvador. Foram apreendidos R$ 51 milh�es no apartamento do amigo do ex-ministro.
V�deo mostra a contagem do dinheiro
O trabalho come�ou pela manh�. No come�o da noite, os papiloscopistas encontraram alguns fragmentos de digitais e passaram ent�o para a fase de compara��o com os dados arquivados no sistema AFIS, que n�o retornou nenhum candidato compat�vel com os fragmentos descobertos. Foi ent�o que os peritos resolveram comparar o material com as digitais de alguns suspeitos.
Os problemas, por�m, continuaram. O leitor biom�trico do AFIS parou de funcionar e os peritos levaram cerca de meia hora para conseguir reativ�-lo. Depois que conseguiram fazer o sistema funcionar tentaram comparar os fragmentos com as digitais de quatro suspeitos, entre eles, Geddel. O AFIS, ent�o, parou de funcionar novamente.
Por volta de meia-noite o AFIS voltou a operar e, finalmente, confirmou que dois dos fragmentos das digitais encontradas no dinheiro eram do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Duas da manh� o laudo foi enviado ao delegado do caso.
OUTRO LADO
A Pol�cia Federal divulgou nota em que diz que "o sistema AFIS –Sistema Automatizado de Identifica��o de Impress�es Digitais– continua em funcionamento". Segundo a PF, "nenhum servi�o prestado pela Policia Federal que dependa da pesquisa nessa base de dados ser� afetada. O processo de assinatura do novo contrato est� em vias de finaliza��o."
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