Nova procuradora-geral, Dodge tem desafio de mudar sem afetar Lava Jato
Renato Costa - 4.jul.2017/Folhapress | ||
Raquel Dodge assume o cargo de procuradora-geral nesta segunda-feira (18) |
A nova procuradora-geral da Rep�blica, Raquel Dodge, 56, assume com a inten��o de mudar o estilo de condu��o da institui��o e mostrar que n�o vai diminuir o ritmo da Lava Jato, apesar de ter sido indicada por Michel Temer, alvo de duas den�ncias do antecessor Rodrigo Janot.
Dodge toma posse nesta segunda-feira (18) em uma r�pida cerim�nia com a presen�a do presidente Temer. Ambos devem fazer um r�pido pronunciamento.
Janot j� avisou que n�o vai � cerim�nia. Advers�rio de sua sucessora, ele alega que n�o foi convidado para a posse. Raquel Dodge rebate essa vers�o e afirma que o chamou por e-mail.
A palavra "discri��o" � usada nas rodas de conversa dos assessores e procuradores mais pr�ximos da nova chefe da Procuradoria-Geral da Rep�blica para definir o estilo dela.
Diferentemente de Janot, Dodge pretende evitar o protagonismo na condu��o da Lava Jato. Delegou a miss�o ao procurador Jos� Alfredo de Paula Silva, que vai coordenar o grupo de trabalho da opera��o dentro da Procuradoria-Geral.
Ele atuou na investiga��o do mensal�o e na Opera��o Zelotes, que investiga esquema de fraudes no Carf, conselho no qual contribuintes recorrem de multas aplicadas pela Receita Federal.
OUTROS TEMAS
Em rela��o �s dela��es premiadas, Dodge deve fazer um pente-fino nas negocia��es, incluindo a mais pol�mica de todas, com os executivos da JBS.
A procuradora tem dito que dar� visibilidade a outros temas, como quest�es ligadas a ind�genas e minorias, causas c�veis no STF (Supremo Tribunal Federal) e direitos humanos.
Por isso, escolheu para compor sua equipe procuradores que v�m trabalhando com a quest�o ind�gena –como Luciano Mariz Maia, novo vice-procurador-geral, e Mara Elisa de Oliveira, que ser� sua chefe de gabinete.
Primeira mulher a ocupar o cargo mais alto do Minist�rio P�blico Federal, Dodge assume sob uma expectativa nada f�cil de alcan�ar: pacificar as rela��es entre a PGR com o Congresso, o Planalto, o Supremo Tribunal Federal e a Pol�cia Federal.
Pedro Ladeira - 27.mai.2015/Folhapress | ||
Raquel Dodge, � dir., em debate na PGR ao lado de seu antecessor, Rodrigo Janot |
Ao mesmo tempo, ela toma posse no cargo sob desconfian�a, por ter sido indicada por Temer, alvo de duas den�ncias de Janot –a �ltima delas na semana passada, por obstru��o de Justi�a e organiza��o criminosa.
Seu nome teria sido costurado no Planalto pelo ministro Gilmar Mendes (STF), advers�rio declarado de Janot.
A imagem de Dodge se desgastou depois da revela��o de um encontro secreto (n�o registrado em agenda oficial) que teve com o presidente, ap�s sua nomea��o, no Pal�cio do Jaburu.
Por isso, sua postura na condu��o da Lava Jato � vista como um enigma. Enquanto advers�rios apostam que a nova gest�o pode diminuir o ritmo das investiga��es, aliados da procuradora-geral defendem que seu estilo discreto n�o � nada incompat�vel com um comportamento "linha dura".
O primeiro pronunciamento de Dodge � imprensa ser� em uma entrevista coletiva, prevista para ser realizada nesta semana. A procuradora, assim, tenta passar uma mensagem de que n�o vai priorizar nenhum ve�culo de comunica��o.
A assessoria da procuradora disse � Folha que a nova equipe da Procuradoria "atuar� de acordo com a orienta��o" dela, com "discri��o, seriedade e firmeza".
"Haver� um firme prop�sito de consolida��o e avan�o, nos limites constitucionais, quanto � utiliza��o das novas t�cnicas de investiga��o criminal que se mostraram como ferramentas eficazes de apura��o e combate ao crime organizado e � corrup��o", afirma nota da PGR.
Al�m de Jos� Alfredo de Paula Silva na Lava Jato, Dodge nomeou Raquel Branquinho para cuidar das investiga��es criminais de pol�ticos com foro no Supremo Tribunal Federal.
Branquinho e Silva, ao lado do procurador Alexandre Espinosa, membro do Grupo de Trabalho da Lava Jato, atuaram no passado em diversas opera��es contra a corrup��o e estiveram juntos na investiga��o do mensal�o, por exemplo.
Janot fechou 159 acordos de colabora��o, deixando para Dodge uma s�rie de inqu�ritos em curso.
POL�CIA FEDERAL
Dodge ter� de reconstruir pontes com a PF, que enfrentou desaven�as com Janot principalmente em torno das dela��es premiadas.
O ex-procurador-geral ajuizou a��o no STF para proibir policiais de fecharem acordos, mas o tribunal ainda n�o tomou uma decis�o sobre o assunto. O clima de embate contaminou o cotidiano das duas institui��es, que atuam juntas durante a fase investigativa dos inqu�ritos.
Sobre a rela��o com a PF, sua assessoria diz que a PGR vai se basear em "di�logo, respeito m�tuo, valoriza��o do trabalho de investiga��o da pol�cia e coopera��o".
"A proposta da nova equipe � inteirar-se de todas as investiga��es e processos em andamento no prop�sito de dar continuidade aos trabalhos, com plena consci�ncia da responsabilidade que paira sobre a institui��o em raz�o do cen�rio de apura��o de fatos relacionados �s diversas autoridades com foro no STF, situa��o jamais vivenciada pelo pa�s", afirma.
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ISTO � RAQUEL DODGE
- Idade 56 anos
- Origem Nascida em Morrinhos (GO). � filha do procurador aposentado Jos� Ferreira
- Vida pessoal Casada com o americano Bradley Dodge. � m�e de Sophia e Eduardo
- Carreira Mestre em direito pela Universidade Harvard, ingressou no MPF em 1987
- � subprocuradora-geral da Rep�blica com atua��o no STJ na �rea criminal e integra a C�mara que trata de assuntos relacionados ao consumidor e � ordem econ�mica
- Coordenou a C�mara Criminal, atuou na opera��o Caixa de Pandora (2009), que revelou o mensal�o do DEM, e participou da reda��o do Plano Nacional para Erradica��o do Trabalho Escravo
- Ficou em 2� lugar na lista tr�plice encaminhada ao presidente Temer ap�s vota��o entre os procuradores para o cargo de procurador-geral; em 2015, havia ficado em 3� lugar
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