Amiga 60+, chegou a sua vez. A vingança é um prato que se come frio. E depois dessa refeição, excepcionalmente, você não vai ter que tirar a mesa nem lavar a louça.
Eu sei o quanto a sua vida foi dura. Nascida de uma fraquejada, o pai torcendo por um varão, o único tapete vermelho que estenderam para você chegar ao mundo foi o seu próprio sangue. Se era de classe baixa, ainda menina cuidou dos irmãos mais novos. Se era de classe média ou alta, aos 12 já estava bordando iniciais em toalhas e estudando piano para alegrar o futuro marido.
Teria dado uma excelente engenheira, cirurgiã, advogada, pilota, astrofísica, mas acabou fazendo pedagogia, uma ótima faculdade se não fosse praticamente a única indicada para moças. E tudo isso até engravidar, porque depois, ainda que estivesse prestes a descobrir a cura da Aids, teria que largar tudo para cuidar dos filhos, da casa e daquela pilha de pratos que o maridão não lavava nem que disso dependesse a própria vida.
E assim vocês foram envelhecendo. Ele virou um senhor careca, broxa e barrigudo, mas ai de você se aparecer, até hoje, com uns quilos a mais ou dois centímetros de mato em volta da virilha. Ele logo arruma outra, afinal, homem pode.
E nós também podemos. No dia 2, temos a chance de votar contra o maior símbolo desse machismo-naftalina: um presidente que acha bacana comprar Viagra para as Forças Armadas com dinheiro público, mas cortou 90% da verba destinada ao combate à violência doméstica, 80% da verba destinada às creches e neste mês anunciou a redução de 95% da verba da educação infantil, reforçando a cordinha que amarra você, suas filhas e suas netas à área de serviço.
Certos conjes não precisam nem saber. Dá até para dizer que vai votar 22 e ali, no quentinho da cabine, apertar o 13. É uma boa chance de trair o marido, pelo menos uma vez na vida. E com que belo parceiro.
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