Descrição de chapéu Wikileaks Estados Unidos

Assange é recebido por apoiadores na Austrália após recuperar liberdade; veja vídeo

Após acordo com EUA, ativista desembarca na capital do país com sua equipe jurídica e reencontra família

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São Paulo

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, desembarcou na Austrália nesta quarta-feira (26), após trocar uma confissão de culpa por sua liberdade, em um acordo com os Estados Unidos que encerrou uma batalha legal de 14 anos. Ele foi recebido por apoiadores em sua terra natal.

O australiano chegou em um jato particular ao aeroporto de Canberra, capital do país, pouco depois das 19h30 locais (6h30 no Brasil), acenou para imprensa e apoiadores que aplaudiam sua chegada e beijou sua esposa, Stella, levantando-a do chão. O ativista também abraçou seu pai, John Shipton, uma das principais vozes pela sua libertação nos últimos anos, antes de entrar no prédio do terminal com sua equipe jurídica.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, acena a apoiadores após chegar a Canberra, capital da Austrália - William West/AFP

"O fato de Julian poder voltar para a Austrália, ver sua família regularmente e fazer coisas comuns da vida é um tesouro", disse Shipton à agência de notícias Reuters no aeroporto, onde estava esperando por seu filho.

Assange não falou publicamente desde sua libertação e não compareceu a uma entrevista coletiva do Wikileaks, site que fundou, em um hotel em Canberra. Stella, com quem ele teve dois filhos durante seu período de privação de liberdade, disse que era muito cedo para falar sobre planos de seu marido.

"Julian precisa de tempo para se recuperar, para se acostumar com a liberdade", disse ela. "Quero que ele tenha esse espaço para redescobrir essa liberdade."

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, que se empenhou por anos pela libertação de Assange, disse que conversou com ele por telefone depois que o avião pousou. "Tive uma conversa muito calorosa com ele esta noite. Ele foi muito generoso em seus elogios aos esforços do governo", disse o premiê em uma entrevista coletiva. "O governo australiano defende os cidadãos australianos."

O desembarque encerra uma saga de 12 anos de privação de liberdade. Primeiro, ele se refugiou na embaixada do Equador no Reino Unido, em 2012, para evitar a extradição à Suécia em uma investigação por agressão sexual, que ele nega. Sete anos depois, em 2019, foi retirado do prédio e preso pela polícia britânica em um processo relacionado a um pedido de extradição feito pelos EUA, que moveu 18 acusações criminais contra o ativista com base principalmente na Lei de Espionagem, de 1917.

Na segunda (24), Assange deixou a prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, e, no dia seguinte, apresentou-se a um tribunal no território americano de Saipan, uma ilha no oceano Pacífico que foi escolhida pela relativa proximidade com a Austrália e pelo fato de que ele se recusava a viajar para os EUA.

O ativista concordou em se declarar culpado do crime de disseminação ilegal de material de segurança nacional, pelo qual foi condenado a cinco anos e dois meses de prisão —exatamente o tempo em que esteve preso no Reino Unido, raz��o pela qual saiu como um homem livre do tribunal. Se tivesse sido condenado por todas as acusações, Assange poderia enfrentar até 170 anos de privação de liberdade em uma prisão federal.

Durante a audiência de três horas, o ativista disse ter acreditado que a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que versa sobre liberdade de expressão, protegeria suas atividades. "Trabalhando como jornalista, encorajei minha fonte a fornecer informações que supostamente eram sigilosas para publicá-las", disse ele ao tribunal. "Acreditei que a Primeira Emenda protegia essa atividade, mas aceito que foi uma violação da lei de espionagem."

A juíza-chefe do distrito dos EUA, Ramona Villagomez Manglona, aceitou sua declaração de culpa, observando que o governo indicou que não houve vítimas individuais de suas ações. Ela desejou a Assange, que completa 53 anos no dia 3 de julho, um feliz aniversário antecipado ao liberá-lo.

Fora do tribunal, o advogado de Assange nos EUA, Barry Pollack, afirmou que o trabalho do WikiLeaks continuaria. "Acreditamos firmemente que Assange nunca deveria ter sido acusado sob a Lei de Espionagem e que ele se envolveu em um exercício no qual jornalistas se envolvem todos os dias", disse à imprensa.

A saga do australiano com os EUA começou em 2010, quando o WikiLeaks, site que publica informações sensíveis de empresas e governos compartilhadas sob anonimato, divulgou dezenas de milhares de documentos confidenciais do país, uma das maiores violações de informações secretas na história americana. Grande parte deles foi vazada por Chelsea Manning, analista de inteligência do Exército.

Entre os vazamentos estava o vídeo de um ataque de helicópteros Apache americanos em Bagdá, em 2007. A gravação de 39 minutos mostra que os militares abriram fogo contra um grupo de pessoas, incluindo dois funcionários da Reuters, Saeed Chmagh e Namir Noor-Eldeen, que acabaram mortos como outros que estavam no local. "Olha só aqueles babacas mortos", diz um membro da tripulação após seu colega rir. Os militares atacam ainda uma van que chega para ajudar.

Na ocasião, o Pentágono admitiu que a gravação era autêntica, mas o então secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmou que os vídeos mostravam a situação sem contexto ou perspectiva.

Apoiadores de Assange enxergam seus problemas na Justiça como fruto de perseguição dos EUA depois que ele revelou possíveis crimes de guerra cometidos por Washington no Iraque e no Afeganistão. O governo americano, por sua vez, diz que os vazamentos colocaram vidas de militares em perigo.

Nesta quarta, o Departamento de Estado dos EUA disse que seu envolvimento na resolução do caso foi muito limitado, mas um porta-voz do órgão reiterou a posição americana de que as ações do ativista colocaram vidas em risco. Questionado por jornalistas em uma entrevista coletiva sobre danos causados pelos vazamentos, ele não forneceu nenhum exemplo.

Com Reuters e AFP

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