Geraldo Alckmin
Geraldo Alckmin: Franco Montoro, cem anos
Com �tica, entusiasmo, desambi��o pessoal e fidelidade aos valores crist�os e humanistas que nortearam sua trajet�ria, Andr� Franco Montoro viveu para contrariar o senso de que a pol�tica � a arte do poss�vel. A pol�tica dele era a arte de tornar poss�vel o que � necess�rio para o bem das pessoas. N�o pessoas abstratas, ele dizia, mas as pessoas concretas que constituem a popula��o do munic�pio, do Estado e do pa�s.
Conversamos pela �ltima vez no dia de seu anivers�rio de 83 anos, 14 de julho de 1999, horas antes do infarto que veio a ser fatal. Montoro telefonou-me do aeroporto, a caminho do M�xico, onde trataria, em semin�rio, dos efeitos destrutivos da especula��o financeira. Comigo, com o mesmo otimismo e esp�rito p�blico, queria falar sobre a
hidrovia Tiet�-Paran� quando voltasse. N�o chegou a viajar.
A hidrovia era apenas mais um entre os muitos temas que o entusiasmavam. O administrador enxergava o potencial de desenvolvimento econ�mico e gera��o de empregos da obra, e o homem � frente de seu tempo mirava at� a integra��o da Am�rica Latina, um projeto que o fizera criar o Instituto Latino-Americano.
Inspirar os mais jovens j� era um gosto dele quando abra�ou a longa carreira de professor de direito. Ao longo da vida p�blica, estimulou a forma��o de lideran�as que seguem dando sua contribui��o para o desenvolvimento sustent�vel e o enraizamento da democracia no Brasil.
A partir de 1950, pelo PDC (Partido Democrata Crist�o), Montoro foi vereador, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, ministro do Trabalho no governo Jo�o Goulart, deputado federal (pelo MDB a partir de 1966) e senador.
Eleito, assumiu o governo de S�o Paulo (1983-1987) em meio a uma dram�tica crise econ�mica nacional. Fez a recupera��o das finan�as do Estado, sem comprometer a efici�ncia do governo, guiando-se por um conceito que n�o existia na pol�tica brasileira at� ent�o: a responsabilidade fiscal.
Realiza��es ainda hoje fundamentais mostram como Montoro pensava � frente: a descentraliza��o administrativa, a cria��o da primeira secretaria de Meio Ambiente, o projeto de recupera��o da Serra do Mar, a primeira Delegacia de Defesa da Mulher -confiada ao seu secret�rio da Seguran�a P�blica, Michel Temer, tamb�m incumbido da miss�o de reequipar e valorizar as pol�cias paulistas- e a cria��o de inst�ncias para a participa��o das comunidades na discuss�o de seus problemas, caso dos
Conselhos Comunit�rios de Seguran�a hoje presentes em todo o Estado.
Montoro foi homem essencial na luta contra o arb�trio e pela redemocratiza��o do Brasil, o indiscut�vel respons�vel pelo sucesso da campanha popular das Diretas J�, em 1984, que ele viabilizou com energia, desprendimento e uma convic��o que os amigos ainda hoje chamam, afetuosamente, de teimosia.
Naquela campanha c�vica hist�rica, os brasileiros come�aram a recuperar o direito de determinar os seus destinos. Esse era talvez o sonho mais querido de Montoro, e ele o inscreveu tamb�m na funda��o do PSDB. Inspirado no pensamento do papa Jo�o 23, afirmava que a dignidade das pessoas n�o admite que sejam tratadas como objetos, pe�as ou fichas pelos que as governam.
Esse homem com sentido profundo de �tica na pol�tica, que tanto fez pelo Estado de S�o Paulo e pelo pa�s, apresentava-se simplesmente como professor, advogado e servidor p�blico. Hoje, 14 de julho, quando completaria cem anos, reverencio a sua mem�ria com saudade.
A aus�ncia de Franco Montoro nos deixou a obriga��o de levar adiante as suas lutas. Testemunho disso � que, � medida que o tempo passa, seu exemplo de vida � mais not�vel e seu legado para o Brasil fica maior.
GERALDO ALCKMIN � governador do Estado de S�o Paulo (PSDB) desde 2011, cargo que tamb�m ocupou de 2001 a 2006. Foi deputado estadual (1983-1987) e federal (1987-1995)
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