O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, 61, tornou-se o novo primeiro-ministro do Reino Unido após vitória acachapante nas eleições gerais, quebrando um domínio de 14 anos dos conservadores no poder.
À frente da legenda desde 2020, Starmer teve êxito em se adaptar ao centro, atuando nos últimos meses para afastar de seu partido propostas e lideranças de esquerda. A estratégia, segundo analistas, foi eficaz para que os trabalhistas angariassem o apoio de eleitores indecisos, aproveitando-se dos desgastes do Partido Conservador e do premiê de saída, Rishi Sunak.
Starmer é advogado especializado em direitos humanos. Antes de ganhar destaque na política, ele recebeu o título honorário de Conselheiro da Rainha em função de sua atuação nos tribunais. Depois, foi diretor do Ministério Público. No cargo, decidiu não processar criminalmente os policiais envolvidos no assassinato, em 2005, do brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô de Londres, num caso com ampla repercussão internacional. À época, concluiu que não havia provas suficientes para uma condenação.
Por seu trabalho no Ministério Público, Starmer foi condecorado com o título de sir em 2014, uma tradição para os que desempenharam a função, mas incomum para um trabalhista. Entrou para a política institucional e foi eleito pela primeira vez em 2015, aos 52 anos, como representante (deputado) de Holborn e St. Pancras, um distrito de profissionais liberais no centro de Londres.
As propostas defendidas pelo trabalhista durante a campanha nada têm de radicais: estabilidade econômica com regras rígidas de gastos; redução do tempo de espera do sistema de saúde, com mais 40 mil consultas noturnas e aos fins de semana; criação de uma empresa pública de energia limpa; reforço das polícias de bairro e contratação de 6.500 novos professores, que seriam pagos com o fim de isenções fiscais para escolas particulares.
Sobre migração, tema que mobiliza os britânicos, Starmer prometeu enterrar o plano de Sunak de enviar solicitantes de asilo para Ruanda, que tem sido muito criticado por organizações de direitos humanos. O trabalhista defende que o dinheiro gasto com o traslado poderia ser investido em aumento de segurança nos pontos de entrada de migrantes e em um sistema que reencaminhe rapidamente a seus países pessoas em situação irregular.
Apesar de ter sido contrário ao brexit, Starmer buscou se alinhar ao eleitor médio que defendeu a saída do país da União Europeia. Ele descartou, a princípio, trabalhar por um novo referendo, restringindo-se a dizer que o arranjo feito pelo ex-premiê Boris Johnson é "muito frágil" e que seu partido buscaria um acordo comercial "muito melhor" com o bloco em uma revisão a ser feita em 2025.
"Tenho uma ambição para o país e um plano prático para realizá-lo. Mudei o Partido Trabalhista e o coloquei novamente a serviço dos trabalhadores", afirmou Starmer no primeiro debate na TV com Sunak, no início de junho. Durante a campanha, o trabalhista insistiu que a legenda atualmente é diferente do passado. E o motivo é se distanciar das ideias de seu antecessor, Jeremy Corbyn.
Uma vez à frente dos trabalhistas, Starmer escanteou os nomes de esquerda, entre eles Corbyn, que mais tarde deixaria o partido. A guinada ao centro também foi um rompimento com seu próprio passado.
Starmer foi membro dos Jovens Socialistas do Partido Trabalhista em East Surrey e editor da Socialist Alternatives, uma revista trotskista. Seu pai trabalhava como ferramenteiro, e a mãe era enfermeira do NHS, o sistema de saúde britânico que inspirou o SUS (Sistema Único de Saúde) brasileiro. Starmer foi o primeiro da família a ir para uma universidade, em Leeds, onde cursou direito.
Sério e considerado sem carisma, Starmer não tem a mesma eloquência de líderes anteriores, caso de Margaret Thatcher ou Tony Blair. Ele é apontado, porém, como um dos responsáveis pela vitória histórica desta quinta.
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