Israel volta a atacar norte de Gaza, e número de palestinos mortos chega a 35 mil

Tel Aviv conduz operações em Jabalia ao mesmo tempo em que aumenta pressão sobre Rafah, no sul

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São Paulo

O Exército de Israel voltou a intensificar neste domingo (12) os ataques sobre o norte da Faixa de Gaza, região quase completamente destruída desde que as operações terrestres no território tiveram início. A justificativa é de que o grupo terrorista Hamas voltou a se organizar na região e busca restabelecer suas capacidades militares lá.

A ação ocorre em meio à expectativa de uma invasão de Rafah, cidade no sul que serve de refúgio para milhões de palestinos deslocados —e na mesma data em que o número de palestinos mortos ultrapassa os 35 mil segundo as autoridades locais, ligadas ao Hamas.

Veículos militares de Israel perto da fronteira com a Faixa de Gaza - Menahem Kahana/AFP

Israel enviou tanques para Jabalia pela manhã, após uma noite de pesados bombardeios que teriam matado pelo menos 19 pessoas e ferido dezenas de outras.

Um morador local de 45 anos disse à agência de notícias Reuters que os ataques não cessaram desde que tiveram início, no sábado (11). "Eles estão bombardeando tudo, incluindo áreas perto das escolas em que os que perderam suas casas estão abrigados", escreveu numa mensagem de texto.

"A sensação é de que a guerra recomeçou em Jabalia", disse. "A nova incursão está forçando muitas famílias a saírem daqui."

Jabalia é o maior dos oito campos de refugiados históricos de Gaza. Ele abriga mais de 100 mil pessoas, a maioria delas descendente dos que foram expulsos do território conhecido como Palestina durante as guerras que envolveram a criação do Estado de Israel, de 1948 a 1949.

Além de Jabalia, Tel Aviv enviou tanques de volta para Al-Zeitoun, um subúrbio a leste da Cidade de Gaza, principal cidade da faixa antes do conflito, e para outro bairro na cidade, Al-Sabra. Em ambos os locais, moradores também relataram bombardeios que destruíram diversas casas, incluindo edifícios residenciais de vários andares.

As forças israelenses tinham declarado ter obtido o controle da maioria dessas áreas meses atrás.

Enquanto isso, os palestinos abrigados no sul continuavam tentando fugir de Rafah. Pelas redes sociais, a ONG Médicos Sem Fronteiras anunciou ter começado a encaminhar os últimos 22 pacientes que mantinha em um hospital na cidade para outras instalações porque não podia mais garantir a segurança deles.

A UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, disse na manhã deste domingo que cerca de 300 mil das 1,5 milhão de pessoas que estavam vivendo na cidade fugiram dela nesta semana. O anúncio foi feito horas depois de o governo israelense emitir novas ordens exigindo a saída de civis de Rafah.

As determinações aprofundam os temores de que o Estado judeu se prepara para invadir a cidade apesar dos alertas de parte da comunidade internacional de que uma operação dessa magnitude pode acarretar numa catástrofe humanitária.

A preocupação chegou até mesmo a aliados históricos do Estado judeu, como os Estados Unidos. Na semana passada, Washington bloqueou um carregamento de 3.500 bombas ao país por temores de que a ajuda militar fosse usada na invasão da cidade.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu a decisão neste domingo. "Estamos realmente preocupados com a forma como [as armas] são usadas", afirmou em uma entrevista à ABC News. Segundo o secretário, cujo cargo equivale ao de chanceler no Brasil, os EUA ainda não viram um "plano claro e credível" de Israel para proteger civis.

Blinken acrescentou que os EUA estão determinados a ajudar Tel Aviv a se defender, mas que essa posição poderia mudar se Israel lançasse um ataque em larga escala contra Rafah.

A fala se dá um dia depois de o presidente americano, Joe Biden, tentar apaziguar as relações entre os dois países após uma série de desentendimentos públicos. "Haveria um cessar-fogo amanhã se o Hamas libertasse os reféns", disse o democrata sobre as negociações para uma trégua, que voltaram à estaca zero nesta semana.

A declaração repete a lógica do governo do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que rejeita os termos do Hamas para devolver os reféns, que incluiriam a retirada das tropas israelenses de Gaza.

Ao mesmo tempo, ao que parece ser um aceno ao aliado, Israel disse neste domingo ter aberto a passagem de Erez, no norte de Gaza, para passagem de ajuda humanitária.

A ação teria sido coordenada com os EUA, mas organizações internacionais ainda não a confirmaram.

Na última quarta (8), Tel Aviv disse que havia reaberto a passagem de Kerem Shalom após fechá-la por causa de um ataque do Hamas no fim de semana anterior, mas a ONU nunca confirmou o retorno do fluxo humanitário no local em um momento em que todas os pontos de entrada do território palestino estavam bloqueados. Segundo o escritório de ajuda humanitária da entidade multilateral (Ocha, na sigla em inglês), nenhum caminhão com suprimentos entrou em Gaza entre os dias 6 e 9 de maio.

Também no domingo (12), o Egito anunciou que vai apoiar formalmente a ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ, mais conhecida como Corte de Haia) que acusa Israel de genocídio contra os palestinos.

Em comunicado, o regime egípcio afirmou ter decidido se juntar à ação "à luz da expansão em escopo e escala das violações israelenses contra civis em Gaza".

A África do Sul pediu à corte na sexta-feira (10) que ordene que Israel saia de Rafah como parte de medidas emergenciais adicionais.

Com Reuters e The New York Times 

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