Para entender fatos históricos, precisamos compreender pelo que as nações e seus povos passaram naquele dado momento (questões culturais, sociais, políticas e econômicas). Imagino, então, que professores deveriam conhecer mais da vida pessoal de seus alunos para, dessa forma, serem capazes de dar mais significado aos conteúdos da sala de aula.
Isso dá trabalho! Mas, antes de enlouquecer, proponho uma leitura transformadora: “Ensinando a Transgredir”, de bell hooks (sim, em letras minúsculas). Na obra, hooks inicia o texto contextualizando sua infância: uma menina negra, nascida na década de 1950, de família operária do sul dos EUA, estudante de uma escola que contava exclusivamente com professores e alunos negros. Em um primeiro momento, chamou minha atenção esse cenário que estimulava a segregação racial. Mas a autora revela o lado positivo dessa vivência, em um período em que o apartheid era manifesto.
Foi nessa escola, feita por negros e para negros, que ela relata ter vivido suas melhores experiências com a educação. Segundo hooks, as professoras conheciam a fundo os alunos e suas famílias, entendiam e vivenciavam causas, lutas e combates. Com isso, ressignificavam o trabalho escolar adequando, moldando, exemplificando e trazendo para perto da vida de seus alunos o conteúdo das aulas.
Bastante pautada na obra de Paulo Freire, defende uma educação para a liberdade, que valoriza o outro, a participação ativa e reflexiva do outro. Hoje professora de ensino superior, bell hooks usou essa experiência para moldar suas práticas e passou a atrair alunos inquietos e engajados.
Conhecer o histórico dos alunos, entender e contextualizar seus atos, possibilitar que todos exerçam sua liberdade (dar opinião, falar, se expor, se opor) é comprometer-se com uma prática libertária, que pode transformar a sala de aula e, consequentemente, a vida de crianças e jovens. Educar para a liberdade consiste em engajamento, em mudar a maneira como educadores e educandos pensam, entendem e executam os processos pedagógicos; consiste em afastar a ideia de conhecimento como forma de opressão ou de demonstração de poder.
Ao praticar a liberdade na sala de aula, as experiências são valorizadas: o falar, o ouvir, o se reconhecer e o reconhecer o outro. Assim, o próprio professor se desenvolve, cresce e é capacitado também, pois a composição da turma e a realidade de cada indivíduo integrante será sempre diferente.
Trabalhando no jornal Joca, frequentemente recebemos depoimentos de educadores afirmando que o veículo permitiu mudar a dinâmica das salas de aula mais rebeldes, apoiou a alfabetização tardia de crianças já desiludidas com sua própria capacidade e impulsionou ações de impacto nas comunidades onde as crianças vivem. São marcos de uma educação que trabalha com a liberdade e para a liberdade.
Seja em casa, seja na escola, vale a tentativa de promover a leitura de um jornal infantojuvenil e o debate de matérias com as crianças para possibilitar novos diálogos, abertura para articulação de opiniões diversas e desenvolvimento de empatia, entre outros aspectos essenciais para a formação de um cidadão crítico, ativo e livre.
Contexto, engajamento e educação para a liberdade
Conhecer os alunos a fundo transforma a vida escolar
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