Acossados pela pandemia de Covid-19 e confrontados com intensos protestos raciais, os Estados Unidos tornaram-se palco, no último fim de semana, de outro acontecimento de enorme magnitude.
No sábado (30), ganhou os céus o primeiro voo espacial tripulado a partir dos EUA desde a aposentadoria dos ônibus espaciais, em 2011. Esse, porém, era apenas um dos motivos para a expectativa que cercava o lançamento.
O outro, com implicações maiores para o futuro, foi o fato de a empreitada ter sido liderada, pela primeira vez, por uma empresa privada, a SpaceX —contratada pela Nasa para levar dois astronautas.
O feito constitui mais um marco para a companhia fundada por Elon Musk, a qual, em poucos anos, passou a dominar o mercado aeroespacial. Hoje, dois terços dos lançamentos da agência espacial americana são realizados pela empresa com sede na Califórnia.
Tamanho sucesso sustenta-se numa técnica inovadora, que permite à SpaceX reutilizar seus foguetes, barateando dessa maneira as missões siderais em grande escala.
No fim de semana, depois de levar a cápsula com os astronautas à órbita da Terra, o foguete Falcon 9 retornou intacto ao solo. Quase 20 horas depois, o módulo acoplou-se à Estação Espacial Internacional.
Embora venha liderando essa corrida, a SpaceX não é a única empresa a mirar o espaço. A Blue Origin, de Jeff Bezos, a Virgin Galactic, de Richard Branson, e a Boeing vão também nessa direção.
Essas e outras companhias vêm propondo novas possibilidades de perscrutar o cosmo, como o turismo espacial, a fixação de bases na Lua e em Marte e até a exploração mineral de corpos celestes.
Com o avanço dessas iniciativas, ganha importância o debate sobre a regulação de tais atividades, já que o principal tratado sobre o espaço, de 1967, define que nenhum país pode reivindicar soberania sobre qualquer astro —mas nada fala acerca de exploração comercial e propriedade privada.
Os EUA vem aproveitando esse vácuo. Em 2015, Barack Obama sancionou uma lei que dá a cidadãos e entidades americanas o direito de reclamar a posse e comercializar recursos obtidos fora da Terra.
Atualmente, segundo reportagem da Reuters, Donald Trump prepara uma legislação para permitir a extração mineral na Lua por parte de empresas do país e de nações aliadas. A iniciativa pode levar outras potências a buscarem o mesmo, fomentando uma disputa tanto tecnológica como geopolítica.
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