Basta contemplar imagens aéreas do Jardim Alfomares, encravado num bairro residencial da zona sul de São Paulo, para se dar conta do valor paisagístico desse remanescente de mata atlântica. Toda e qualquer autoridade urbana esclarecida no mundo lutaria com afinco para preservar o parque.
São 63 mil metros quadrados de verde rodeados por denso casario. Apesar de ecologicamente diminuto, o fragmento de vegetação natural se mantém como refúgio de mais de uma centena de aves e até uma espécie de palmeira ameaçada (Euterpe edulis) pela extração desenfreada de palmito-juçara.
Trata-se de patrimônio histórico, se mais não fosse por guardar testemunho da exuberante floresta tropical que já cobriu os domínios da metrópole e quase toda a faixa litorânea do país —hoje o bioma brasileiro mais destruído.
Segundo o Atlas da Mata Atlântica, apenas 12,4% de sua extensão original resistiram a cinco séculos de devastação no Brasil.
O Jardim Alfomares constituía, ainda, um bem arquitetônico significativo, que sucumbiu à dinâmica imobiliária. Havia na chácara casa projetada por Oswaldo Bratke e adornada com jardins de Burle Marx, conjunto demolido em 2002.
O enclave verde foi vendido por uma herdeira do empresário Alfonso Martín Escudero, de cujo nome se formou o acrônimo que denomina o jardim. No terreno se construiriam casas de alto padrão, com doação de um terço da área de vegetação para o município.
Movimentos de moradores da região defendem há duas décadas a preservação. O Ministério Público também questionou o parcelamento do terreno em lotes e a ausência de estudos de impacto ambiental.
Houve decisões judiciais favoráveis à incorporadora, e frustrou-se a tentativa de obter tombamento pelo Condephaat, órgão estadual. Entra agora na contenda o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp).
Por unanimidade, os conselheiros decidiram abrir um processo de tombamento em atenção a “valores históricos-culturais que interligam os aspectos ambientais, a qualidade de vida da população nesse local, com reflexos para a cidade como um todo”. Paralisam-se, por ora, as intervenções no imóvel.
Espera-se do Conpresp o reconhecimento do valor inestimável da fortaleza natural que resiste, contra todas as probabilidades, à marcha batida do concreto.
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