Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Rússia diz que EUA enfrentam humilhação na Ucrânia como no Vietnã

Kremlin reage à aprovação na Câmara americana de ajuda no valor de US$ 60 bilhões a Kiev

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Moscou | Reuters

O governo da Rússia disse neste domingo (21) que a aprovação na Câmara dos Estados Unidos de US$ 60,8 bilhões em ajuda à Ucrânia mostra que Washington está "mergulhando muito mais a fundo" numa guerra híbrida contra Moscou. O conflito, segundo o Kremlin, terminará numa humilhação aos americanos semelhante ao que teria ocorrido nos conflitos do Vietnã e do Afeganistão.

A invasão da Ucrânia, ordenada pelo presidente Vladimir Putin em fevereiro de 2022, desencadeou as piores consequências nas relações entre a Rússia e o Ocidente desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, de acordo com diplomatas russos e americanos.

Moradores deixam prédio atingido por bombardeio russo em Dnipro, na Ucrânia - Anatolii Stepanov -19.abr.2024/AFP

Neste sábado (20), a Câmara dos EUA aprovou, com amplo apoio bipartidário, um megapacote de US$ 95 bilhões de auxílio para Ucrânia, Israel e Taiwan. Segundo Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, está claro que Washington quer que a Ucrânia "lute até o último soldado", inclusive com ataques a territórios soberanos russos e a civis.

"A imersão de Washington na guerra híbrida contra a Rússia está cada vez mais profunda e se transformará num fiasco ruidoso e humilhante para os EUA, como ocorreu no Vietnã e no Afeganistão", disse Zakharova.

Moscou, acrescentou ela, dará "uma resposta incondicional e resoluta" à iniciativa dos EUA de se envolverem ainda mais no conflito em curso no Leste Europeu.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, por sua vez, instou Washington, neste domingo, a transformar rapidamente as medidas em lei e prosseguir com a transferência de armamentos, enfatizando que armas de longo alcance e sistemas de defesa aérea são as prioridades.

Numa entrevista à rede americana NBC, Zelenski disse que a aprovação final do pacote enviaria uma "mensagem poderosa" à Rússia de que Washington apoia Kiev e de que o conflito não terminará como "um segundo Afeganistão".

"Penso que este apoio irá realmente fortalecer as Forças Armadas da Ucrânia e teremos uma oportunidade de vitória", disse Zelenski, com a ajuda de um tradutor, ao reforçar pedidos aos parlamentares dos EUA para tomarem medidas rápidas que possam aprovar o projeto no Senado.

"Precisamos que seja aprovado pelo Senado para que possamos obter alguma assistência tangível para os soldados na linha de frente o mais rápido possível, e não daqui a seis meses."

O diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, William Burns, alertou na semana passada que, sem mais apoio militar dos EUA, a Ucrânia poderia acumular derrotas no campo de batalha, mas que, com o auxílio, as forças de Kiev poderiam resistir às forças invasoras este ano.

Os EUA descartaram repetidas vezes a possibilidade de enviar as suas próprias tropas ou de outros membros da Otan, a aliança militar ocidental, para a Ucrânia, que trava uma guerra de artilharia e drones contra a Rússia ao longo de uma frente de 1.000 quilômetros.

Na Guerra do Vietnã, ocorrida de 1955 a 1975, os EUA perderam mais de 58 mil militares. O conflito terminou com a vitória do Vietnã do Norte, comunista, que tomou a porção sul. Centenas de milhares de civis foram mortos.

Na guerra de 2001 a 2021 no Afeganistão, os EUA relataram 2.459 mortos e mais de 20 mil feridos no campo de batalha. O conflito terminou com a retirada das forças da coligação liderada pelos EUA e o regresso ao poder do movimento islâmico Talibã.

Guerra da Ucrânia

A Rússia controla agora cerca de 18% da Ucrânia, ao leste e ao sul do país vizinho, e tem ganhado terreno desde o fracasso da contraofensiva lançada por Kiev no ano passado.

O governo ucraniano tem implorado há meses aos EUA para que liberem mais dinheiro e armas que possam ser usados nos combates contra as tropas russas, embora o Kremlin tenha afirmado que a ajuda americana não mudará o curso final da guerra.

Zakharova afirmou que os ucranianos comuns estavam sendo "conduzidos à força ao massacre como bucha de canhão ", mas que os EUA não apostavam mais na vitória ucraniana contra a Rússia. Washington, disse ela, esperava que a Ucrânia pudesse aguentar até as eleições presidenciais dos EUA, em novembro.

Ainda segundo Zakharova, a ajuda para Taiwan "é uma interferência nos assuntos internos da China". Já os recursos para Israel seriam "um caminho direto para a escalada e um aumento sem precedentes da tensão" no Oriente Médio.

O pacote aprovado pelo Congresso americano neste sábado inclui medidas que permitiriam aos EUA confiscar bens russos no valor de bilhões de dólares congelados pelas sanções impostas a Moscou. Zakharova chamou isso de roubo, acrescentando que os verdadeiros beneficiários de todo o pacote foram as empresas de defesa dos EUA.

No sábado, depois da aprovação das medidas, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, disse à agência de notícias russa Tass que o pacote deixaria os EUA mais ricos, além de arruinar ainda mais a Ucrânia e resultar em mais mortes.

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