Descrição de chapéu Coreia do Norte

Ativistas da Coreia do Sul desenvolvem balões com GPS e alto-falantes para enviar ao Norte

Infláveis produzidos por grupo em Seul soltam panfletos aos poucos e têm dispositivos para dar estabilidade no voo

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Ju-min Park
Seul | Reuters

Na guerra de balões entre a Coreia do Norte e ativistas sul-coreanos, um grupo sediado em Seul aprimorou sua expertise tecnológica para desenvolver balões capazes de dispersar panfletos e alto-falantes eletrônicos por centenas de quilômetros na tentativa de chegar a pontos mais distantes do país vizinho.

Construídos com impressoras 3D, cada um desses chamados "balões inteligentes", pode custar até US$ 1.000 (R$ 5.366,00). Muitos deles são equipados com rastreamento por GPS e podem transportar cargas de até 7,5 quilos.

Membro de grupo ativista da Coreia do Sul monta dispositivo para distribuir panfletos anti-Pyongyang no Norte por meio de balões - Kim Hong-Ji - 3.jun.2024/Reuters

"Nossos balões inteligentes são caros, mas são cem vezes mais poderosos do que os balões de outros grupos", disse um membro do Comitê para a Reforma e Abertura de Joson, como a Coreia do Norte também é chamada.

Os ativistas se recusaram a ser identificados por temer o assédio de sul-coreanos críticos à estratégia e a possível repressão de autoridades de ambos os países. O grupo, que tem cerca de 30 membros principais e é financiado pelos próprios participantes e por doações, nunca havia detalhado suas atividades para a imprensa.

As provocações com balões estão no centro da tensão entre as duas Coreias desde o final de maio, quando Pyongyang, que não costuma lançar mão da estratégia, começou a enviar lixo e o que parecia ser esterco para o país vizinho. Desde então, mais de mil infláveis foram lançados.

A medida aumentou a tensão entre os países, tecnicamente em guerra desde o armistício que interrompeu o conflito que dividiu a península, em 1953 —no domingo, por exemplo, a Coreia do Sul retomou as transmissões de propaganda em alto-falantes na fronteira pela primeira vez desde 2018.

A eficácia dos balões é motivo de debate, já que não é possível verificar de forma independente onde eles pousam ou o que os norte-coreanos pensam sobre o conteúdo. Para um membro do Comitê para a Reforma e Abertura de Joson, porém, a reação de Pyongyang nas últimas duas semanas mostra que a tática tem efeito.

Os balões desse grupo são fabricados em um pequeno apartamento alugado em Seul. Ali, a equipe usa impressoras 3D para construir caixas plásticas brancas e algumas partes conectivas. Para controlar a dispersão do conteúdo, os ativistas usam dispositivos feitos com fios, placas de circuito e temporizadores comprados em sites de comércio eletrônico chineses e sul-coreanos.

Na primavera e no outono, quando os ventos sopram para o norte, eles soltam os infláveis uma ou duas vezes por mês, principalmente durante a noite. O objetivo é que os carregamentos adentrem cada vez mais o país vizinho, plano que tem dado certo —um dos infláveis voou até a China.

A maioria dos balões contém dispositivos pré-programados para espalhar 1.500 panfletos, 25 de cada vez, levando em consideração a rota de voo esperada, o vento e outras condições climáticas. Este ano, houve uma inovação: alguns balões estão carregando alto-falantes presos a pequenos paraquedas que emitem mensagens pré-gravadas críticas ao líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Uma carga comum costuma levar seis alto-falantes e seis outros pacotes, cada um contendo uma bíblia e um rádio de ondas curtas, de acordo com um membro do grupo, que desertou do Norte na década de 1990 e é responsável pelo desenvolvimento técnico.

Os dispositivos dos alto-falantes são construídos usando uma caixa à prova d'água, baterias de íon de lítio e um amplificador. Quando lançados, três pequenos paraquedas coloridos no topo do alto-falante se abrem enquanto uma base de espuma ajuda a absorver qualquer impacto de pouso.

Eles então emitem 15 minutos de músicas e mensagens gravadas em sotaque norte-coreano e pausam por 30 minutos antes de recomeçar. As baterias podem durar 5 dias. "Livrem-se do Partido dos Trabalhadores, e então Joson poderá sobreviver. Kim Jong-un é um traidor que se opõe à unificação", diz parte da gravação.

Outro avanço técnico importante feito nos últimos dois anos foi a válvula ligada ao altímetro que impede que os balões subam muito. O dispositivo torna o voo mais estável, embora os balões ainda estejam à mercê do clima e suas rotas de voo não possam ser controladas.

O grupo estima que seus balões têm 50 a 60% de chances de ir algumas dezenas de quilômetros mais longe após a fronteira. Levando em conta esse cálculo, os balões são melhores do que os de estilo mais antigo, que podem sair rapidamente da rota e só podem soltar um pacote de panfletos.

O governo sul-coreano costumava enviar seus próprios panfletos, mas abandonou a prática há mais de uma década. Grupos de ativistas, porém, seguem enviando balões para o Norte regularmente.

A Coreia do Sul tentou coibir a prática, já que os voos também são controversos no país, onde alguns residentes argumentam que os balões são provocações e os colocam em risco.

Em 2020, esse tipo de ação chegou a ser proibida por motivos de segurança nacional, mas voltou a ser liberada em setembro do ano passado após um tribunal superior derrubar a medida sob a alegação de que o veto violava o direito constitucional à liberdade de expressão.

O Ministério da Unificação da Coreia do Sul disse que respeita a decisão do tribunal e afirmou, sem elaborar, que tomará medidas apropriadas, se necessário.

Já autoridades norte-coreanas chamam os ativistas sul-coreanos de "escória humana" e, em 2020, demoliram um escritório de ligação intercoreano durante um momento de tensão envolvendo balões. Em 2022, o país afirmou que essas "coisas alienígenas" poderiam transportar o coronavírus.

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