Campanha de Biden admite que caminho para vitória contra Trump se estreitou

Em memorando, assessores defendem que presidente é a melhor opção do partido contra Trump, mas reduzem o foco de sete para três estados

Washington

Sob forte pressão desde o debate desastroso do mês passado, a campanha de Joe Biden reconheceu que o caminho para a vitória do presidente se estreitou. Em um memorando interno circulado nesta quinta-feira (11), a equipe defende que os esforços sejam concentrados em três dos sete estados-pêndulo, admitindo chances pequenas de virada contra Donald Trump nos outros quatro.

A mudança de estratégia é mais uma amostra do enfraquecimento da campanha de Biden, cuja continuidade na disputa se encontra seriamente ameaçada após o debate no mês passado e o caos interno que se instalou em seu próprio partido desde então.

O presidente Joe Biden durante reunião com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, na Casa Branca - Saul Loeb/AFP

Para a campanha, que continua defendendo o presidente como aquele com melhores chances de vitória do que qualquer outro eventual nome do partido, o enfoque agora deve se concentrar em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, o chamado "paredão azul". Se Biden conseguir vencer nesses estados, ele se mantém na Casa Branca mesmo que perca Arizona, Nevada, Geórgia e Carolina do Norte.

"Neste momento, vencer nos estados do paredão azul é o nosso caminho mais claro para isso [derrotar Trump], mas nós também acreditamos que os estados do cinturão do sol não estão fora de alcance", diz o memorando. Até então, a campanha vinha tratando oficialmente os sete estados como território aberto em disputa.

Pesquisas confirmam que o espaço para Biden crescer está encolhendo. Nesta semana, a consultoria Cook Political Report, referência em análise eleitoral, mudou sua projeção em seus colégios eleitorais em favor de Trump.

Os resultados em Arizona, Geórgia e Nevada foram revistos de empate para pendendo para republicanos. Mais preocupante, mesmo estados tidos como garantidos pelos democratas são agora apontados como mais incertos pela consultoria: Minnesota, New Hampshire e o segundo distrito de Nebraska.

De provavelmente democrata, a projeção foi alterada para pendendo para democratas.

As revisões se somam a pesquisas de intenção de voto divulgadas nos últimos dias que mostram Trump ampliando sua vantagem sobre Biden nacionalmente.

Um levantamento encomendado pelo Washington Post divulgado nesta quinta, por exemplo, mostra um crescimento de 0,5 a 1,1 ponto percentual do republicano nos estados do paredão azul, e de 0,2 a 0,5 p.p. nos quatro restantes.

No agregado, a pesquisa conclui que há um empate entre os dois. Esse é o principal argumento usado pela campanha democrata para defender a permanência de Biden na corrida: o presidente, sendo o único candidato amplamente reconhecido e testado contra Trump, ainda pode vencer.

A equipe de Biden minimiza pesquisas que simulam o nome de outros democratas no lugar de Biden, como os governadores da Califórnia, Gavin Newsom, e de Michigan, Gretchen Whitmer, afirmando que os resultados não são confiáveis porque nenhum deles foi exposto aos ataques que sofrerão se de fato concorrerem.

Ao mesmo tempo, segundo o New York Times, a campanha encomendou uma pesquisa própria para testar o desempenho da vice-presidente, Kamala Harris, contra Trump. Não está claro se o objetivo é mostrar que ela é uma alternativa ou não a Biden.

O memorando é mais uma tentativa do círculo mais próximo do presidente para defender sua candidatura, diante dos apelos cada vez mais altos para que ele desista. Até agora, 14 deputados do partido e um senador pediram publicamente sua saída. Somam-se ao grupo doadores, como o ator George Clooney, e consultores democratas, como o estrategista James Carville.

Novas defecções eram esperadas com o fim, nesta quinta, da cúpula da Otan em Washington —por respeito ao encontro e ao tema de segurança nacional, muitos integrantes da base do governo preferiram se manter em silêncio nos últimos dias.

Nesse contexto, uma entrevista coletiva com Biden agendada para as 19h30 (horário de Brasília) desta quinta estava sendo encarada como um momento crucial para a campanha do presidente. Vai ser uma das raríssimas vezes ao longo de seu mandato em que o democrata falará com a imprensa livremente e sozinho. Qualquer novo escorregão pode ser irrecuperável para sua candidatura.

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