Tr�plex de Lula era parte de propina ao PT, diz L�o Pinheiro
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
![]() |
||
Fachada do edif�cio Solaris, em Guaruj�, onde fica o apartamento que seria de Lula |
Um tr�plex em Guaruj� (SP) destinado ao ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva seria abatido das propinas que a OAS tinha de pagar ao PT por obras na Petrobras, disse o empreiteiro L�o Pinheiro a investigadores da Lava Jato.
O depoimento, revelado pela revista "Veja" e confirmado pela Folha, consta da negocia��o de dela��o premiada de Pinheiro, que foi suspensa pelo procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, ap�s vazamento de uma informa��o anterior, que mencionava o ministro do Supremo Dias Toffoli.
Tamb�m s�o citados por Pinheiro a presidente Dilma Rousseff, o senador A�cio Neves (PSDB-MG) e o ministro das Rela��es Exteriores, Jos� Serra (PSDB).
"Ficou acertado que esse apartamento seria abatido dos cr�ditos que o PT tinha a receber por conta de propinas em obras da OAS na Petrobras", disse Pinheiro, sobre conversa com o ex-tesoureiro do PT Jo�o Vaccari Neto em 2010.
"Nesse contato, perguntei para Vaccari se o ex-presidente Lula tinha conhecimento do fato, e ele respondeu positivamente [...]", completou.
Pinheiro afirmou ainda que a reforma feita no tr�plex pela OAS "n�o seria cobrada do ex-presidente", porque seria abatida "tamb�m como uma retribui��o dos servi�os prestados por Lula com a OAS na �rea internacional".
Em outra parte da dela��o, o empreiteiro tratou do s�tio em Atibaia (SP) atribu�do a Lula. Pinheiro disse que o petista solicitou "abertamente", em 2014, uma reforma no s�tio, sem perguntar quanto custaria nem mencionar como seria paga.
Da mesma forma, disse, ficou "impl�cito que a OAS atuaria e seria remunerada com o abatimento dos cr�ditos com o PT e em retribui��o ao servi�o prestado por Lula em favor dos neg�cios internacionais da empresa".
Pinheiro disse ainda que contratou Lula para uma palestra na Costa Rica, em 2011, por US$ 200 mil. A OAS tinha interesses no pa�s e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, havia dito que o petista poderia "influenciar autoridades locais em prol dos neg�cios da OAS".
Ap�s a palestra, segundo Pinheiro, Lula o levou a um jantar com a ent�o presidente Laura Chinchilla.
Em outra parte do acordo de dela��o, o empreiteiro disse que pagou caixa dois � campanha de Dilma em 2014, por meio de contrato fict�cio com a ag�ncia de comunica��o Pepper. Foram tr�s parcelas de R$ 239,3 mil, segundo Pinheiro —valor solicitado pelo ent�o tesoureiro Edinho Silva "para o pagamento de despesas da campanha".
Por fim, Pinheiro disse que, a pedido de Okamotto, custeou a armazenagem de bens pessoais de Lula a partir de 2010 –quando ele ainda era presidente–, em troca de ajuda para a OAS no exterior.
TUCANOS
Ao falar de tucanos, Pinheiro citou um esquema de propina nas obras do Rodoanel Sul, em S�o Paulo, no governo Serra (2007-2010).
Segundo ele, a OAS, que ganhou o lote 5 da obra, integrava um cartel que se reunia na Andrade Gutierrez, a partir de 2004, para acertar as licita��es. "Na licita��o com contrato assinado em 2007 havia um convite de 5% de vantagens indevidas para Dario Rais Lopes e Mario Rodrigues", disse Pinheiro.
Lopes era secret�rio de Transportes no governo Geraldo Alckmin, e Rodrigues, diretor de engenharia.
Ainda segundo o depoimento, em 2007, por determina��o de Serra, o contrato foi renegociado e ficou 4% mais barato. "Em raz�o dessa negocia��o, os valores de vantagens indevidas tamb�m foram repactuados para 0,75%".
Parte da propina, ainda segundo Pinheiro, foi paga por meio de uma empresa e outra parte, em dinheiro vivo.
Com rela��o ao A�cio, o dono da OAS relatou propina de 3% nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, durante o governo A�cio Neves (2003-2010).
Como adiantou a Folha em junho, os pagamentos eram feitos para Oswaldo Borges da Costa Filho –"operador de A�cio Neves e controlador das contas das empresas do pol�tico", nas palavras de Pinheiro, que tamb�m atuou nas campanhas do tucano.
OUTRO LADO
A assessoria do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, procurada pela reportagem neste s�bado (27), voltou a afirmar que o ex-presidente n�o � dono do apartamento tr�plex no Guaruj� nem do s�tio em Atibaia, atribu�do a ele por delatores da Lava Jato. Informou ainda que o ex-presidente n�o cometeu nenhum ato il�cito.
"N�o costumamos comentar trechos de supostas negocia��es de dela��es, que nem sequer foram fechadas e que ter�o que ser comprovadas por fatos", informou a assessoria. "N�o se sabe se o autor das acusa��es � a OAS ou se s�o palavras dos pr�prios procuradores".
Sobre a acusa��o de que Lula teria recebido US$ 200 mil da construtora para influenciar autoridades da Costa Rica e ajudar em neg�cios da OAS no pa�s, a assessoria informou que "Lula nunca fez lobby, fez palestras" e que o valor cobrado era sempre o mesmo, independentemente do contratante. Ressaltou ainda que as palestras foram feitas ap�s o mandato presidencial, quando Lula n�o estava mais a servi�o do governo.
Sobre a acusa��o de que a OAS teria pagado pela guarda de bens pessoais de Lula, o que implicaria em gastos de R$ 21.536 mensais, a assessoria de imprensa afirma estranhar a data da suposta reuni�o no Instituto Lula, em que teria sido fechado esse acordo em 2010, uma vez que o instituto s� foi formalmente constitu�do em agosto de 2011.
A assessoria de Lula informou ainda que n�o se trata de bens pessoais do ex-presidente, mas de documentos, cartas e presentes recebidos de admiradores que, embora privados, s�o de interesse p�blico e n�o podem ser desfeitos sem a autoriza��o do Estado brasileiro.
"Ainda que n�o comentemos supostas dela��es, esse ponto n�o implica em nenhum il�cito. O ex-presidente Fernando Henrique, segundo reportagem publicada pela revista "�poca", ofereceu jantares no Pal�cio Planalto para arrecadar recursos para seu instituto quando ainda era presidente".
"A Pepper n�o tinha rela��o com a campanha, ela tinha contrato com o PT. Todas as reuni�es que eu tive com o referido empres�rio [Leo Pinheiro] foram para tratar de doa��es legais, que foram declaradas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral)", afirma Edinho Silva, ent�o tesoureiro da campanha de Dilma em 2014.
J� o senador A�cio Neves (PSDB) afirmou, por meio de nota, que desconhece as afirma��es citadas na mat�ria e "as considera falsas e absurdas". Segundo ele, "trata-se das mesmas cita��es j� publicadas h� dois meses, sem a apresenta��o de quaisquer elementos ou provas que as atestem".
A nota afirma ainda que todas as especifica��es do edital da obra citada foram apresentados ao Minist�rio P�blico e ao Tribunal de Contas do Estado antes da abertura, e que ela foi conduzida com "absoluta transpar�ncia e controle da sociedade".
A presidente afastada Dilma Rousseff tamb�m afirmou por meio de nota ser "fantasiosa" a informa��o de que o governo federal "teria determinado 'a elabora��o de contrato fict�cio de presta��o de servi�os relacionados a a��es de publicidade e pesquisa interativa com a ag�ncia de comunica��o e publicidade Pepper para o pagamento de despesas da campanha'" de Dilma.
Segundo o texto, a ag�ncia Pepper "n�o foi fornecedora da campanha da reelei��o de Dilma Rousseff" ou prestou servi�os ao governo federal. Ela nega ainda ter recebido dinheiro via caixa dois.
Por meio de nota, a assessoria do ministro Jos� Serra afirma que, "ao contr�rio do que d� a entender a mat�ria, a licita��o, a assinatura do contrato e o in�cio das obras do trecho sul do Rodoanel aconteceram em 2006. O mandato de Jos� Serra no governo de S�o Paulo teve inicio em 1� de janeiro de 2007. Os dois dirigentes da �rea de transportes mencionados na mat�ria conclu�ram suas fun��es em 2006 e n�o continuaram em seus cargos na nova administra��o. Ao assumir o governo paulista, Jos� Serra determinou, sim, a renegocia��o desse contrato, reduzindo seus custos em quase 4%. A economia para os cofres p�blicos foi de R$ 174 milh�es —equivalentes a R$ 300 milh�es a pre�os atuais.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade