Dados o avanço da vacinação no país e a urgência de recuperar perdas devastadoras na educação provocadas pela pandemia, é inaceitável a lentidão —quando não má vontade— com que instituições de ensino superior preparam o retorno das aulas presenciais.
Faltam dados para aferir de forma precisa a situação geral nas universidades e faculdades públicas e privadas, mas há fartura de exemplos de resistência ao abandono do ensino remoto entre dirigentes, docentes e demais servidores.
A postergação contínua das atividades presenciais tem se mostrado prejudicial especialmente para os estudantes que estão no início ou em vias de conclusão de sua trajetória universitária.
Nas universidades públicas, é sabido que a pandemia levou em 2020 à queda de 18,8% do número de estudantes que conseguiram concluir a graduação. Nessas instituições o retorno às salas de aula, no entanto, tem enfrentado comunicação truncada com a comunidade acadêmica, entre outros solavancos.
Entre faculdades particulares, como noticiou a Folha, muitas optaram por prolongar o ensino remoto alegando riscos em razão da variante ômicron, enfrentam protestos de alunos e temem que a disputa vá parar na Justiça.
Anote-se que o Ministério da Educação de Jair Bolsonaro (PL) alimentou o tumulto ao buscar impedir a exigência de comprovante de vacinação nas instituições federais —o que, na visão da maioria do Supremo Tribunal Federal, contraria a autonomia universitária.
Tudo considerado, vacinas e máscaras são as condições necessárias para que se avance de imediato na restauração gradual da normalidade, como de resto se dá em todo lugar, incluindo o ensino básico.
É também desejável, obviamente, que se procurem garantir espaços com boa ventilação e um distanciamento razoável entre as pessoas. Os estabelecimentos dispõem de autonomia e conhecimento para encontrar alternativas.
Em São Paulo, a estadual Unicamp anunciou o cancelamento da matrícula de estudantes que não comprovem ao menos uma dose da vacina; a Unesp desenvolveu técnica de rastreamento do vírus por coleta de saliva em grupos.
As atividades acadêmicas decerto podem ser combinadas com modelos inovadores de ensino experimentados há anos e acelerados pela pandemia, desde que façam sentido pedagogicamente. O que não se pode é tomar a Covid-19 como oportunidade para redução de custos com perda de qualidade.
A educação em todos os níveis precisa ser prioridade nacional pós-pandêmica. Universidades não podem ser exceção e, muito menos, espaços de privilégios e resistências corporativistas.
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