Mesmo com a retomada da economia nos últimos meses, o mercado de trabalho ainda se deteriora. Na última medição do IBGE, relativa ao trimestre encerrado em agosto, o desemprego continuou a crescer e chegou 14,4%, a maior cifra da série histórica iniciada em 2012.
No trimestre se perderam 4,3 milhões de vagas, das quais metade em postos com carteira assinada. Em 12 meses, são 12 milhões a menos. O desalento e a informalidade também chegam às máximas já observadas. O dado positivo está na preservação da renda pelo auxílio emergencial, mas o impacto será decrescente até dezembro.
Os dados não surpreendem, pois o mercado de trabalho tende a ser o último a reagir quando a economia melhora. Com a pandemia, o setor de serviços, o maior empregador, ainda se afigura deprimido.
Mesmo com tais sinais preocupantes, a natureza da crise dificulta leituras mais definitivas. A pesquisa domiciliar do IBGE, por ser uma média trimestral, pode não estar ainda capturando toda a melhora da atividade na ponta.
Apesar do cenário ruim vislumbrado para os próximos meses, não se pode descartar que a recuperação do mercado de trabalho se mostre mais rápida que a observada após a crise de 2014-16.
Os setores menos afetados pelo distanciamento social mostram expansão significativa. As baixas taxas de juros favorecem a indústria e a construção civil; o agronegócio também mostra dinamismo, com forte demanda interna e externa.
Se for confirmada a disponibilidade de vacinação ao longo do primeiro semestre do ano que vem, o setor de serviços —que responde por quase três quartos do Produto Interno Bruto brasileiro— poderá ganhar ritmo e impulsionar a geração de empregos.
Há grande incerteza, entretanto, quanto ao impacto do fim do auxílio emergencial esperado para dezembro. Nem mesmo se sabe se o governo Jair Bolsonaro será capaz de lançar o prometido novo programa de transferência de renda.
Enquanto isso, todo o cuidado é pouco. Evitar o recrudescimento do contágio, como se observa na Europa, deve ser a prioridade para evitar um novo tombo na economia, o que seria catastrófico.
Também cumpre garantir a permanência de inflação e juros baixos, o que depende de avanços na agenda de controle de gastos e de reformas. Em ambos os objetivos, porém, os sinais que vem de Brasília não são animadores.
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