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Leitores da Folha lembram com carinho de games dos anos 1980 e 1990

Morte de criador do sistema que deu origem ao Nintendo suscitou lembranças em gamers

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São Paulo

O mercado dos games já é mais rentável do que o cinema, televisão e música juntos. São cerca de US$ 300 bilhões movimentados por ano pelos jogos. O que parece ser algo recente, na verdade, é fruto de décadas de pesquisa, desenvolvimento, aprimoramento e, claro, fidelidade dos gamers.

Já na década de 1980, crianças, adolescentes e adultos foram apresentados aos jogos eletrônicos. O Atari reinou nessa época. Os videogames ganharam mais tração no mercado com as novidades dos anos 1990.

Foi nessa década que surgiram alguns dos consoles mais amados até hoje, como Super Nintendo, Nintendo 64, Sega Saturn e PlayStation.

Não é exagero dizer que os consoles da quinta geração— aqueles lançados entre 1993 e 2002— mudaram o mundo dos games. Graças a eles, os jogos 3D se tornaram recorrentes e populares. No caso do Nintendo 64, por exemplo, alguns títulos das principais franquias de jogos da Nintendo, como Super Mario, The Legend of Zelda, Donkey Kong e Pokémon, provocaram frenesi no Oriente e no Ocidente.

Mas não foi só a Nintendo quem emocionou os jovens no passado. O analista ambiental Felipe Melo Rezende, 43, conta que era daquelas crianças que madrugavam para poder jogar um pouquinho antes do dia efetivamente começar. Nos anos 1980, Felipe pulava da cama e ia direto para a locadora atrás de sua casa jogar Fantastic Voyage no Atari. Na época, ele morava em Pereira Barreto, no interior de São Paulo, mas hoje, vive em Imbituba, Santa Catarina.

"O jogo se passava dentro do corpo humano em que uma nave, dentro de veias e artérias, ia combatendo invasores. Com 5 anos descobri meu primeiro "cheat" [forma de burlar as regras do jogo]: se você ficasse forçando a nave contra a parede da veia, quando ela encolhesse, você ficaria de fora dos desafios, ganhando pontos e passando de fases sem correr risco. Quando meu pai acordou, lembro das congratulações e do orgulho dele pela minha alta pontuação e pela sagacidade de ter descoberto o atalho", conta.

Quem também viveu grandes momentos com o Atari foi Ladislau de Sena Junior, 49. Hoje morando em Montreal, no Canadá, Ladislau conta que dividia sua rotina entre estágio, escola e jogar videogame. Seus jogos preferidos no Atari eram Odyssey, Enduro, Pac-Man, Frogger e River Raid, mas sempre havia tempo para o Mario Bros, da Nintendo.

Já José de Assis Oliveira, 38, não tinha dinheiro para comprar um console, mas era apaixonado pelas máquinas de fliperama. "Eu devia ter uns 12 anos. E como não tinha dinheiro, ficava em volta das máquinas vendo meus amigos jogarem. Eu ganhava alguns trocados, às vezes, quando carregava galões de água para os vizinhos e gastava todo o dinheiro em fichas", afirma. "Cada ficha custava 10 centavos e durava 10 minutos".

Quem também nunca teve um console para chamar de seu foi Gabriela Torres, 44, que vive em Recife. Ela jogava Pac-Man, River Raid e F1 no Atari na casa do vizinho. "Minha mãe nunca concordou em comprar um videogame para mim, então, me juntava a outras crianças na casa do vizinho para jogar por horas", lembra.

A jornalista Helena Carnieri, 43, que vive em Curitiba, diz que por pouco tempo pôde aproveitar seus três anos a mais que o irmão para ganhar dele no Atari, "mas ele passou de mim e se tornou um ás no Super Mario Bros. Ninguém supera meu super irmão".

Fã do Nintendinho, Fabio Moyses Lins Dantas, 51, que vive no Rio de Janeiro, lembra-se de Masayuki Uemura em mensagem enviada à Folha. "Eu pegava o videogame emprestado com um amigo e ficava várias horas jogando. Eu era jogador de Arcade e fiquei apaixonado em poder jogar em casa. Meus profundos agradecimentos ao Sr. Uemura".

Masayuki Uemura, que morreu no último dia 6 de dezembro aos 78 anos, foi o criador do sistema que deu origem ao Nintendo e a razão de a Folha ter perguntado aos seus leitores sobre suas melhores lembranças de jogatinas. Veja mais alguns relatos enviados ao jornal:

Os games sempre fizeram parte da minha vida. Nasci no final da década de 1970, e nos anos 1980 ganhei meu primeiro videogame, um Atari que ligava na TV a tubo e jogava com meu irmão e amigos. Nesse início achávamos fantástico aqueles quadradinhos que imaginávamos serem heróis e carros de corrida, jogado sempre depois de terminar a lição de casa e em horários que não concorriam com o jornal e a novela, já que só tínhamos uma TV em casa. Nos anos 1990 ganhamos nosso primeiro videogame de 3ª geração, um Nintendo que foi integrante especial dessa fase da minha adolescência. Tenho saudades de trocar as fitas com os amigos, das reuniões de jogo regadas a pipoca e refrigerante, e de passar na locadora pra alugar um combo de fitas para enfrentar um feriadão prolongado. Super Mário foi um companheiro nessa fase de que sempre me lembro com saudades, talvez até porque o tempo nos faz lembrar com mais doçura dos momentos bons. Hoje jogo quando o trabalho e os afazeres com a casa e filho pequeno permitem, mas muito menos do que eu gostaria. Acredito que é uma forma de manter dentro de mim aquela criança e adolescente sonhador e imaginativo. Meu pequeno, de 3 anos, já me acompanha como observador e desejo ensiná-lo a ser um jogador consciente que consiga tirar a parte boa dessa forma de entretenimento.

André Ulisses Dantas Batista, 44

João Pessoa (PB)

13 de janeiro de 1992. Meu pai passa pelo portão marrom de casa na hora do almoço, trazendo um enorme embrulho branco em cima do tanque da moto. Passou levemente pela minha cabeça a dificuldade que ele teve em conduzir o veículo para me trazer aquele embrulho no dia do meu aniversário. Nem pensei no sacrifício que ele fez para comprar um presente tão caro naquela época. O que eu queria era ver logo funcionando aquele aparelho tão desejado e que me proporcionou tantas alegrias durante aquele verão e pelos próximos cinco anos: o Mega Drive. Nos anos seguintes, aluguei muitos cartuchos, briguei e me reconciliei com meu irmão, fiz novas amizades e aprendi inglês naturalmente, tudo graças ao aparelho. Sou testemunha de que o videogame desenvolve habilidades intelectuais e motoras e serve de bálsamo numa fase da vida que pode ser a mais difícil de todas: a adolescência. Hoje tenho minha pequena coleção de consoles, e o Mega Drive está lá entre eles, funcionando perfeitamente, como testemunha de uma época em que tudo podia ser tão complicado mesmo sendo simples.

Raphael Elias Faria Cardoso, 39

Palmas (TO)

Joguei muito SNES, na verdade ainda jogo. Videogame é um hobby que vou levar para a vida inteira. Lembro que, com 7 ou 8 anos, na época de 1995/96, a minha alegria e do meu eram as sextas de noite, pois às vezes meu pai nos deixava alugar fitas em uma locadora do centro, perto de onde ele trabalhava. Acordar de manhã no sábado para jogar Megaman X2, X3, Mortal Kombat 2, Super Mario RPG, Street Fighter Alpha 2, Bomberman 2, entre outros, era uma alegria imensa. Além disso, lembro que a turma da rua se reunia na minha casa para zerar Megaman X (só os mais velhos jogavam, claro, e os pequenos só assistiam, mas era muito legal). Hoje tenho um console da penúltima geração. Não pretendo comprar o mais novo, está muito caro. Eu jogo mesmo é o meu retrogame com milhares de jogos da minha infância, isso sem falar em cartuchos e console de SNES que fiz questão de comprar, mas ficam guardados como lembrança.

Alexandre Francisco Pazello Mafra, 34

Mogi das Cruzes (SP)

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