Publicada nesta Folha em 27 de outubro, a coluna do dr. Drauzio Varella aponta a hipertensão arterial como a “matadora silenciosa”.
As dificuldades do controle deste inimigo extrapolam nossas capacidades como médicos e, como bem sugerido pelo colunista, requerem o envolvimento de outros profissionais de saúde. A dimensão do problema é enorme: imagine que, de cada quatro amigos do seu grupo de WhatsApp, um tem pressão alta e terá consequências se não se tratar. E, quando você tiver mais de 65 anos, metade terá a doença.
As complicações da hipertensão são muito graves: infarto, aneurisma da aorta, derrame cerebral, insuficiência renal e insuficiência cardíaca, esta última a principal causa de internação no Brasil, quase meio milhão de pessoas por ano —infelizmente, por um dano que já ocorreu e não tem mais volta.
Contra um inimigo tão poderoso, a criatividade é também necessária. E foi justamente o que encantou a plateia no congresso europeu de cardiologia em setembro de 2019, em Paris. O pesquisador peruano Jaime Miranda apresentou os resultados de uma estratégia usada na região peruana de Tumbes. Trata-se de uma população com alto consumo de sal na dieta e com prevalência elevada de hipertensão.
Miranda e seu grupo elaboraram uma mistura do sal comum com potássio, contendo apenas 75% do conteúdo original de sódio, sem prejuízo ao paladar. O produto foi oferecido por meio de uma iniciativa de marketing que incluiu a criação de um personagem, a Liz. Os consumidores identificavam o “Liz Sal” nas prateleiras e o trocavam pelo sal comum, sem custo algum.
Mais de 2.000 pessoas participaram do estudo, e os resultados revelaram uma redução sustentada da pressão arterial entre os hipertensos. Além disso, ocorreu uma redução de 51% na probabilidade de desenvolvimento da doença entre os 79% que não tinham pressão alta.
Por aqui, no Brasil, em Jundiaí e em Campo Limpo Paulista (SP), a unidade que coordeno no InCor criou uma estratégia de prevenção dirigida aos pais, que foi aplicada pelos filhos, crianças de escolas particulares e públicas.
Esse projeto recebeu apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e foi chefiado pelos doutores Luciana Fornari e Cristiano Mendes Pinto. As crianças participavam, uma hora por semana, de atividades oferecidas pelos próprios professores em torno do tema “hábitos saudáveis”.
No começo do estudo e ao final dele, os pais foram avaliados quanto ao risco cardiovascular, que incluía, entre outras medidas, a pressão arterial. O resultado foi animador: os filhos se saíram bem como promotores de saúde e conseguiram reduzir em até 91% a prevalência de pais com risco cardiovascular elevado.
Iniciativas como as descritas aqui merecem apoio e suporte governamental. O controle da pressão arterial está comprovadamente relacionado à redução dos gastos com saúde pública e à melhoria de expectativa e qualidade de vida para milhões no Brasil e no mundo.
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