Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel invade agência da ONU em Gaza e volta a ordenar esvaziamento da região

Exército diz ter matado homens armados na sede da UNRWA, acusada por Tel Aviv de alinhamento ao Hamas

São Paulo

Israel ordenou o esvaziamento da Cidade de Gaza nesta quarta-feira (10) e invadiu a sede da UNRWA, em uma nova ofensiva contra a agência da ONU responsável por alimentar e prover educação a centenas de milhares de pessoas no território palestino.

De acordo com testemunhas, atiradores ocuparam os telhados dos prédios que ainda estão em pé na região, e militares posicionaram tanques dentro da sede. Em comunicado, o Exército disse, sem apresentar provas, que combatentes de grupos armados atuavam dentro das instalações da agência.

Palestinos choram pela morte de familiares após bombardeio israelense em Deir el-Balah, no centro da Faixa de Gaza - Eyad Baba/AFP

Em janeiro, autoridades israelenses acusaram 190 funcionários do órgão de envolvimento direto ou indireto nos atentados terroristas do Hamas em 7 de outubro. Três meses depois, uma investigação independente liderada por uma ex-chanceler da França afirmou que Tel Aviv tampouco havia apresentado provas.

Agora, o Exército renova as acusações ao dizer que, após abrir um corredor para civis saírem do prédio, soldados mataram e prenderam homens armados no local —os militares ainda teriam encontrado armas guardadas na sede da agência. Os grupos Hamas e Jihad Islâmico divulgaram apenas que combatentes lutaram contra forças israelenses na área, sem mencionar a sede da UNRWA.

Outras regiões da Cidade de Gaza, a mais populosa do território antes da guerra, também foram alvo de Tel Aviv nesta quarta. Segundo moradores, soldados fizeram buscas em diferentes casas, e tanques bombardearam áreas residenciais.

O Crescente Vermelho palestino, braço da Cruz Vermelha na região, disse ter recebido dezenas de chamadas de moradores presos em suas casas, mas afirmou que suas equipes não conseguiram alcançá-los devido à intensidade dos bombardeios. "Os residentes estão vivendo condições trágicas", disse a organização.

Moradores receberam panfletos que indicavam "rotas seguras" até o centro do território palestino e outras instruções para saírem da cidade. A região central de Gaza, no entanto, também era alvo de bombardeios nesta quarta, segundo relatos.

No campo de refugiados Al-Nuseirat, médicos disseram que seis palestinos, incluindo crianças, foram mortos em um ataque aéreo que destruiu uma casa, enquanto outro bombardeio matou duas pessoas e feriu várias outras em Khan Yunis, no sul.

As ofensivas desta quarta ocorreram horas após outro ataque atingir, na terça-feira (9), tendas de famílias deslocadas que se abrigavam do lado de fora de uma escola na cidade de Abassan, no sul de Gaza, e matar pelo menos 29 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo autoridades médicas palestinas.

A Alemanha criticou o ataque. "É inaceitável matar pessoas que buscam refúgio em escolas. Civis, especialmente crianças, não devem ficar presos no fogo cruzado", escreveu o Ministério das Relações Exteriores alemão na rede social X nesta quarta. "Os repetidos ataques do Exército israelense contra escolas devem parar, e uma investigação deve ser iniciada rapidamente."

Israel afirma que está revisando relatos de civis feridos e que o incidente ocorreu quando o Exército atingiu com "munição precisa" um combatente do Hamas que teria participado do ataque de outubro. Tel Aviv reconheceu, no entanto, que bombardeou outras três escolas desde o último sábado (6).

Segundo o Hamas, mais de 60 palestinos foram mortos na terça em todo o território, o que ameaça os esforços para estabelecer um cessar-fogo na guerra que já dura nove meses —as negociações devem ser retomadas em Doha, no Qatar, nesta quarta.

O Ministério de Defesa de Israel disse que ainda há desafios para alcançar uma trégua. A declaração foi feita em comunicado sobre o encontro de terça entre o chefe da pasta, Yoav Gallant, e o enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Brett McGurk.

"Os dois discutiram a importância de aproveitar a oportunidade criada para alcançar um acordo para o retorno de reféns mantidos pelo Hamas em Gaza", disse o ministério. "Eles discutiram os desafios que permanecem para alcançar tal acordo, bem como possíveis soluções para abordá-los."

Os EUA anunciaram nesta quarta que vão voltar a enviar a Israel bombas que haviam sido retidas por receio de que fossem usadas contra civis. O governo Joe Biden, porém, manteve o veto aos explosivos de 900 quilos —ele autorizou o envio dos artefatos de até 200 quilos.

Em junho, o premiê Binyamin Netanyahu criticou abertamente os EUA por supostamente suspender o envio de munições para Israel, ao que Washington respondeu que estava "profundamente desapontado" com o primeiro-ministro.

No Knesset, como é chamado o Parlamento israelense, Yoav Gallant disse, também nesta quarta, que 60% dos integrantes do Hamas foram mortos ou feridos desde outubro. Ele afirmou ainda que Tel Aviv desmantelou a maioria dos 24 batalhões do grupo terrorista.

Segundo o último balanço do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 38.295 pessoas morreram no território, e há mais de 88 mil feridos.

Com Reuters e AFP

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