Mais que oportuna, a liberação de US$ 9,2 milhões (cerca de R$ 35 milhões) de um fundo das Nações Unidas para ajuda humanitária na Venezuela torna-se quase imprescindível para ao menos aplacar o flagelo a que está submetida boa parte da população daquele país.
Evidencia-se a catástrofe por diversas formas. Segundo a FAO, braço da ONU para agricultura e alimentação, 11,7% dos venezuelanos estavam subnutridos entre 2015 e 2017, ante 5% entre 2008 e 2013. Dados extraoficiais apontam que 80% das famílias vivem sob insegurança alimentar —ou seja, não sabem se terão comida no dia seguinte.
O desabastecimento generalizado afeta também a saúde. Por falta de medicamentos, 87% dos pacientes com o vírus HIV atendidos pela rede pública tiveram de interromper o tratamento. Doenças normalmente controladas por vacinação reaparecem em surtos, como o sarampo e a difteria.
Seria natural concluir que, ao consentir com o repasse da ONU, Nicolás Maduro estivesse por reconhecer a dimensão da tragédia social e a incapacidade de enfrentá-la por conta própria. Não funciona assim, porém, a cabeça do ditador.
Em discurso na última Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, afirmou que há um expediente, “em nível midiático mundial”, para construir uma crise humanitária com o intuito de justificar um suposto plano de intervenção estrangeira em Caracas.
Não o bastante, declarou tratar-se de uma fabricação, capitaneada pelos Estados Unidos, o êxodo em massa de venezuelanos, que deixam o país justamente pela deterioração acelerada das condições de vida sob o chavismo. Já se estima em 3 milhões o número de emigrantes, para uma nação de pouco menos de 32 milhões.
A aceitação do auxílio internacional por parte de Maduro —embora provavelmente a contragosto— permite deduzir que o regime, até por senso de autopreservação, considera o cenário grave demais, impossível de ser mascarado por teses fantasiosas.
No entanto o montante destinado, cuja gestão ficará a cargo das agências da ONU com atuação na Venezuela, é suficiente apenas para uma resposta emergencial.
Como defendeu o governo da Colômbia (destino de um terço dos venezuelanos em fuga), urge uma política articulada dos países vizinhos, entre eles o Brasil, para impedir que o desastre humanitário ganhe proporções ainda maiores.
Afinal, resta muito claro que não se está diante de uma invenção imperialista —se invenção há, esta é obra exclusiva da ditadura chavista.
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