Lula tem mantido postura de enfrentamento a quem possa atrapalhar seus planos políticos –mesmo durante a quase submersão política de Jair Bolsonaro no seu retiro nos Estados Unidos. Agora o ex-presidente voltará para uma oposição mirando na economia, mas já pronto para retomar antigos fantasmas do PT.
O discurso antipolítica alçado por Bolsonaro não se dobra ao resultado da eleição. E os vícios de um político experimentado, como Lula, e de um PT de olho na militância, que não representa a maioria da população, se tornam alvos fáceis.
Lula voltou ao poder, reabilitou figuras ligadas ao mensalão e aliados envolvidos em outras denúncias. Além da falta de renovação, continua a narrar como golpe o impeachment de Dilma Rousseff.
Atores do processo ainda residem no Congresso. Tratá-los como golpistas estremece a reconstrução da política que Lula propõe. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em entrevista à Folha põe em dúvida a confiança no MDB, que está no governo.
Na economia, Lula centra ataques à meta de inflação do Banco Central (definida antes da eleição). A luta contra os juros altos ganha contornos políticos quando aliados tentam pregar a imagem de bolsonarista ao presidente do órgão.
Lula começou a escrever um novo capítulo em sua biografia. Embora tenha moderado algumas declarações, a história recente ainda guarda registros, como chamar o Congresso de "o pior". Isso tem um preço: o da desconfiança.
Em entrevista à CNN, o presidente chegou a dizer que o Congresso é o retrato da sociedade. Por isso, "não pode reclamar, tem que conviver". Logo depois, exaltou o PT e chamou outros partidos de "cooperativas de deputados".
A vitória apertada de Lula contra Bolsonaro não é mérito apenas do PT e da esquerda. Partidos de centro também se colocaram contra aos ataques à democracia. E Lula precisa de estabilidade política para governar e para afastar risco da volta do populismo de direita.
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