O Partido Cívico de Hong Kong, um dos maiores pró-democracia do território, anunciou neste sábado (27) sua dissolução. A decisão veio após 30 dos 31 membros da legenda votarem pelo fim da organização –o 31º se absteve na votação.
"Depois de concluir procedimentos, o Partido Cívico desaparecerá", escreveu o presidente e cofundador Alan Leong. "Esperamos que o povo de Hong Kong viva o momento com um coração esperançoso e não muito pesado. Viva a verdade e acredite no amanhã."
O anúncio deste sábado faz parte de uma trajetória quase inevitável. Isso porque, em 2020, a China impôs a chamada lei de segurança nacional em Hong Kong, que busca conter atos de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras –a legislação foi imposta meses depois de protestos massivos contra o regime.
Desde então, vários ativistas foram presos, incluindo membros do Partido Cívico. Os ex-legisladores Alvin Yeung e Jeremy Tam, por exemplo, foram detidos por mais de dois anos, enquanto outra liderença importante da legenda, Margaret Ng, foi condenada por organizar e participar dos protestos de 2019.
Nesse contexto, outros correligionários da sigla de 17 anos fugiram para o exílio. Após as prisões, Yeung e Tam defenderam a dissolução do próprio partido, argumentando que a medida ajudaria a proteger os membros de possíveis processos.
Depois, a China reformulou em 2021 o sistema eleitoral de Hong Kong, reduzindo a representação democrática no território e introduzindo um mecanismo para vetar a participação de críticos de Pequim na política local.
Autoridades chinesas e de Hong Kong (aliadas de Pequim) descreveram a reforma eleitoral como um passo democrático para garantir que apenas patriotas pró-China governem Hong Kong.
Os critérios de patriotismo, porém, não eram os mesmos da legenda hoje dissolvida. Fundado em 2006, o Partido Cívico foi uma grande força democrática de Hong Kong, dividindo com o Partido Democrata um forte desempenho nas políticas legislativas da região.
O partido era conhecido por representar advogados, contadores e acadêmicos locais e considerado uma voz democrática mais moderada que atraía muitos eleitores de classe média da região.
A legenda defendeu a causa do sufrágio universal e o Estado de Direito desde a sua fundação e conquistou mais de 70 assentos no Conselho Legislativo durante sete eleições.
"Tínhamos os olhos fixos no marco da democracia", acrescentou Leong no comunicado deste sábado. "Enquanto a democracia não for alcançada, esperamos que os conceitos de responsabilidade e governo aberto sejam adequadamente apresentados ao povo."
De acordo com Leong, os ativos do partido serão doados para instituições de caridade quando a liquidação for concluída.
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