Sob press�o, Temer quer convencer de que � preciso ser mais inteligente que afoito
Fotomontagem | ||
Da esq. para dir., os ex-presidentes Jos� Sarney, Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma |
"N�o existe ningu�m no Brasil eleito sem caixa dois." Preso em Curitiba, Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo, resumiu nesta frase o impacto que as dela��es de 78 executivos da empreiteira ter�o sobre o Pal�cio do Planalto, o Congresso e as elei��es de 2018.
Sob press�o da crise pol�tica agravada com a publicidade dos depoimentos, Michel Temer ofereceu ao Congresso o discurso de que a pauta econ�mica ser� a t�bua de salva��o de seu governo e de parlamentares atingidos em cheio pelas investiga��es.
O c�lculo � simples: Temer sabe que a melhora da economia � o que dar� viabilidade a seu mandato mas, em depend�ncia quase qu�mica com o Legislativo, precisa que deputados e senadores sejam, por ora, mais inteligentes do que afoitos e votem as reformas antes de medidas que possam vir a garantir a sobreviv�ncia da classe pol�tica no ano que vem.
A tese de Temer � que as reformas trabalhista e da Previd�ncia impulsionar�o os �ndices econ�micos, o que vai melhorar o humor da opini�o p�blica e, somente depois disso, ser� poss�vel mudar o foco da pauta legislativa.
Pedro Ladeira - 19.abr.2017/Folhapress | ||
O presidente Michel Temer e o juiz Sergio Moro, respons�vel pela Lava Jato |
Para o presidente, essa � a receita perfeita para que seu governo se equilibre at� 2018 e parlamentares consigam se reeleger, mantendo a prerrogativa de foro privilegiado, fundamental para os 24 senadores e os 39 deputados sob investiga��o do Supremo.
RESSON�NCIA
No Congresso, o discurso reverberou. Parlamentares t�m repetido que hoje n�o h� clima para a vota��o de medidas que salvem a pele dos pol�ticos antes de a economia apresentar alguma melhora e que a aprova��o da anistia ao caixa dois, por exemplo, n�o adiantaria para a maioria dos casos.
Dos 98 investigados pelo STF, apenas 30% se enquadrariam no crime eleitoral de n�o informar � Justi�a sobre doa��es de campanha.
Em conversa com os presidentes da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE), Temer admitiu o estrago causado pelas dela��es que colocaram 8 de seus 28 ministros —inclusive Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral)—, sob investiga��o do Supremo Tribunal Federal. Mas ponderou que, por ora, n�o v� clima poss�vel para um enfrentamento com o Judici�rio.
Com o discurso de que enfrentar a Lava Jato tem sido um desafio b�lico, pol�ticos exercem a mais expl�cita press�o para tentar limitar as investiga��es.
Nos bastidores, por�m, admitem que a opera��o � uma mudan�a de paradigma no modo de fazer pol�tica e que n�o ser� f�cil faz�-la parar.
ABUSO DE AUTORIDADE
H� quem defenda, contudo, que � poss�vel votar as reformas de Temer ao mesmo tempo que medidas para limitar a atua��o do Judici�rio -um exemplo � o projeto de abuso de autoridade.
A partir disso, a estrat�gia seria investir em uma reforma pol�tica que garanta a sobrevida dos pol�ticos na pr�xima elei��o.
Em encontro com aliados no Pal�cio da Alvorada, Temer ouviu que a crise gerava sacrif�cios apenas para a classe pol�tica e que era preciso responder � altura.
O presidente mudou o discurso adotado desde a divulga��o das dela��es e, sem citar a Lava Jato, disse que � preciso "resistir" e n�o se intimidar.
Foi um aceno para que parlamentares continuem os trabalhos, aprovem as reformas e contem com o Planalto.
A simbiose estabelecida entre governo e Congresso, permeada pelos efeitos das dela��es da maior empreiteira do pa�s, desembocar� justamente em 2018.
Com o cen�rio pol�tico de terra arrasada e os principais postulantes ao Planalto implicados na Lava Jato, abre-se espa�o para a renova��o nas disputas do pr�ximo ano.
E essa tese apavora os pol�ticos do establishment, que acreditam que um "outsider" ou "aventureiro" poderia desestabilizar de vez o pa�s.
Como mostrou recentemente a Folha, emiss�rios de Temer e dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso tentam costurar um pacto para salvar a reputa��o da classe pol�tica.
"Apoiamos as investiga��es, mas sem a pol�tica n�o h� solu��o'", afirmou � Folha o presidente do PSDB, senador A�cio Neves (MG).
Assim como ele, dois presidenci�veis tucanos est�o na lista dos citados nas dela��es da Odebrecht: Geraldo Alckmin (SP) e Jos� Serra (SP).
Caso a economia n�o deslanche e outros dois potenciais delatores —Eduardo Cunha (PMDB) e Antonio Palocci (PT)— cumpram as apostas de incluir novos setores empresariais nas investiga��es, Temer pode chegar a 2018 radioativo, de quem todo mundo vai querer dist�ncia.
Lula, por sua vez, r�u e investigado na Lava Jato, est� com a imagem desgastada, mas ainda � visto como poss�vel candidato, e n�o s� por pol�ticos da esquerda.
Partidos e pol�ticos tradicionais ter�o que fazer uma transi��o n�o s� no discurso mas tamb�m na pr�tica.
Quem n�o atravessar essa ponte n�o ir� sobreviver nem mesmo sob um pretenso pacto conduzido pelos principais l�deres pol�ticos da hist�ria recente do pa�s.
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