Daqui a duas semanas, o Brasil celebra o 199º aniversário de sua independência de Portugal. Na antiga metrópole, a agenda burocrática expectável para uma efeméride desse gênero —acordos bilaterais, anúncio de estreitamento de relações— foi eclipsada pela inaptidão do governo Bolsonaro.
A recente visita ao Brasil do presidente luso, Marcelo Rebelo de Sousa, no começo de agosto, foi marcada por episódios constrangedores.
Além de não comparecer à reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, que contou com a presença dos presidentes de Portugal e de Cabo Verde, Bolsonaro ainda recebeu a delegação lusitana com seu tradicional negacionismo da Covid-19.
A imagem contrastante do presidente e da comitiva portuguesa, em que todos usavam máscaras, sendo recebidos em uma sala fechada por Bolsonaro e seus ministros, sem qualquer cobertura facial ou distanciamento, ilustraram na imprensa lusa o vexame sanitário brasileiro.
Já os comentários golpistas, os ataques às instituições e o desfile de tanques como forma de intimidação aos deputados têm ilustrado a deriva democrática.
Portugal é um país pequeno, mas com importância estratégica como entrada para a Europa e uma certa disposição para colaborar com interesses brasileiros. Um exemplo: enquanto outros países desembarcam do acordo com o Mercosul por questões ambientais, o governo português, mesmo com o desmatamento recorde na Amazônia, segue advogando pelo tratado.
Em visita a Lisboa, o chanceler Carlos França anunciou, para o ano que vem, a retomada da cúpula luso-brasileira (encontro entre os governos dos dois países, que não acontece desde 2016).
Com as eleições brasileiras em outubro de 2022 e as demonstrações cada vez mais claras de Bolsonaro de que partirá para o tudo ou nada em busca da reeleição, parecem remotas as chances do 7 de Setembro do bicentenário da Independência ter um panorama muito diferente do atual.
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