Há mais de 50 anos, o chef Antonio Buonerba (1939-2018) teve uma ideia: aproveitar as aparas dos filés à parmigiana para criar o polpettone. Um disco de carne empanado, recheado com queijo, frito e imerso em molho de tomates. Nascia um clássico da gastronomia ítalo-paulistana.
A partir daí, o Jardim de Napoli conquistou um lugar especial na memória afetiva da cidade. A tratoria funciona em um casarão da pacata rua Martinico Prado, um enclave entre o agito hipster da Vila Buarque e a sobriedade quatrocentona, vá lá, de Higienópolis. Fica numa região cercada de bares, botecos e restaurantes tipo pê-efe.
Mesmo longe do "oriundi" Bexiga, o Jardim de Napoli é uma autêntica cantina italiana. Vozerio, risos e criançada chorando. A atmosfera de festa toma conta das mesas forradas com tradicionais toalhas quadriculadas. A decoração, podemos assim definir, é clássica, sem exageros. Garrafas de vinho chianti emolduram a balaustrada e alguns quadros preenchem as paredes pintadas de verde-musgo.
Cercado por rótulos de vinho e por alguns embutidos, o maître observa toda a movimentação, desde a sala de entrada até o vaivém dos garçons. Ao seu lado, um balcão refrigerado conserva antepastos, como a tenra alcachofrinha no azeite.
Em meio ao frenesi de jovens cumins, que correm para lá e para cá, os experientes garçons orientam os clientes com tranquilidade, independentemente da fila que se forma. A cozinha é bem eficiente. Os pedidos chegam no tempo certo.
Embora o cardápio seja extenso, difícil é sair sem experimentar a estrela da casa, o polpettone, um clássico paulistano, sem exagero. A carne é temperada com equilíbrio. O preparo deixa o bolinho macio e aerado. Ao cortar sua casquinha seca e crocante, um aroma de especiarias enche a mesa. A muçarela se derrete completamente no molho. De fato, não havia um pingo de arrogância na tradicional frase do chef Antonio Buonerba: "polpettone copiado, jamais igualado".
Jardim de Napoli
R. Martinico Prado, 463, Vila Buarque, região central, @jardimdenapoli
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